Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
 
  Siga a Folha de S.Paulo no Twitter
31/07/2005 - 09h07

Barulho faz de SP a "cidade liquidificador"

Publicidade

ALENCAR IZIDORO
da Folha de S.Paulo

Permanecer nas proximidades de alguns cartões-postais da cidade de São Paulo é como estar ao lado de um liquidificador ligado.

A comparação se baseia em medições do ruído urbano feitas pela Folha na semana passada em 12 pontos simbólicos da capital paulista sob a orientação de um técnico especializado em acústica.

Os resultados apontam que, se fossem estabelecimentos comerciais, muitas vias deveriam ser multadas e até interditadas por terem barulhos em desacordo com a legislação e que provocam efeitos nocivos à saúde.
No ranking dos lugares com maior ruído, a região do aeroporto de Congonhas liderou, tanto devido ao tráfego de aviões como ao de veículos nas avenidas dos Bandeirantes e Washington Luís.

O local teve média de 87,4 dB (decibéis), com picos de 109,5 dB no momento do pouso das aeronaves. Um liquidificador ligado fica próximo de 85 dB.

Segundo as normas da ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) e a lei de zoneamento, ninguém no local poderia produzir um ruído diurno superior a 65 dB. O limite máximo previsto, em zonas industriais, é de só 70 dB.

"Pelo barulho do avião, dá a impressão de que vai bater em casa, de tão perto", afirma Lygia Horta, 75, da associação de moradores de Moema, que mora há 50 anos no bairro vizinho de Congonhas e que já se acostumou a perder as partes mais interessantes de programas televisivos porque "sempre passa um avião nessa hora".

Horta tem problemas de audição, mas não sabe se foram influenciados pelo ruído das aeronaves. Hoje ela ainda reclama dos bares que se proliferaram na região. "São 24 horas de barulho."

Grandes centros

Entre outros pontos barulhentos da capital paulista identificados pela reportagem cujos ruídos ficam sempre além dos limites da lei de zoneamento estão a estação Sé do Metrô, a marginal Pinheiros, a praça da Sé, a esquina das avenidas Ipiranga e São João e as avenidas Paulista e a Rebouças, com médias de 75 dB a 82 dB.

O trabalho, sob acompanhamento do arquiteto Sérgio Akkerman, foi feito nas tardes de segunda e terça-feira passada, fora das horas de rush do trânsito e na última semana das férias escolares.

A poluição sonora é um problema de grandes centros do mundo inteiro, porém com resultados mais preocupantes em áreas tropicais e pobres, como no Brasil, onde as populações estão mais desprotegidas --inclusive porque o isolamento dos imóveis é frágil.

A falta de arborização, que serviria de barreira acústica, e a prioridade ao transporte individual motorizado --os autos são os principais causadores de ruído urbano hoje em dia --são outras características que agravam o problema na capital paulista.

Os danos à saúde por ruídos excessivos variam pelo tempo de exposição. Quem trabalha nesses lugares corre muito mais riscos.

Porém, os impactos negativos se estendem a todos que têm contato com esse barulho, não necessariamente com perda auditiva, diz Yotaka Fukuda, médico que é professor da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo). Por exemplo, alguém que fica esperando em um ponto de ônibus.

O convívio em lugares com 50 dB já provoca desconforto, perda de concentração e irritabilidade. "E é preciso concentração para alguém atravessar uma rua com segurança", afirma a fonoaudióloga Myrta Aparecida Gutierrez.

A partir de 70 dB são acentuados os problemas cardiovasculares, com a elevação dos batimentos cardíacos, da pressão arterial e das situações de estresse. "Também aumentam riscos de infarto", completa Fukuda. A perda de audição costuma ocorrer a 85 dB.

Gutierrez diz que as pessoas não notam que o ruído em algumas vias é semelhante ao de um liquidificador porque se adaptam. "A sensação de desconforto diante do aparelho pode ser maior também pelo som mais agudo. Mas o impacto na saúde é o mesmo. É um prejuízo silencioso, ninguém sabe quanto faz mal."

Leia mais
  • Barulho faz de SP a "cidade liquidificador"

    Especial
  • Leia o que já foi publicado sobre centros urbanos
  •  

    Publicidade

    Publicidade

    Publicidade


    Voltar ao topo da página