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19/04/2007
-
09h35
RAFAEL GARCIA
da Folha de S.Paulo
Os pesquisadores brasileiros que conseguiram tratar pacientes de diabetes tipo 1 com sucesso usando células-tronco estão sendo alvejados por pesquisadores americanos. As críticas, publicadas na próxima edição da revista de notícias de ciência "New Scientist", afirmam que o teste clínico do tratamento não ofereceu provas da eficácia e expôs os pacientes a riscos proibitivos.
O grupo do pesquisador Julio Cesar Voltarelli, da Faculdade de Medicina da USP de Ribeirão Preto, havia anunciado na semana passada o sucesso da técnica. Os brasileiros publicaram um estudo no prestigiado periódico "Jama", da Associação Médica Americana. No texto, descreveram como um tratamento combinado de células-tronco adultas, da medula óssea dos próprios pacientes com drogas imunossupressoras, fez com que 14 voluntários ficassem livres da necessidade de tomar insulina diariamente.
Para os críticos, porém, o estudo carece de evidências. O sucesso, dizem, pode estar relacionado a um efeito apelidado de "lua-de-mel". Trata-se de um período limitado em que pacientes novos de diabetes conseguem deixar de tomar insulina, antes de se tornarem totalmente dependentes dela.
"Uma lua-de-mel do diabetes pode durar meses", disse à Folha Lainie Ross, da Universidade de Chicago, uma das cientistas consultadas pela "New Scientist" para fundamentar a reportagem de ontem. Segundo ela e outro crítico, Kevan Harold, da Universidade Yale, os benefícios mostrados podem ser transitórios, reflexo de drogas imunossupressoras usadas para colocar voluntários em condição de tratamento.
Como o teste clínico brasileiro não usou dados sobre um "grupo-controle" --indivíduos que não recebem o tratamento testado, para efeito de comparação--, o estudo foi alvo de crítica até mesmo do editorial do "Jama". No mais, o periódico foi bem favorável a Voltarelli.
Efeito raro
Para o pesquisador da USP, porém, essa fragilidade não compromete o estudo. "A imunossupressão isolada já foi usada em vários estudos, mas nunca se chegou a um resultado igual ao nosso", diz. "Na lua-de-mel, o paciente pára com a insulina por algumas semanas, ou dois ou três meses no máximo, mas nós temos pacientes que já estão assim há três anos."
Além disso, afirma, o efeito é raro, muito improvável de acontecer num grupo de 14 dos 15 pacientes submetidos ao tratamento com células-tronco. "Nós tínhamos planejado um grupo-controle. Não conseguimos formá-lo porque os pacientes que não concordaram com o transplante também não se dispuseram a ser acompanhados", diz Voltarelli. Um grupo-controle deve ser montado para a próxima etapa do estudo, que envolverá crianças.
O plano para um teste clínico com menores de 12 anos, aliás, foi outro alvo de críticas. "Menores só devem ser recrutados se a doença pesquisada for uma que afete crianças (o que é o caso), ou se a pesquisa não pode ser feita em adultos (o que não procede)", diz Ross.
"Isso é bobagem", rebate Voltarelli. "A doença do adulto é muito diferente da doença de criança." Segundo ele, a falta de voluntários jovens na fase inicial da pesquisa foi até criticada durante a apresentação do trabalho em congressos.
Para o brasileiro, os ataques são fruto da onda de desconfiança contra a ciência de países em desenvolvimento. O problema foi desencadeado pela fraude do sul-coreano Woo-Suk Hwang (a falsa clonagem de embriões em 2005) e por testes na China que, de fato, desrespeitam normas de segurança. "Eles [os americanos] colocam todo mundo no mesmo bolo: a Ásia e a América Latina, que eles tratam como cucarachas", diz Voltarelli.
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da Folha de S.Paulo
Os pesquisadores brasileiros que conseguiram tratar pacientes de diabetes tipo 1 com sucesso usando células-tronco estão sendo alvejados por pesquisadores americanos. As críticas, publicadas na próxima edição da revista de notícias de ciência "New Scientist", afirmam que o teste clínico do tratamento não ofereceu provas da eficácia e expôs os pacientes a riscos proibitivos.
O grupo do pesquisador Julio Cesar Voltarelli, da Faculdade de Medicina da USP de Ribeirão Preto, havia anunciado na semana passada o sucesso da técnica. Os brasileiros publicaram um estudo no prestigiado periódico "Jama", da Associação Médica Americana. No texto, descreveram como um tratamento combinado de células-tronco adultas, da medula óssea dos próprios pacientes com drogas imunossupressoras, fez com que 14 voluntários ficassem livres da necessidade de tomar insulina diariamente.
Para os críticos, porém, o estudo carece de evidências. O sucesso, dizem, pode estar relacionado a um efeito apelidado de "lua-de-mel". Trata-se de um período limitado em que pacientes novos de diabetes conseguem deixar de tomar insulina, antes de se tornarem totalmente dependentes dela.
"Uma lua-de-mel do diabetes pode durar meses", disse à Folha Lainie Ross, da Universidade de Chicago, uma das cientistas consultadas pela "New Scientist" para fundamentar a reportagem de ontem. Segundo ela e outro crítico, Kevan Harold, da Universidade Yale, os benefícios mostrados podem ser transitórios, reflexo de drogas imunossupressoras usadas para colocar voluntários em condição de tratamento.
Como o teste clínico brasileiro não usou dados sobre um "grupo-controle" --indivíduos que não recebem o tratamento testado, para efeito de comparação--, o estudo foi alvo de crítica até mesmo do editorial do "Jama". No mais, o periódico foi bem favorável a Voltarelli.
Efeito raro
Para o pesquisador da USP, porém, essa fragilidade não compromete o estudo. "A imunossupressão isolada já foi usada em vários estudos, mas nunca se chegou a um resultado igual ao nosso", diz. "Na lua-de-mel, o paciente pára com a insulina por algumas semanas, ou dois ou três meses no máximo, mas nós temos pacientes que já estão assim há três anos."
Além disso, afirma, o efeito é raro, muito improvável de acontecer num grupo de 14 dos 15 pacientes submetidos ao tratamento com células-tronco. "Nós tínhamos planejado um grupo-controle. Não conseguimos formá-lo porque os pacientes que não concordaram com o transplante também não se dispuseram a ser acompanhados", diz Voltarelli. Um grupo-controle deve ser montado para a próxima etapa do estudo, que envolverá crianças.
O plano para um teste clínico com menores de 12 anos, aliás, foi outro alvo de críticas. "Menores só devem ser recrutados se a doença pesquisada for uma que afete crianças (o que é o caso), ou se a pesquisa não pode ser feita em adultos (o que não procede)", diz Ross.
"Isso é bobagem", rebate Voltarelli. "A doença do adulto é muito diferente da doença de criança." Segundo ele, a falta de voluntários jovens na fase inicial da pesquisa foi até criticada durante a apresentação do trabalho em congressos.
Para o brasileiro, os ataques são fruto da onda de desconfiança contra a ciência de países em desenvolvimento. O problema foi desencadeado pela fraude do sul-coreano Woo-Suk Hwang (a falsa clonagem de embriões em 2005) e por testes na China que, de fato, desrespeitam normas de segurança. "Eles [os americanos] colocam todo mundo no mesmo bolo: a Ásia e a América Latina, que eles tratam como cucarachas", diz Voltarelli.
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