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09/07/2001 - 20h45

Pai da ovelha Dolly propõe moratória à clonagem

ALICIA RIVERA
do "El País"

O cientista britânico Ian Wilmut criou, há cinco anos, a ovelha mais famosa do mundo: Dolly, um animal clonado a partir de uma célula adulta de outra ovelha e, portanto, geneticamente idêntico a ela. Dolly entrou para a história da ciência, levando junto o pesquisador de 57 anos do Instituto Roslin, na Escócia.

Em entrevista concedida em Madri, onde abriu o 10º Congresso Europeu de Biotecnologia, Wilmut afirmou que deveria haver uma moratória mundial à clonagem de seres humanos e que Dolly "não é um bom experimento de clonagem".

Pergunta - Como está Dolly?

Ian Wilmut -
Muito bem. Tentamos tratá-la como uma ovelha normal, mas é difícil, porque temos de cuidar de sua segurança.

Pergunta - Os srs. temem que ela seja sequestrada?

Wilmut -
Temos um monte de problemas no Reino Unido com experimentos científicos usando animais, e as medidas de segurança tornam difícil permitir que Dolly leve uma vida normal.

Pergunta - Alguém está fazendo pesquisas com ela neste momento?

Wilmut -
Não. O problema é que ela é única: não temos nada com o que compará-la, já que o animal do qual ela foi copiada morreu quando Dolly nasceu. Não é um bom experimento de clonagem: se você faz um bem planejado, precisa ter o animal original e várias cópias. Nós provavelmente faremos isso no futuro. Essa é a principal razão para não fazermos estudos com Dolly, mas também existe a questão sentimental.

Pergunta - Qual é a opinião do sr. sobre os problemas que vêm sendo descobertos com os clones? Na sexta-feira passada, foi apresentada uma pesquisa [na revista científica "Science"] onde foram descobertos defeitos genéticos em ratos clonados por meio da mesma técnica que produziu Dolly. [Leia aqui a reportagem.]

Wilmut -
Sabemos que a clonagem é uma técnica muito pouco eficiente: apenas de 1% a 4% dos embriões que são produzidos chegam a se tornar animais vivos. Essa baixa porcentagem se deve a uma combinação de falhas em todos os estágios de gestação. Sabíamos, pelas observações, que muita coisa pode ir mal, mas o trabalho apresentado sexta-feira aponta provas de laboratório precisas de que certos genes funcionam mal em animais clonados. Graças a isso, agora podemos fazer clones e ver nos embriões se os genes funcionam normalmente ou não, sem esperar para ver se os animais vão adiante. Além disso, esse último trabalho é mais uma prova do perigo que é usar essas técnicas para clonar pessoas.

Pergunta - O sr. é contra?

Wilmut -
Hoje em dia é muito perigoso: a clonagem produziria problemas como aborto, nascimento de crianças mortas ou, pior ainda, crianças anormais que sobrevivessem. Tivemos, por exemplo, um cordeiro que nasceu superativo, muito grande e forte e com muita saúde, exceto por um problema: respirava depressa demais, como se estivesse sempre correndo. Não pudemos corrigir o defeito e, depois de 12 dias, decidimos que era melhor sacrificá-lo. As pessoas têm de pensar no que se faria com uma criança assim. De quem seria a responsabilidade por humanos nascidos com esses problemas? Acho que deve haver uma moratória universal contra a clonagem de pessoas e estamos tentando fazer com que governos do mundo todo a proíbam.

Pergunta - E se os problemas técnicos fossem resolvidos?

Wilmut -
Então seria necessário fazer perguntas do tipo: Como vai ser um clone? Você gostaria de ser uma cópia geneticamente idêntica de sua mãe? Trataria um clone de si próprio ou de seu cônjuge do mesmo jeito que outras crianças? Quando o clone chegasse à adolescência ele iria gostar de ver como seria seu aspecto físico aos 40 anos? São preocupações muito sérias, relacionadas com o bem-estar das crianças. É preciso questionar se a clonagem seria justa para elas. A idéia não me agrada.

Pergunta - No que o sr. está trabalhando agora?

Wilmut -
Em várias coisas. Recentemente relatamos o nascimento de um cordeiro com um gene desativado do scrapie, a versão ovina do mal da vaca louca. Isso pode nos ajudar a compreender melhor a doença e controlá-la. Poderíamos desativar o gene para criar animais úteis para a medicina que não transmitissem a doença.

Leia também:
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