Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
 
  Siga a Folha de S.Paulo no Twitter
26/12/2004 - 09h27

Trecho da BR-116 é "terra de ninguém"

Publicidade

JOSÉ MASCHIO
da Agência Folha, em Barra do Turvo

A má conservação, aliada à falta de efetivo da Polícia Rodoviária Federal e à ação de guincheiros e saqueadores, transformou em "terra de ninguém" um trecho paulista, de 45 quilômetros, da rodovia Régis Bittencourt, a BR-116. Os usuários estão à mercê da própria sorte para percorrer o trajeto entre o km 523 e o km 568, na região de Barra do Turvo, divisa com o Paraná.

Há placas de sinalização jogadas ao lado da rodovia e é comum encontrar óleo derramado na pista. A situação se agrava com a ação de guincheiros e moradores das margens da rodovia, acusados de tentar provocar acidentes para saquear caminhões.

"Existe, efetivamente, o abuso por parte de guincheiros e não é nenhuma coincidência que tenham surgido povoações nas proximidades das curvas mais perigosas. Existe uma população que vive do saque de veículos acidentados", diz Juarez Barbosa Ferreira Cardoso, chefe do Núcleo de Policiamento e Fiscalização da 5ª Delegacia da PRF (Polícia Rodoviária Federal) em Registro (231 km a sudoeste de São Paulo).

A solução para essas irregularidades esbarra no jogo de empurra entre os diversos órgãos federais responsáveis pelas rodovias nacionais. A ANTT (Agência Nacional de Transportes Terrestres) afirma só se responsabilizar pela parte privatizada da BR.

A Unit-SP, vinculada ao Dnit (Departamento Nacional de Infra-estrutura de Transportes), autarquia do Ministério dos Transportes, tem responsabilidade sobre a manutenção e conservação e não se envolve na ação de guincheiros e de saqueadores.

A Polícia Rodoviária Federal, responsável pela segurança, alega falta de efetivo para melhorar o patrulhamento.

Nos dias 20 e 21 deste mês, quando a reportagem da Folha foi à região, havia apenas dois policiais em serviço: um no posto de fiscalização para atendimento aos usuários, e outro em um carro, socorrendo motoristas acidentados e autuando infratores. No último dia, houve oito acidentes em apenas três horas.

Polícia

Usuários da estrada levantam a suspeita de envolvimento de policiais em um esquema com os guincheiros.

O motorista Agnaldo Lopes, 52, de São Bernardo do Campo (região metropolitana de São Paulo), diz existir uma "rede criminosa" na Régis Bittencourt, também conhecida como "rodovia da morte". "Eu já presenciei gente jogando óleo na pista. A cada acidente fica mais evidente que existem policiais ligados aos guincheiros."

Embora isso seja ilegal, de acordo com o regimento da própria polícia, o policial Mauro Finotti, 52, é ligado a uma empresa de guincho. Finotti afirma que a Auto Socorro MF (suas iniciais) é de familiares. Ele não explicou, porém, porque o telefone da empresa está em seu nome.

Com 14 guinchos, a Auto Socorro MF atende a 14 companhias de seguros. Finotti afirma que a empresa trabalha "somente com seguradoras, dentro da lei, ao contrário de uma máfia que existe na região de Barra do Turvo [a 375 km a sudoeste de São Paulo]". A sede da empresa fica no km 439 da Régis Bittencourt, em Registro.

Segundo Finotti, em Barra do Turvo existem guincheiros que vivem da "extorsão" dos usuários, do roubo de carga e de saques a caminhões acidentados. E aponta um colega de trabalho, cujo padrasto tem "seis guinchos nesse esquema". O colega de Finotti está sendo investigado pela Polícia Rodoviária Federal. Como o processo está no início e ele não foi acusado formalmente, a PRF não forneceu seu nome.

Outro lado

O corregedor da Polícia Rodoviária Federal em São Paulo, inspetor Francisco Charles Lindenberg Magalhães Pires, 33, disse que existe um policial federal, da região de Barra do Turvo, sendo investigado por ligações com guincheiros. Ele admitiu também existir na região problemas com saques e roubos de carga.

"A investigação está sendo iniciada. Não dá para acusar ninguém ainda", disse Pires.

O corregedor disse que uma equipe da inteligência da Polícia Rodoviária Federal esteve na região investigando se há derramamento deliberado de óleo na pista para provocar acidentes. "Não se obteve indícios desse procedimento na região. É evidente que existe óleo, mas isso se deve aos acidentes e ao fato de a maioria dos caminhões, com tanque cheio, derramar o produto em um trecho mais acidentado."

Em 2001, foram presas duas pessoas com óleo diesel no trecho paranaense da pista da BR-116. Segundo Juarez Barbosa Ferreira Cardoso, chefe do Núcleo de Policiamento e Fiscalização em Registro, foi daí que surgiu "o mito de que pessoas jogam óleo na pista".

O inspetor Moysés da Silva Oliveira, 40, chefe do Núcleo de Comunicação da Superintendência de São Paulo, disse que o Ministério da Justiça irá regulamentar, a partir de janeiro, a ação de guinchos nas estradas federais.

A unidade do Dnit (Departamento Nacional de Infra-Estrutura de Transportes), em São Paulo, informou que, até o início de março, o trecho entre os kms 523 e 568 da BR-116 estará duplicado. Para isso, falta concluir a construção de três pontes e de um viaduto.

Especial
  • Leia o que já foi publicado sobre a Régis Bittencourt
  •  

    Publicidade

    Publicidade

    Publicidade


    Voltar ao topo da página