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01/08/2005 - 10h31

Entidade quer vetar realização da prova do laço em Barretos

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AFRA BALAZINA
da Folha de S.Paulo

O Fórum Nacional de Proteção e Defesa Animal quer impedir que a prova do laço de bezerro seja realizada na 50ª Festa do Peão de Boiadeiro de Barretos, que começa no dia 11 e termina no dia 28 deste mês. A entidade entrou com uma representação no Ministério Público Estadual.

Na prova do laço, um peão deve laçar um bezerro pelo pescoço, manter a corda esticada, pular do cavalo e amarrar três patas de forma que ele fique imobilizado. Depois, o laçador deve montar sobre ele e levantar as mãos --momento em que o seu tempo é marcado.

Segundo a presidente do fórum, Sônia Fonseca, essa prova é a mais cruel de todo o rodeio. "Ela é pior porque bezerros muito novos sofrem traumatismos e, muitas vezes, saem mortos da arena", diz.

Segundo Fonseca, que é bióloga, fotos mostram as pupilas dos animais dilatadas durante as provas, o que seria uma comprovação da situação de pânico, dor e estresse vivida por eles.

Apesar de tentar acabar com uma das provas, Fonseca considera impossível proibir a realização completa do rodeio em Barretos em razão, principalmente, da força econômica do evento. "Existe uma exploração financeira dos maus-tratos dos animais ."

O promotor de Justiça de Barretos José Ademir Borges confirma o recebimento da representação e diz que está investigando se realmente existem maus-tratos durante esse tipo de competição. "Vamos aguardar os resultados da perícia", diz.

Se ficar provado que os animais sofrem danos ao participar da prova, ela pode ser proibida. O promotor acredita, entretanto, que não haverá tempo para decidir sobre o assunto antes da realização da festa deste ano.

Em São José dos Campos, o promotor Laerte Levai conseguiu a proibição dos rodeios. "Por enquanto, vencemos em cidades com menos tradição nesse tipo de evento. Depois, acredito que tentarão chegar a Barretos", diz.

Segundo ele, a Constituição veda a crueldade contra animais, assim como a legislação ambiental. "Só tentamos fazer cumprir a lei." No Rio de Janeiro, os rodeios também foram proibidos, e em Itu (interior de São Paulo) foi impedida judicialmente a exibição de animais em festas.

A promotora de Justiça de São Paulo Vania Puglio diz que inúmeros estudos de veterinários comprovam maus-tratos nos animais durante os rodeios. Segundo ela, as pesquisas mostram que o volume do som, o grande público presente e a proximidade com os homens, as luzes diferentes e o espaço apertado em que são colocados causam estresse.

Os estudos também indicam que equipamentos como o sedém (aplicado na virilha do animal) e as esporas do peão, usados para que os bois e cavalos pulem, causam sofrimento e dor.

"O boi tem evacuação aquosa, palpitação e fica com a pupila dilatada, sinais evidentes de sofrimento", diz ela, que é assessora do Centro de Apoio Operacional de Urbanismo e Meio Ambiente do Ministério Público em São Paulo. Segundo Puglio, está provado que animais e humanos têm sensações parecidas. "Os animais têm condições de perceber que o ambiente é hostil, têm sensibilidade para sentir a pancada e a dor."

A promotora defende o princípio da precaução no caso dos rodeios. "Na dúvida sobre os efeitos, deve-se deixar de fazer." Ela opina que, ao regulamentar os rodeios, os legisladores brasileiros deram uma péssima mostra de desrespeito ao ambiente e, principalmente, à fauna.

Cultura importada

A integrante da Associação Cultural e Ecológica Pau-Brasil, Simone Kandratavicius, diz que o rodeio não faz parte da cultura brasileira. "É uma cultura importada dos Estados Unidos e que querem nos enfiar goela abaixo."

"O rodeio é maldade pura. Não somos contra a festa em si, contra os shows, feiras e exposições. Mas acho que a cultura brasileira deveria ser mais valorizada. Temos a cavalgada, o boi-bumbá", diz. Em Barretos, entretanto, como a festa ocorre há 50 anos, ela acredita que a população local já tenha "incorporado" essa cultura.

Outro lado

O responsável pelas provas da 50ª Festa do Peão de Barretos, Marcos Sampaio de Almeida Prado, afirma que não há nenhum tipo de maltrato durante o rodeio.

Segundo ele, apenas bezerros com mais de oito meses e com peso acima de 100 kg participarão da prova do laço, que o Fórum Nacional de Proteção e Defesa Animal tenta impedir que aconteça neste ano.

"Temos respaldo judicial e científico para realizar a prova. Colocaremos bebedouros de água em todos os locais onde os animais ficam esperando e haverá lugar para alimentá-los", disse Prado, que é médico veterinário. Os bezerros escolhidos para participar da prova terão de ser bem nutridos e vacinados, de acordo com ele.

Prado afirma ainda que a prova do laço é realizada em 23 países e muitos profissionais vivem dela. "Por isso estamos normatizando a prova. Não estamos de brincadeira. Fazemos tudo de maneira muito séria", diz.

Na opinião do diretor de rodeio Marcos Abud, a festa de Barretos não teria chegado ao seu cinqüentenário se houvesse maus-tratos aos animais. "Nosso público sabe a forma como tratamos os animais", afirma.

Segundo ele, o sedém, tira de lã de carneiro colocada na virilha do boi ou do cavalo no rodeio, gera cócegas. Por isso faz com que eles dêem saltos mais velozes. "Não é verdade que o sedém machuca ou aperta os testículos", afirma.

Abud diz que não é o sedém que faz os animais pularem. "De cerca de 200 bois que experimento, apenas um é pulador. Eles pulam porque têm índole, não porque estão sofrendo", afirma.

No caso dos eqüinos, ele diz que 99% dos cavalos que participam do rodeio são castrados. Mas, segundo o diretor, costuma-se usar éguas --elas representam 70% do total de eqüinos nos rodeios, o que diminui os ferimentos na região dos testículos.

O diretor convida os integrantes de entidades que criticam o rodeio de Barretos para conferir o tratamento dado aos animais durante a festa.

"Gostaria que eles vissem a forma como cuidamos deles", afirma. Os touros que pulam muito e derrubam os melhores peões são considerados verdadeiras estrelas e recebem tratamento diferenciado. Um deles é o touro Bandido, que virou personagem da novela "América".

Especial
  • Leia o que já foi publicado sobre a Festa do Peão de Barretos
  • Leia o que já foi publicado sobre maus-tratos contra animais
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