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09/03/2005 - 23h26

Chuva e deslizamento ameaçam patrimônio histórico em Minas Gerais

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THIAGO GUIMARÃES
da Agência Folha, em Belo Horizonte

Patrimônio cultural da humanidade desde 1985, o Santuário do Bom Jesus do Matosinhos, em Congonhas (89 km a sul de Belo Horizonte), está sob risco de desabamento. A situação se agravou na semana passada, com a queda de um barranco na parte inferior do conjunto histórico.

O muro de contenção da encosta cedeu por volta das 21h de sexta-feira, após três dias consecutivos de chuvas na cidade. O deslizamento de terra levou parte do piso e das muretas de proteção do local, chegando a soterrar um carro. O trecho atingido fica a 10 metros de duas das seis capelas do santuário.

Laudo de vistoria feita na segunda-feira pela engenheira do Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) Silvia Puccini identifica como causa do acidente a erosão provocada pela "infiltração contínua" de águas na pavimentação do terreno. O documento afirma também que o muro destruído não tinha sistema de drenagem --buracos para o escoamento de água.

Segundo o laudo, há trincas no terreno atingido direcionadas para a capela da Santa Ceia e para a primeira casa do Beco dos Canudos, que termina bem ao lado da encosta. "É, portanto, urgente, a correção dos danos ocorridos no talude [barranco] para que não venham a comprometer a integridade do monumento", diz o laudo.

Puccini disse, em entrevista à Folha que a área atingida pelo deslizamento é "muito maior" do que a parte visível, daí o "risco grande" de novos acidentes em caso de chuvas. "Por baixo do piso está oco." Ela afirmou que há problemas de drenagem em outros pontos do santuário, inclusive na basílica de Bom Jesus.

Aviso

No dia do deslizamento, a construtora Biapó, responsável pela restauração do conjunto --que está em fase final--, enviou ofício à prefeitura e ao Iphan pedindo uma vistoria urgente na pracinha do Beco dos Canudos, lugar do acidente. "Notamos que a situação da encosta tem se agravado nos últimos dias. (...) Há necessidade de sanar o problema antes que haja algum acidente no local", afirma o ofício.

A carta da construtora, assinada pela arquiteta Silvana Souza, informa que o pedido de vistoria já havia sido feito em 3 de fevereiro. A Prefeitura de Congonhas e o Iphan afirmam que as trincas no terreno vinham sendo monitoradas, mas as chuvas agravaram subitamente o quadro.

Segundo o secretário de Obras de Congonhas, Afonso Gurgel, o deslizamento foi resultado de intervenções irregulares realizadas no local ao longo dos anos. O muro de contenção, por exemplo, teria sido executado sem projeto. Gurgel disse que o terreno possui um dono, mas informou que a pesquisa do nome poderia ser concluída apenas nesta quinta-feira.

A chefe do Iphan em Congonhas, Susana Santana, disse desconhecer quem é o proprietário. "Isso tem que ser apurado."

Para o padre Benedito Rocha, reitor da basílica de Bom Jesus, o problema era previsível desde a construção do muro, que teria sido mal feito. "Tanto a prefeitura como o patrimônio [Iphan] já sabiam disso."

A prefeitura informou que a parte atingida será interditada, mas os limites de isolamento ainda serão definidos. Não há ainda cronograma previsto para as obras de drenagem e de construção do novo muro, que só devem começar após a Semana Santa, quando a cidade recebe, em média, 40 mil visitantes em quatro dias.

Obra

O Santuário do Bom Jesus do Matosinhos, em Congonhas (MG), é considerado a obra-prima de Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho (1738-1814), iniciada em 1757. É também um dos dez sítios culturais brasileiros inscritos na Lista do Patrimônio Mundial da Unesco (braço da ONU para educação, ciência e cultura).

Localizado no alto de uma colina, o conjunto é formado pela basílica de Bom Jesus, uma escadaria externa decorada pelas estátuas em pedra-sabão dos 12 profetas e seis capelas com esculturas em madeira policromada representando os passos da Paixão de Cristo. As duas capelas ameaçadas pela queda de encosta ilustram a Santa Ceia e a oração de Jesus no Horto das Oliveiras.

O adro com os profetas, construído entre 1800 e 1805, foi a última etapa do santuário, uma das peças mais importantes do barroco brasileiro. Recentemente, cogitou-se a transferência das estátuas para um abrigo climatizado e a troca por réplicas, para evitar a deterioração das peças. Por ora, a hipótese é descartada pelo Iphan e pela Prefeitura de Congonhas.

Desde 2003, o santuário passa por obras de restauração, orçadas em R$ 1,2 milhão. A conclusão da obra, que integra o programa Monumenta, do governo federal, estava prevista para julho de 2004, mas os trabalhos estão atrasados.

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