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20/08/2001 - 21h36

Centro brasileiro estuda células-tronco de cordão umbilical

da Folha de S.Paulo

Estudo em andamento em Ribeirão Preto (314 km a norte de São Paulo) comprova que nem só de células-tronco embrionárias vive a pesquisa biomédica contra o câncer e outras doenças.

As atenções estão todas voltadas para elas, depois da decisão do presidente norte-americano, George W. Bush, de restringir o financiamento federal nos EUA aos experimentos com linhagens de células já existentes. Mas células-tronco do sangue do cordão umbilical também têm potencial para regenerar vários tipos de tecido e, com isso, repor ou consertar aqueles atacados por tumores.

No CTC (Centro de Terapia Celular), localizado em Ribeirão Preto, os cientistas desenvolvem várias linhas de pesquisa utilizando como matéria-prima a célula-tronco que está presente no sangue do feto, que fica retido no cordão umbilical e é descartado com a placenta após o parto.

O CTC é um dos integrantes do grupo de dez Cepids (Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão) criados no ano passado pela Fapesp, a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo.
élula-tronco vem a ser o nome geral de células precursoras que retêm a capacidade de se transformar em outras, mais diferenciadas (ou seja, de tecidos específicos do corpo).

"Não se sabe exatamente a razão, mas o sangue do feto é mais rico em células-tronco", explica o diretor científico do CTC, o médico Marco Antônio Zago, professor da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da USP.

As células-tronco presentes no sangue são chamadas de células-tronco hematopoiéticas. Elas dão origem aos vários tipos de célula sanguínea (hemácias, linfócitos e plaquetas são alguns exemplos). Podem, ainda, gerar outros tecidos, como o muscular.

Segundo Zago, no CTC os pesquisadores estão interessados no uso de células-tronco para o desenvolvimento de terapias contras as seguintes doenças: talassemia, anemia falciforme, doenças autoimunes (como o lupus eritematoso) e leucemias.

Vacina anticâncer

A LMC (leucemia mielóide crônica) é um dos alvos do grupo. "É a leucemia mais bem caracterizada molecularmente", afirma a bióloga Aparecida Maria Fontes, do CTC, uma das responsáveis pelo projeto em busca de uma vacina para o tratamento da doença a partir de células-tronco.

Nos últimos meses, foi muito divulgado um medicamento conhecido como Glivec, justamente por apresentar resultados bastante promissores no combate à LMC. Fontes, no entanto, vê com certo receio o emprego só de quimioterápicos contra o câncer.

"O organismo, depois de um certo tempo, desenvolve mecanismos de resistência à droga, o que leva ao aumento das doses e à perda da eficiência no tratamento." Para Fontes, o ideal seria combinar a quimioterapia com outras formas de tratamento, em especial a imunoterapia.

"No paciente com LMC, um tipo de célula responsável pela ativação do sistema imunológico [célula dendrítica] _que deveria combater as células cancerosas_ não faz seu trabalho de maneira eficiente. Por isso, queremos 'engenheirar' essas células para torná-las aptas a cumprir seu papel."

O primeiro passo do projeto foi gerar células dendríticas a partir das células-tronco do sangue. "Já estabelecemos as condições que levam à diferenciação de células-tronco em células dendríticas."

A etapa seguinte será a transformação dessas células com o gene que codifica a proteína BCR/ABL, responsável pelo surgimento da LMC, de modo que as células apresentem uma superprodução da proteína, para, depois, serem introduzidas no paciente com leucemia. O truque do tratamento está no fato de o gene a ser introduzido nas células dendríticas constituir-se, na verdade, de um gene alterado no laboratório. Parte de sua sequência foi eliminada, de modo que a proteína produzida a partir dele não seja funcional, isto é, não leve ao câncer.

Apesar de não causar a doença, pelo fato de ser superexpressa (como dizem os cientistas), a proteína torna as células dendríticas que a produzem mais eficientes no seu papel: alertar o sistema imune (de defesa) para que destrua todas as células do paciente que tenham a proteína completa.

"Estamos criando uma vacina que não é preventiva, mas sim terapêutica, que trata a doença", explica Fontes.

Em paralelo a esse estudo, os pesquisadores do CTC procuram os genes que estão ativos de forma diferenciada nas células-tronco do sangue de cordão umbilical e nas células dendríticas. A informação é importante para a compreensão do processo de diferenciação dessas células e para o aprimoramento de sua utilização em técnicas terapêuticas.

(ISABEL GERHARDT)

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