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27/03/2005
-
09h22
da Folha de S.Paulo
Atendente de um hospital, Olímpia da Silva, 62, ficou assustada dentro do ônibus, na semana retrasada, quando voltava para casa, em Cidade Tiradentes, na zona leste de São Paulo. O condutor interrompeu a viagem e chamou a polícia por causa de uma briga no coletivo. Motivo do empurra-empurra entre cobrador e usuário: a superlotação. Os dois só não chegaram a se ferir porque não dava nem para se mexer.
"O motorista parava de ponto em ponto e dizia "vai apertando, aperta mais um pouquinho". Não cabia mais ninguém. O cara ficou com raiva, reclamou para o cobrador, e os dois acabaram se atracando", conta ela, que estava sentada, mas se sentia "sufocada". "Está cada dia mais lotado. Eu também estava irritada. Nem ficar sentada adianta mais. As pessoas vêm pra cima, de tão cheio."
A sensação de Olímpia da Silva é traduzida em alguns indicadores que apontam maior lotação dos ônibus paulistanos desde a implantação do bilhete único, que permitiu transferências gratuitas no intervalo de até duas horas.
As estatísticas do sistema de transporte mostram que as médias de passageiros por veículo ou por quilômetro rodado se tornaram as maiores em dez anos.
Os dados se referem ao chamado subsistema estrutural, sob responsabilidade das viações, já que, no subsistema local, dos perueiros, eles não eram calculados.
Se, em novembro de 1999, no governo Celso Pitta, cada ônibus transportava 362 usuários por dia, no mesmo mês de 2004 esse número era 64% superior --592. A situação se repete em janeiro de 2005. Mesmo na comparação com 2002, esse salto ultrapassa 50%. A média das capitais brasileiras, há dois anos, era de 422.
Um pedaço do salto deve ser relativizado por causa das características do bilhete único, que aumenta a proporção de transferências gratuitas --ou seja, passageiros que usavam uma só condução e hoje pegam duas para fazer a mesma viagem, ficando, entretanto, menos tempo em cada--, além de alguns novos veículos maiores que entraram no sistema.
Na prática, as baldeações saltaram de 20% para 50%, embora não seja possível saber quantos desses usuários realmente estão demorando menos em cada ônibus ou somente aproveitando as vantagens do cartão para se deslocar mais no intervalo de duas horas. Essa situação tem impacto de 25% no índice PVD (Passageiros por Veículo por Dia), segundo a prefeitura. Além disso, dos 1.520 ônibus comprados em 2004, 6,5% eram articulados ou biarticulados, com capacidade superior à dos convencionais.
O fato é que, mesmo com essas ressalvas, há mais usuários passando nas catracas e subindo e descendo dos coletivos, condições que lotam mais os veículos e afetam o conforto das viagens.
De um lado, a ocupação maior dos ônibus na fase pós-bilhete único sempre foi vista como um remédio para a ociosidade existente desde a segunda metade dos anos 90 e pode ser uma maneira de evitar a alta dos custos. De outro, especialistas já alertavam que, dependendo da utilização do cartão (mais de 6,5 milhões já foram distribuídos), inevitavelmente haveria menos conforto.
"Não está se fazendo transporte para todo mundo ir sentado. Isso poderia ser um desperdício. Não adianta ter ônibus mais vazio e ser obrigado a aumentar a tarifa", afirma Nazareno Affonso, da ANTP (Associação Nacional de Transportes Públicos), reconhecendo, porém, que esse conceito afasta os usuários de automóveis.
"O motorista só vai deixar seu carro na garagem quando for muito mais vantajoso, quando tiver de pagar para entrar na área central e não tiver preços tão baixos para estacionar", defende.
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Com bilhete único, taxa de lotação de ônibus é a mais alta em 10 anos
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Atendente de um hospital, Olímpia da Silva, 62, ficou assustada dentro do ônibus, na semana retrasada, quando voltava para casa, em Cidade Tiradentes, na zona leste de São Paulo. O condutor interrompeu a viagem e chamou a polícia por causa de uma briga no coletivo. Motivo do empurra-empurra entre cobrador e usuário: a superlotação. Os dois só não chegaram a se ferir porque não dava nem para se mexer.
"O motorista parava de ponto em ponto e dizia "vai apertando, aperta mais um pouquinho". Não cabia mais ninguém. O cara ficou com raiva, reclamou para o cobrador, e os dois acabaram se atracando", conta ela, que estava sentada, mas se sentia "sufocada". "Está cada dia mais lotado. Eu também estava irritada. Nem ficar sentada adianta mais. As pessoas vêm pra cima, de tão cheio."
A sensação de Olímpia da Silva é traduzida em alguns indicadores que apontam maior lotação dos ônibus paulistanos desde a implantação do bilhete único, que permitiu transferências gratuitas no intervalo de até duas horas.
As estatísticas do sistema de transporte mostram que as médias de passageiros por veículo ou por quilômetro rodado se tornaram as maiores em dez anos.
Os dados se referem ao chamado subsistema estrutural, sob responsabilidade das viações, já que, no subsistema local, dos perueiros, eles não eram calculados.
Se, em novembro de 1999, no governo Celso Pitta, cada ônibus transportava 362 usuários por dia, no mesmo mês de 2004 esse número era 64% superior --592. A situação se repete em janeiro de 2005. Mesmo na comparação com 2002, esse salto ultrapassa 50%. A média das capitais brasileiras, há dois anos, era de 422.
Um pedaço do salto deve ser relativizado por causa das características do bilhete único, que aumenta a proporção de transferências gratuitas --ou seja, passageiros que usavam uma só condução e hoje pegam duas para fazer a mesma viagem, ficando, entretanto, menos tempo em cada--, além de alguns novos veículos maiores que entraram no sistema.
Na prática, as baldeações saltaram de 20% para 50%, embora não seja possível saber quantos desses usuários realmente estão demorando menos em cada ônibus ou somente aproveitando as vantagens do cartão para se deslocar mais no intervalo de duas horas. Essa situação tem impacto de 25% no índice PVD (Passageiros por Veículo por Dia), segundo a prefeitura. Além disso, dos 1.520 ônibus comprados em 2004, 6,5% eram articulados ou biarticulados, com capacidade superior à dos convencionais.
O fato é que, mesmo com essas ressalvas, há mais usuários passando nas catracas e subindo e descendo dos coletivos, condições que lotam mais os veículos e afetam o conforto das viagens.
De um lado, a ocupação maior dos ônibus na fase pós-bilhete único sempre foi vista como um remédio para a ociosidade existente desde a segunda metade dos anos 90 e pode ser uma maneira de evitar a alta dos custos. De outro, especialistas já alertavam que, dependendo da utilização do cartão (mais de 6,5 milhões já foram distribuídos), inevitavelmente haveria menos conforto.
"Não está se fazendo transporte para todo mundo ir sentado. Isso poderia ser um desperdício. Não adianta ter ônibus mais vazio e ser obrigado a aumentar a tarifa", afirma Nazareno Affonso, da ANTP (Associação Nacional de Transportes Públicos), reconhecendo, porém, que esse conceito afasta os usuários de automóveis.
"O motorista só vai deixar seu carro na garagem quando for muito mais vantajoso, quando tiver de pagar para entrar na área central e não tiver preços tão baixos para estacionar", defende.
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