Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
 
  Siga a Folha de S.Paulo no Twitter
04/07/2001 - 19h11

Crianças de proveta têm relacionamento melhor com famílias

FABIANE LEITE
enviada especial da Folha a Lausanne

Elas são menos criticadas e rejeitadas e têm melhor relacionamento com os pais do que crianças adotadas ou concebidas naturalmente. Suas famílias são equilibradas, com casamentos duradouros e exigem o nível apropriado de disciplina dos filhos.

Esse é o perfil de crianças nascidas por meio das principais técnicas de reprodução assistida (fertilização in vitro e fecundação com sêmen doado) que estão entrando na adolescência, de acordo com o resultado de estudo europeu inédito de acompanhamento de famílias que recorreram a esses recursos. Foram comparadas 400 crianças adotadas e que nasceram por fertilização in vitro, doação de sêmen e concepção natural.

A pesquisa foi apresentada ontem no 17º Encontro da Sociedade Européia de Reprodução Humana e Embriologia que ocorre em Lausanne, Suíça.

As crianças também demonstraram ser menos agressivas com os amigos do que aquelas que foram concebidas naturalmente.

O estudo, realizado nos últimos dez anos, envolveu pesquisadores da Inglaterra, Itália, Espanha e Holanda, que avaliaram as crianças em duas fases: entre quatro e oito anos (a média foi de seis anos) e dos 11 aos 12 anos.

O início da adolescência foi escolhido por ser um período importante para o desenvolvimento social e emocional.

Já na primeira fase, os resultados eram bons. "Os resultados mostraram que essas crianças tão desejadas estão vivendo bem e são muito amadas por seus pais", disse Susan Golombok, diretora do Centro de Pesquisa da Psicologia da Família e da Criança da City University de Londres.

Os cientistas se preocuparam em avaliar possíveis anormalidades físicas causadas pelas técnicas, mas ainda não tinham uma análise do desenvolvimento psicológico dos pais e filhos, disse Susan. Suspeitava-se que os pais pudessem ter expectativas irreais e exagerar na proteção às crianças, problema que apareceu com baixa frequência no estudo.

Naquelas nascidas por meio da doação de gametas, o temor era de que os pais não dessem a mesma atenção aos filhos em razão de as crianças terem também a carga genética de uma outra pessoa, o que também não foi confirmado nesse estudo.

A mensuração da qualidade do relacionamento foi baseada em critérios relacionados ao empenho na criação dos filhos e na disciplina exigida. As famílias _com perfis variados, incluindo casais de lésbicas_ responderam a questionários para medir a afeição e os conflitos nos relacionamentos. Professores das crianças também foram consultados.

Segundo Susan, no entanto, a dimensão da pesquisa é pequena e há um grande número de variáveis não avaliadas.

Na fase final do levantamento, foram comparadas 102 famílias com crianças concebidas por fertilização in vitro, 94 com crianças concebidas por doação de sêmen, 102 famílias que adotaram bebês e outras 102 que tiveram filhos naturais. A pesquisadora não forneceu o número de crianças envolvidas.

Para Susan, a determinação dos pais em ter os filhos é o que explica a alta qualidade dos relacionamentos nessas famílias. "É um grupo de pais que realmente querem ser pais", afirmou.

Segredo

Susan apontou um dado que considera preocupante: no fim do acompanhamento, menos de 10% das 94 famílias que utilizaram a doação de gametas para ter filhos tinham revelado às crianças o procedimento, o que segundo a pesquisadora poderá prejudicar o relacionamento entre pais e filhos.

Naquelas famílias que contaram "a verdade", ocorriam menos discussões entre as crianças e suas mães, que também eram menos severas.

Na primeira fase da pesquisa, quando 111 famílias que receberam doações foram avaliadas, nenhuma havia contado ainda para os filhos sobre o procedimento. Elas temiam que as crianças pudessem gostar menos dos pais se soubessem do segredo e tentavam proteger os homens do "estigma da infertilidade", disse Susan. Estas preocupações continuaram alguns anos depois.

As famílias também relataram que temiam não saber o que dizer aos filhos e quando falar com eles. Em razão das doações serem anônimas, também tinham medo de não saber como identificar os pais genéticos se requisitadas.

"Esses pais não sabem que no futuro até um teste na farmácia vai mostrar as origens genéticas", disse o professor Hans Evers, chairman do encontro europeu.

A repórter Fabiane Leite viajou a convite do laboratório Serono

Leia também:
  • Clonagem pode ajudar casais inférteis
  • Médicos querem evitar casos de gravidez múltipla
  • Uso indevido de técnicas de fertilidade é criticado
  •  

    Publicidade

    Publicidade

    Publicidade


    Voltar ao topo da página