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09/10/2005 - 12h18

Parceria faz SUS oferecer tratamento "VIP"

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CLÁUDIA COLLUCCI
da Folha de S.Paulo

A parceria de hospitais públicos com a iniciativa privada tem criado verdadeiros "oásis" dentro do SUS. Com recursos de empresários, tanto a hotelaria como serviços antes só disponíveis na rede particular já são uma realidade para pacientes carentes.

Os acordos partem agora para a área de gestão hospitalar. A FESEHF (federação dos hospitais beneficentes do Estado de São Paulo) está fechando uma parceria com a CPFL (Companhia Paulista de Força e Luz) para a capacitação dos dirigentes das Santas Casas e outros hospitais filantrópicos paulistas. A iniciativa é inédita no país.

Na área de serviços e de hotelaria, o Hospital de Câncer de Barretos (interior de São Paulo) é o retrato de uma parceria de sucesso entre o público e o privado.

A instituição atende, em média, cerca de 2.000 pacientes por dia, sendo 98% deles do SUS.

Um desavisado que chega à ala da UTI da unidade de Barretos, por exemplo, pode julgar que esteja no lugar errado.

Tanto o mobiliário como os equipamentos de última geração não perdem em nada aos hospitais privados de ponta da capital.

Em geral, as UTIs públicas (e muitas privadas) são instaladas em enfermarias coletivas, com leitos separados por divisórias.

Em Barretos, as unidades contam com apartamentos individuais, com camas e equipamentos importados, e os doentes têm direito a acompanhante. Nos quartos há TV, sistema de ar-condicionado e sofás.

Verbas e homenagem

Todo conforto vem da renda de leilões de gado, de shows promovidos por artistas e de CDs gravados por eles, que rendem R$ 600 mil mensais ao hospital.

Para homenageá-los, 11 pavilhões da instituição levam os nomes de Chitãozinho & Xororó, Sérgio Reis, Leandro & Leonardo, Xuxa Meneguel, Sandy e Junior, Zezé Di Camargo & Luciano e Sergio Reis, entre outros. Ainda assim, a conta não fecha.

O hospital, mantido pela Fundação Pio XII, trabalha com um déficit operacional estimado em cerca de R$ 1,5 milhão por mês. O orçamento que vem do SUS é de R$ 4,5 milhões mensais.

"Se não fossem essas parcerias já teríamos fechado as portas", afirma Boian Petrov, diretor financeiro do hospital.

A instituição tem nove alojamentos, com de 400 leitos, para pacientes de outros Estados sem condições de se manter na cidade.

A Santa Casa de Louveira (interior de SP) segue o mesmo caminho da unidade de Barretos.

Uma parceria firmada entre os empresários da cidade e o hospital possibilitou a reforma dos quartos sob conceitos de humanização e hotelaria hospitalar.

Cada empresa "adotou" um quarto do hospital e o reformou por completo, trocando piso, banheiro, iluminação e pintura, além da compra de camas, armários, cadeiras para acompanhante dos doentes e televisão.

Em troca, as empresas ganharam uma plaquinha com nome na entrada no quarto. O investimento foi de cerca de R$ 50 mil.

Também na capital

A enfermaria de clínica médica do hospital São Paulo, ligado à Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), foi revitalizada com a injeção de R$ 1 milhão, dinheiro de empresários de São Paulo.

Os quartos têm televisão, frigobar e sofá para os acompanhantes. Há 21 leitos na ala masculina, 12 na feminina e cinco na UTI.

Segundo Antonio Carlos Lopes, professor titular de clínica médica da Unifesp, além da hotelaria, a enfermaria contará com uma uma sala de atendimento odontológico para os pacientes internados. Enquanto estiverem internadas, as mulheres também vão passar por avaliação ginecológica.

"Uma das formas de recuperação dos pacientes é o conforto do leito de internação", afirma Lopes. Outro diferencial é a sala de procedimentos, que fica isolada dos quartos, e a possibilidade de o leito se tornar uma UTI, caso haja necessidade. A unidade atende exclusivamente pacientes do SUS.

Na área infantil há várias iniciativas desse tipo. O grupo Sanofi Aventis, por exemplo, mantém brinquedotecas em 11 hospitais infantis públicos no país. Além de brinquedos, há computadores, TVs com vídeo, CDs e livros.

Um carrinho móvel, com gavetas para apresentações teatrais e caixinha de música vai até os leitos de crianças que não podem se locomover até a brinquedoteca.

O Ministério da Saúde não tem um levantamento da participação da iniciativa privada nos hospitais públicos. Segundo o ministério, cada instituição tem autonomia para criar as parcerias.

Na avaliação de José Reinaldo Nogueira de Oliveira Junior, presidente da FESEHF, as ações com a iniciativa privada, embora desejáveis, ainda são isoladas.

"Depende muito do relacionamento do gestor com o empresariado local", afirmou.

Oliveira Júnior espera que a parceria com a CPFL habilite os gestores a procurar mais incentivos na iniciativa privada. "Muitas instituições não têm uma imagem tão boa, o que torna a iniciativa mais difícil", declarou.

Para a professora Evelin Sá, professora aposentada da Faculdade de Saúde Pública da USP e especialista em administração de serviços de saúde, as parcerias deveriam ser incentivadas até como forma de fortalecer a qualidade da assistência no serviço público.

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