Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
 
  Siga a Folha de S.Paulo no Twitter
17/04/2005 - 09h06

Oito meses depois, sobrevivente do massacre na Sé volta a viver nas ruas

Publicidade

GILMAR PENTEADO
da Folha de S.Paulo

Sobreviventes do massacre de moradores de rua, crime que há oito meses chocou o país e ganhou repercussão internacional, voltaram a viver nas ruas de São Paulo. Tão vulneráveis quanto antes e sem que os assassinatos tenham sido esclarecidos.

Em ao menos duas madrugadas de agosto de 2004, sete pessoas foram mortas com golpes na cabeça enquanto dormiam em ruas das proximidades da praça da Sé, no centro da cidade. Outras oito, atacadas da mesma forma, ficaram gravemente feridas.

Três dos sobreviventes deixaram abrigos municipais, onde por vários meses viveram sob proteção policial, e desapareceram.

Na última quinta-feira à noite, um quarto sobrevivente foi localizado pela Folha, com a ajuda da irmã dele. Estava deitado em uma calçada, embriagado e enrolado em um lençol, nas proximidades do local onde foi agredido enquanto dormia, no ano passado.

D.G.S., 44 --os nomes e os locais não são divulgados pela reportagem, por segurança--, havia sido retirado de um abrigo pela irmã em outubro de 2004, mas voltou à rua na terça-feira.

Apenas os sobreviventes com graves seqüelas das agressões não voltaram às ruas. Um deles, que perdeu a mobilidade de um dos braços e não consegue andar, continua internado em um hospital. Outro se recupera em um abrigo com tratamento médico.

Segundo a prefeitura, outra vítima foi retirada do abrigo por uma igreja evangélica, mas não há informações sobre o seu destino nem se voltou para a rua.

Ninguém está preso pelo massacre, que, na época, mobilizou prefeitura, Estado e até o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos. Ainda não se sabe nem mesmo a motivação dos ataques.

As suspeitas iniciais de envolvimento com o tráfico de drogas na região central e da disputa por pontos de segurança clandestina não foram confirmadas.

Dois policiais militares e um amigo deles chegaram a ser presos, mas estão soltos há cerca de um mês, segundo a Polícia Civil.
Em novembro, o Ministério Público considerou as provas da polícia insuficientes e pediu a liberdade dos suspeitos.

Os mesmos policiais militares continuaram na cadeia por outra acusação --formação de quadrilha, concussão e receptação de material roubado--, mas essa prisão também foi revogada há cerca de um mês. Para a Polícia Civil, os PMs continuam sendo os principais suspeitos do crime.

Segundo o padre Júlio Lancellotti, da Pastoral do Povo da Rua, os moradores de rua não podem ser trancados nos abrigos, mas a rede municipal tem de monitorá-los, por medida de segurança.

"Se eles saíram dos abrigos, é preciso saber para onde foram e com quem. Os autores do crime não foram presos, e os moradores podem estar em risco novamente", disse o padre. Ele afirma, inclusive, que a rede municipal de assistência deveria ter prestado apoio à família de D., para evitar que ele voltasse para as ruas.

Para a advogada Michael Mary Nolan, integrante do Condepe (Conselho Estadual dos Direitos da Pessoa Humana), o retorno dos sobreviventes à rua revela, além do problema da segurança das vítimas, o "descaso da sociedade com os excluídos".

"Se vão embora dos abrigos, é porque eles não atendem às suas expectativas. A coisa piorou depois do massacre, cresceu a idéia de "limpar" a cidade", disse.

Desde o massacre, entidades marcam o dia 19 de cada mês com manifestações para cobrar o esclarecimento do caso. Na próxima terça-feira, as entidades se reunirão na praça da Sé e depois na Procuradoria Geral de Justiça.

"O massacre do Rio [chacina com 29 mortes] tem solução, o massacre do Pará [da freira Dorothy Stang e de trabalhadores rurais] tem solução. Só o de São Paulo não tem. Algo muito estranho acontece por aqui", afirmou Lancellotti.

Especial
  • Leia o que já foi publicado sobre o massacre dos moradores de rua em SP
  •  

    Publicidade

    Publicidade

    Publicidade


    Voltar ao topo da página