Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
 
  Siga a Folha de S.Paulo no Twitter
17/04/2005 - 09h17

Maioria dos pobres do Rio não é favelada

Publicidade

da Folha de S. Paulo, no Rio

Mesmo que o poder público erradicasse a pobreza das favelas cariocas, haveria ainda muito a fazer. Tabulações do Instituto Pereira Passos, órgão ligado à Prefeitura do Rio de Janeiro, mostram que a maioria dos pobres da cidade não vive em favelas.

Dos 349 mil cariocas que, segundo o Censo do IBGE (Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) de 2000, vivem com renda média per capita inferior a um salário mínimo, 225 mil, ou 64%, não moram nas favelas.

Os pobres fora de favelas na cidade do Rio estão espalhados por diversos bairros, mas se concentram principalmente em áreas da zona oeste (como Campo Grande, Santa Cruz e Bangu) e da zona norte (como Madureira e Penha).

Para o diretor de informações geográficas do Instituto Pereira Passos, Sérgio Besserman, o fato de haver mais pobres fora das favelas não significa, de maneira alguma, que a questão da pobreza nas favelas deva ser minimizada ou colocada em segundo plano para priorizar a população do restante da cidade. Para ele, é preciso expandir os trabalhos em torno da população favelada sem focar somente na questão da renda.

"Da mesma forma como o combate à pobreza na cidade não pode se limitar à favela, a política pública para a favela não pode ser apenas de combate à pobreza", diz Besserman.

Ele lembra também que, proporcionalmente, a pobreza é maior nas favelas. Dentro delas, a proporção de moradores que viviam em 2000 com menos de um salário mínimo per capita era de 43%. Fora, caía para 15%.

Para Itamar Silva, coordenador do Ibase (Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas), é preciso analisar com cuidado esse dado para não correr o risco de estabelecer uma espécie de disputa entre os pobres que moram dentro e fora da favela.

"Para você conseguir qualquer direito, tem que fazer o discurso da pobreza. Não é a toa que vários moradores de favela acabam mentindo na hora de conseguir auxílio e fazem o discurso da pobreza absoluta", diz Silva.

"Esses auxílios, no entanto, deveriam ser oferecidos como um direito dessa população e um reconhecimento da falta de investimento por anos nessas áreas. Não podemos achar que o Estado já cumpriu com o seu dever nas favelas", complementa.

Nativos x migrantes

A população que vive nas favelas também não pode ser encarada como se formasse um grupo social homogêneo.

Os dados do Instituto Pereira Passos a partir do censo do IBGE mostram que há significativas diferenças entre os que nasceram no Rio e os que migraram para essas áreas da cidade.

A taxa de analfabetismo em favelas entre moradores do Rio, por exemplo, é de 5%, muito próxima dos 3% verificados em toda a cidade. Entre os que não nasceram na cidade e vivem em favelas, no entanto, ela sobe para 17%.

Silva, do Ibase, diz que a baixa taxa de analfabetismo entre os moradores de favela que nasceram no Rio não pode levar à falsa impressão de que os problemas educacionais estejam resolvidos nessas comunidades.

"É preciso pesquisar também a qualidade dessa alfabetização. A população de favelas sofre mais diretamente com a ineficiência do sistema público de ensino. Basta olhar para as taxas de abandono, de atraso escolar e de analfabetismo funcional", argumenta.

De fato, quando se compara a escolarização --e não apenas a alfabetização-- de moradores de favelas com os que moram em outras áreas da cidade, o abismo social fica ainda mais evidente.

Entre a população de favelas, apenas 14% completaram em 2000 ao menos o ensino fundamental. No resto da cidade, essa porcentagem é o triplo: chega a 43% dos moradores.

Analfabeto e empregado

Para Besserman, é preciso levar em conta ao analisar a taxa de analfabetismo entre migrantes de favelas que ela é elevada principalmente por causa da população adulta, ou seja, que já deixou sua cidade de origem sem ter acesso ao menos à educação básica.

"Em muitos casos, são pessoas já inseridas no mercado de trabalho e que, por causa de sua competência, mesmo sem saber ler ou escrever, conseguem ter uma renda suficiente para se estabelecer na Rocinha ou em outra favela", afirma Besserman.

Esse é exatamente o caso do paraibano Jailton Melo de Barros, 32, que há dez anos se mudou para a favela de Rio das Pedras, na zona oeste do Rio. Apesar de ser analfabeto, ele conseguiu um emprego de porteiro e diz não ter tempo para estudar. "Não tive tempo para estudar aqui no Rio, mas minhas duas filhas vão para a escola aqui mesmo em Rio das Pedras", diz ele.

Especial
  • Leia o que já foi publicado sobre favelas no Rio
  •  

    Publicidade

    Publicidade

    Publicidade


    Voltar ao topo da página