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26/09/2000 - 17h18

Namorada do sequestrador do ônibus 174 é assassinada no Rio

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FERNANDA DA ESCÓSSIA
SERGIO TORRES
da Folha de S.Paulo, no Rio

Sobrevivente da chacina da Candelária, ocorrida há sete anos, a faxineira Elizabeth Cristina de Oliveira Maia foi morta hoje de madrugada por três tiros que lhe atingiram a cabeça.

Ela era namorada de Sandro Nascimento, outro sobrevivente da Candelária, que no dia 12 de junho sequestrou um ônibus na rua Jardim Botânico (zona sul) e manteve oito pessoas como reféns. Na época, uma das reféns, a professora Geísa Firmo Gonçalves, foi atingida pelos tiros disparados por Sandro e morreu. Ele acabou morto pela PM depois de capturado.

Elizabeth, a Beth Gorda, liderava os menores de rua que moravam nas proximidades da igreja da Candelária (centro do Rio) quando, na madrugada de 23 de julho de 1993, oito deles foram chacinados por quatro PMs.

A morte de Beth Gorda eleva para 44 o número de sobreviventes da chacina da Candelária que acabaram mortos de maneira violenta nos anos posteriores. De acordo com o inquérito do caso, 72 meninos e meninas de rua sobreviveram à matança.

Elizabeth foi morta em frente ao cortiço onde morava com a avó, dois filhos pequenos, uma prima e um tio, na rua Arnaldo Quintela, em Botafogo (zona sul do Rio).

Testemunhas disseram na 10ª DP (Delegacia de Polícia) que Beth Gorda foi morta por três ocupantes de um Gol branco, que fugiram em seguida ao crime.

Há dúvidas em torno da idade de Beth Gorda. O registro policial informa que ela tinha 26 anos. A avó Elza Borges de Oliveira, 65, afirmou à Folha que Beth Gorda tinha 23 anos.

Tráfico

O delegado-titular da 10ª DP, Eduardo Baptista, relacionou o assassinato de Beth Gorda ao tráfico de drogas em Botafogo.

Segundo Baptista, a vítima vinha sendo investigada sob a suspeita de participar da venda de maconha e cocaína no conjunto habitacional Rajá, suposto reduto de quadrilhas criminosas.

Para a polícia, o crime teria sido praticado pelo traficante que lidera a venda de drogas no Rajá, identificado pelo apelido Girafa.

A advogada Cristina Leonardo, representante dos sobreviventes da Candelária, disse que Beth Gorda estava arrolada como testemunha no próximo julgamento do caso, ainda sem data marcada.

Para Cristina Leonardo, há dúvidas sobre o envolvimento do tráfico de drogas com a morte de Beth Gorda.

"Para a polícia, o mais fácil é sempre atribuir a morte ao tráfico. Queremos acompanhar a investigação minuciosamente", disse Cristina Leonardo.

A advogada afirmou que até hoje nunca foram esclarecidas as duas tentativas de homicídios sofridas por Wagner dos Santos, sobrevivente da chacina que está radicado na Suíça.

Nervosa

A avó disse que Beth Gorda vinha trabalhando como faxineira em residências do bairro.

A neta era, segundo Elza, "muito nervosa" e "dava muita preocupação", pois não se relacionava "bem com os maridos".

"Ela não falava nada da vida particular. Era uma garota muito nervosa, até mesmo por causa da situação da Candelária", afirmou a avó de Beth Gorda. Vitimada por um derrame, ela está impossibilitada de trabalhar.

Caberá a Elza cuidar de dois dos três filhos deixados por Beth Gorda: Vítor, 5, e Rômulo, 3. O caçula, João Pedro, 1, está sendo criado em um internato.

"Beth sempre ajudava a gente com um dinheirinho, para alimentar as crianças. Agora, eu não sei como vai ser. Sou doente, não posso mais pegar no pesado. O meu cunhado é velho, também não trabalha", disse a avó.

O enterro está marcado para o cemitério São João Batista, em Botafogo, às 9h de amanhã.

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