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25/09/2005 - 23h13

Bombeiros trabalham para controlar incêndio em reserva do AC

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SÍLVIA FREIRE
da Agência Folha, em Xapuri

O Corpo de Bombeiros não está conseguindo controlar o incêndio que atingiu a Reserva Extrativista Chico Mendes, que abrange quase 1 milhão de hectares em cinco municípios do Acre, e a floresta amazônica localizada em seu entorno.

Há oito dias, equipes do Corpo de Bombeiros, soldados do Exército e policiais militares --além de moradores da reserva e de voluntários-- entram na floresta em chamas, onde o calor pode ultrapassar os 40 graus, para controlar os focos de incêndio.

Muitos deles carregam bombas com água nas costas que chegam a pesar mais de dez quilos.

Ao se aproximar do fogo, é possível ouvir os estalos, semelhantes a tiros, que a floresta faz ao queimar. O ar está seco e o vento espalha a fumaça, fazendo com que as equipes trabalhem com a visibilidade baixa.

"O incêndio está violento e o pessoal não dá conta de apagar. Está vencendo a gente. Precisamos de aeronaves para combater os focos em locais mais distantes. Se não tivermos mais helicópteros, o estrago vai ser maior ainda", disse o major James Gomes, do Corpo de Bombeiros, que está no comando da operação.

Segundo a gerência do Ibama no Acre, não há ainda uma estimativa do dano ambiental nem material causado pelo fogo.

"Se o fogo durar mais 15 dias, possivelmente vamos perder até 50% da nossa produção de borracha. Se seringueira queimar, não produz mais. Isso é tão triste que é difícil descrever. Essa reserva custou tantas vidas, tantas noites de sono, fome, perseguições para hoje acontecer isso", disse o líder seringueiro Raimundo Mendes de Barros, primo de Chico Mendes, assassinado em 1988 por fazendeiros.

Sem previsão de chuvas para os próximos dias, o objetivo do combate tem sido evitar que o fogo se alastre e chegue próximo ao município de Xapuri.

Pela dificuldade de acesso e distância, a prioridade no combate ao fogo são os focos de incêndios localizados próximos à cidade, onde o comando da operação de combate ao fogo está montado. Em alguns pontos dentro da reserva que estão queimando, só é possível chegar depois de duas horas de carro e mais seis de caminhada.

Um helicóptero do Exército cedido pelo Ibama estava ajudando a transportar pessoal e equipamentos. Ontem, no entanto, ele não apareceu.

Para hoje está prevista a chegada de outros dois helicópteros, um do Exército e outro do Ibama, para ajudar no combate ao fogo. Eles devem ser usados para transportar os soldados aos locais mais distantes na reserva.

Inicialmente, os bombeiros descerão de rapel em um ponto da floresta, abrirão um pequeno heliponto e montarão um acampamento capaz de abrigar a equipe durante alguns dias.

Estrutura

Na manhã deste domingo, dez equipes e um total de cerca de 93 pessoas estavam no combate dentro da mata. A prioridades eram 21 focos de queimadas identificadas por GPS em sobrevôos.

"Moro em Xapuri há mais de 18 anos e nunca vi um fogo deste", disse o voluntário Raimundo Ribeiro Freitas, que há seis dias ajuda no combate ao fogo. "Já andei mais de 300 km dentro da floresta apagando fogo. Avisei no trabalho que só voltava depois", disse ele, que é funcionário do Estado.

A alimentação das equipes é fornecida pela Prefeitura de Xapuri e o combustível para os carros que transportam o pessoal é fornecido pelo Deracre (órgão estadual de conservação das estradas).

Todas as noites, lideranças das comunidades, bombeiros e policiais se reúnem na sede do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Xapuri, no centro da cidade, para fazer um balanço do trabalho executado no dia e programar as ações seguintes.

É o momento em que moradores dos seringais comunicam aos bombeiros de eventuais novos focos de incêndio e pedem ajuda para combatê-lo.

Segundo o major James, a maior parte dos incêndios foi provocada por fazendeiros ou pequenos agricultores, alguns deles moradores da própria reserva, que ateiam fogo para limpar o campo desmatado. Como a vegetação está muito seca em razão da forte estiagem, o fogo se alastra sem controle.

As queimadas estão proibidas pelo Ibama e Imac (Instituto de Meio Ambiente do Acre) desde 17 de agosto e equipes do Pelotão Florestal da Polícia Militar estão em campo para repreender e autuar os agricultores que forem flagrados colocando fogo.

"Nunca o Acre teve uma seca como esta. Como choveu pouco nos meses de janeiro a março, a reserva de água no subsolo está baixa. A árvore está desidratada e queima", disse Anselmo Forneck, superintendente do Ibama no Estado.

Na estrada que liga Rio Branco a Xapuri, a BR-317, a reportagem encontrou pelo menos três incêndios na tarde de sábado. Em um deles, a proprietária não conseguia parar de chorar. O fogo havia começado pela manhã e atingiu quase todo o pasto da propriedade dela e das fazendas vizinhas.

Vítimas

Internada no sábado no Hospital de Urgência e Emergência de Rio Branco (AC) com problema respiratório agudo, a manicure Adeíla Martins, 46, disse que há três dias não conseguia dormir pela falta de ar, chiado no peito e tosse. Apesar do grande esforço que fazia para falar, sua voz era fraca.

A fumaça das queimadas provocou um aumento nos casos de doenças respiratórias nas cidades do Acre. Segundo o diretor-geral do hospital, Marco Aurélio Nunes Pereira, as crianças, os idosos e pessoas que já têm histórico de problemas respiratórios e alérgicos são os mais atingidos.

"Desde quarta-feira, [quando a fumaça chegou a encobrir Rio Branco] estou assim. Está muito ruim para respirar", disse a manicure.

A atendente de turismo Isis Rose Mascarenhas, 34, estava internada desde a última terça-feira com bronquite. "Eu sentia o pulmão fechado, não conseguia respirar. Cheguei aqui ao hospital brigando com o médico. Botei a culpa nele. A pior coisa é não poder respirar. Mas é a fumaça que prejudica", disse Mascarenhas.

Mãe de Danilo Henrique, de 1 ano e quatro meses, internado com pneumonia no hospital, Taiane Keli Rebouças da Silva disse que o filho tem asma desde que nasceu. "Ele já estava gripadinho, mas, quando veio aquela fumaça toda, piorou. Ficou com tosse, vômito. Eu trouxe para cá e disseram que era pneumonia", afirmou a mãe.

No mesmo quarto de hospital de Danilo, estava internado Natanael Miranda Damasceno, 2, também com pneumonia. "A gente mora na zona rural e, como tem muita queimada, a fumaça e a poeira entram dentro de casa. Ele nunca teve problema, mas foi por causa da fumaça dos últimos dias que ele ficou assim", disse Elisângela Moura, avó de Natanael.

O aposentado Raimundo Batista da Silva, 66, disse ser alérgico "a quase tudo" e há quatro anos respira com auxílio de um balão de oxigênio. "A fumaça está acabando com o resto da minha vida", disse. "Estou sufocando, com muita dificuldade de respirar. Nem pedi que me trouxessem para cá [hospital]. Quando vi estava aqui."

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