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03/08/2005 - 09h44

Mortalidade de negros é maior do que a de brancos

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LUÍSA BRITO
da Folha de S.Paulo

A taxa de mortalidade de negros é superior à de brancos no Estado de São Paulo. A Aids, por exemplo, mata duas vezes mais negros que brancos, segundo constatou pesquisa da Secretaria Estadual da Saúde de São Paulo.

O levantamento analisou as causas dos 236.025 óbitos que ocorreram no Estado no ano de 1999. A pesquisa foi concentrada nesse ano porque os atestados de óbito forneciam informações mais completas, de cor e raça, do que em outros anos.

O estudo aponta ainda que a taxa de mortalidade materna das gestantes negras representa mais de seis vezes a de grávidas de cor branca. Entre os homens negros, a ocorrência de morte devido ao alcoolismo acontece duas vezes mais do que na população branca. Os homens negros morrem mais por razões violentas como homicídio causado por arma de fogo.

Tuberculose, diabetes, alcoolismo e hipertensão também são causas de morte mais comuns entre negros do que entre brancos.

Segundo o pesquisador da secretaria Luís Eduardo Batista, a diferenciação nas causas de morte ocorre basicamente por questões sociais, não por diferença biológica de raça. "A maioria dos negros tem menor escolaridade, menor renda e mora na periferia."

Segundo o IBGE, a população negra e parda brasileira tem rendimento médio mensal de 1,9 salário mínimo, enquanto os brancos recebem 3,9 salários mínimos. Em São Paulo, o rendimento médio do negro é de 2,5 salários mínimos. Já o branco ganha cerca de 4,7 salários. Há 1,6 milhão de negros no Estado, conforme o IBGE.

Para o pesquisador, além da classe social, o "racismo impacta na saúde". Segundo ele, negros têm tratamento diferente no sistema de saúde, apesar de pregar "a eqüidade e universalidade".

As campanhas públicas de prevenção a doenças também erram ao não incluir o negro, diz. "Você já viu um negro nas propagandas sobre a Aids?", questiona. Segundo ele, é necessário que os serviços públicos de atendimentos ambulatorial e hospitalar comecem a coletar dados desagregados sobre raça e cor para que sejam planejadas políticas públicas voltadas à saúde da população negra.

Saúde pública

A Secretaria Estadual da Saúde diz fazer um trabalho diferenciado de atendimento com negros de comunidades remanescentes de quilombolas. Segundo o pesquisador, o órgão também faz seminários e palestras para divulgar a assistência à saúde para os negros.

Já a Secretaria Municipal da Saúde disse que tem realizado atividades para sistematizar um plano de ação para a saúde da população negra. As medidas devem ser feitas em conjunto com outras secretarias e com a sociedade.

O Ministério da Saúde informou que o órgão incluiu metas para a saúde da população negra no Plano Nacional de Saúde.

Entidades

Entidades ligadas ao movimento negro ouvidas pela Folha concordam com a análise do resultado da pesquisa. "A questão social tem cor, raça e sexo", afirma a coordenadora-geral da organização Fala Preta, Glaucia Matos. Segundo ela, em trabalhos realizados pela entidade, é comum ouvir reclamações de mau atendimento nos serviços de saúde por causa da suposta discriminação.

Para Edson França, coordenador-geral do movimento Unegro (União de Negros pela Igualdade), nos serviços de saúde há um racismo institucional e a pessoa acaba sendo tratada de forma diferenciada conforme sua cor.

Na opinião da professora Eunice Prudente, do Neimb (Núcleo de Pesquisas Interdisciplinares sobre o Negro Brasileiro) da USP, existe uma situação desigual entre os brasileiros afrodescendentes e eurodescendentes. Ela defende políticas de ação afirmativa.

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