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16/10/2005 - 10h31

PF investiga rota de imigração ilegal em SP

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THIAGO GUIMARÃES
da Agência Folha

Anunciada há 38 dias pelo governo mexicano, a revogação do acordo com o Brasil sobre isenção de vistos de turismo e de negócios, que começa a valer no dia 23, provocou um movimento incomum em hotéis do centro de São Paulo. São os candidatos a imigrantes ilegais hospedados pelas quadrilhas especializadas.

Meio-dia e meia da última quarta-feira, dia 12. Em um hotel no largo do Paissandu, centro de São Paulo, o recepcionista informa a dois hóspedes que alguém passou para avisar que o dinheiro deles havia sido transferido.

É a chave para a reportagem da Folha identificar ali dois possíveis candidatos a imigrantes ilegais, já que em muitos casos as quadrilhas de agenciadores financiam as despesas dos clientes --receberão somente nos EUA.

Sob a condição de anonimato, eles confirmam que estavam no hotel havia dois dias esperando o sinal verde dos agenciadores para embarcar rumo ao México. O objetivo é a entrada ilegal nos EUA.

Pouco depois, outro rapaz junta-se a eles na entrada do hotel. Os três dizem ter 20 anos e que são de Ouro Preto do Oeste (RO), cidade de 41 mil habitantes a 333 km de Porto Velho. Dois são primos, e o outro é amigo da família.

O acerto foi feito com um agenciador de Ouro Preto do Oeste. "Tem mais gente querendo levar do que ir", diz um dos rapazes.
Combinaram pagar US$ 10 mil --metade na chegada aos EUA e metade com dinheiro de trabalho.

No valor estão incluídos os R$ 100 diários que cada um recebe dos agenciadores para pagar hotéis e alimentação. Para a viagem, dizem não ter dinheiro.

A expectativa dos três é conseguir emprego de carpinteiro nos EUA --promessa de um cunhado dos primos que vive na Flórida. Em Rondônia, trabalhavam cuidando de gado em terras da família. Todos estudaram somente até o ensino fundamental.

Eles dizem não saber ao certo como será a entrada nos EUA. A única certeza é que não será pelo deserto, mas por um posto de imigração na fronteira.

Afirmam que irão até a Cidade do México e que, após passarem pelo posto da imigração, alguém estará esperando na saída para levá-los a um hotel.
Depois de instalados, passarão a ser guiados por outra pessoa até a fronteira. "Daqui [Brasil] até lá [EUA] você passa na mão de umas dez pessoas", diz um deles.

Sobre o medo das incertezas do caminho, respondem com resignação. "Medo todo mundo tem, mas fazer o quê?", afirma um. "Onde está o homem mora o perigo", completa outro.

Quadrilhas são alvo

Segundo o delegado José Márcio Lemos, chefe da Delegacia de Imigração da Polícia Federal, 30 pessoas que estavam em hotéis de São Paulo foram levadas a depor porque tinham perfil de candidatos a imigrantes ilegais: portavam passaporte, mas não tinham passagens nem dinheiro suficiente para viajar ao exterior.

Como emigrar ilegalmente não é crime no Brasil, ninguém foi preso. O alvo da PF são as quadrilhas de agenciadores de imigrantes --o aliciamento de trabalhadores para fim de emigração prevê prisão de um a três anos.

"Vínhamos monitorando esses hotéis e entramos quando tinha bastante gente", disse o delegado. Segundo ele, os candidatos a imigrantes ficam esperando a liberação por parte dos agenciadores --que trazem as passagens aéreas-- para então embarcarem para o México.

Esses grupos são de Minas Gerais, Goiás e Pará. Lemos afirmou que o inquérito do caso foi aberto na semana passada e que não houve prisões até o momento.

Hotéis

Em um hotel na região da República, o gerente, sob a condição de não ter o nome revelado, afirmou ter hospedado um grupo de emigrantes "há três ou quatro meses". "Peço a documentação dos hóspedes, mas o que eles fazem não me interessa", disse.

Em outros dois hotéis, a reportagem não se identificou de imediato na recepção, perguntando antes com quem poderia tratar sobre "viagens para fora". A resposta foi que, se quisesse hospedar emigrantes, deveria pagar por dia ou antecipadamente.

Em tese, a conduta dos donos desses hotéis não configura crime, mas a PF investiga se eles atuam em conjunto com as quadrilhas de agenciadores.

Número recorde

O aperto na política mexicana de concessão de vistos e na fiscalização da PF é acompanhado por um crescimento recorde do número de brasileiros detidos na fronteira EUA-México.

Entre entre 1º de outubro de 2004 e o último 30 de setembro, foram 31.070 brasileiros detidos, contra 21.404 de 1999 a 2004.

Em agosto, 320 brasileiros detidos ao tentar entrar ilegalmente nos EUA voltaram em vôos fretados pelo governo americano.

Em 2004, cerca de mil brasileiros presos nos EUA também chegaram em vôos fretados, após negociações entre o governo americano e congressistas brasileiros.

A Embaixada do México no Brasil informou que há apenas um caso confirmado de associação para o crime entre quadrilhas de migração ilegal brasileiras e funcionários do setor de imigração daquele país.
Segundo o conselheiro da embaixada Agustín Rodriguez, um ex-funcionário da imigração foi preso em março deste ano sob a acusação de colaborar com quadrilhas de migração ilegal.

Rodriguez afirmou que "ninguém está livre de corrupção e que a prisão do ex-funcionário foi um dos motivos da volta da exigência de visto para a entrada de brasileiros no México.

Na Embaixada do Brasil no México, a previsão é que, com a exigência do visto, brasileiros tentarão entrar no país pela Guatemala, que não exige visto. E, depois, rumar para a fronteira EUA-México, onde tentariam a travessia.

O conselheiro da embaixada Olyntho Vieira disse que o aumento do número de pedidos de visto após o anúncio da medida, chega a ser "brutal".
Segundo Vieira, o número era quase nulo e vai chegar neste mês a 110. A expectativa é que o México conceda 25 mil vistos a brasileiros por ano. Atualmente, os EUA fornecem cerca de 6.000 vistos por ano.

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