Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
 
  Siga a Folha de S.Paulo no Twitter
17/10/2005 - 09h09

Clube de tiro vira "brecha" para manter arma

Publicidade

LAURA CAPRIGLIONE
da Folha de S.Paulo

Fortemente alinhados com o "não" no referendo sobre a comercialização de armas e munições que se realizará no próximo domingo (23), os clubes de tiro esportivo já têm o que comemorar. Nos últimos dois meses, experimentaram um crescimento de até 70% no número de associados.

A reportagem da Folha perguntou a 30 clubes de tiro filiados a seis diferentes federações esportivas se a proximidade do referendo aumentou ou diminuiu o quadro de associados de cada um. Com a condição de não serem identificados, todos admitiram o aumento de demanda, com as taxas de crescimento declaradas oscilando entre o mínimo de 15% e o máximo de 70%.

O fenômeno foi detectado pelo chefe do Serviço Nacional de Armas da Polícia Federal, Fernando Queiroz Segovia Oliveira. Desde a aprovação do Estatuto do Desarmamento, em dezembro de 2003, o delegado percorre o país, esclarecendo universidades, ONGs, advogados e juízes a respeito da linha de atuação da PF.

Em um dos debates de que participou, Segovia ouviu de um defensor do "não" no referendo o seguinte comentário: "Se o estatuto restringe assim as possibilidades de compra, posse e porte de armas, a única saída vai ser abrir um clube de tiro". Desde então, o policial defende uma regulamentação draconiana das associações.

A explicação para a maior procura pelos clubes de tiro está no próprio Estatuto do Desarmamento, artigo 4º, que diz: "Para adquirir arma de fogo de uso permitido, o interessado deverá (...) declarar a efetiva necessidade". Pois bem: se não for policial ou segurança, se não estiver ameaçado de morte, uma das poucas brechas para provar a tal "efetiva necessidade" é, por exemplo, sendo praticante de tiro esportivo.

"Ter a própria arma é quase uma condição para o atleta competitivo. É como o músico, que precisa ter o seu próprio instrumento", diz o diretor administrativo da Confederação Brasileira de Tiro Esportivo, Paulo Antônio Guedes de Lima e Silva, 63.

Não é capricho. Duas armas de igual calibre podem ter características ergonômicas muito diferentes. A coronha adequada a uma pessoa de mãos grandes, por exemplo, pode ser incompatível com um atirador franzino.

Ouro olímpico

O tiro foi a modalidade esportiva que deu as três primeiras medalhas olímpicas ao Brasil. Foi em 1920, nos jogos de Antuérpia, quando a pistola de tiro rápido de Guilherme Paraense ganhou o ouro, a pistola livre trouxe a prata e a pistola livre por equipe, o bronze. É uma das modalidades esportivas mais enraizadas no Brasil, com 21 federações estaduais, 150 clubes federados e 556 instrutores credenciados.

"Acho preocupante. O tiro é um esporte muito sério, que pode ser desvirtuado por causa da adesão oportunista de pessoas interessadas só em garantir um bom álibi para possuir uma arma", diz o advogado David Rechulski, 38, ex-atleta de tiro, esporte que começou a praticar como terapia antiestresse, depois da morte do pai.

Com R$ 300 e cinco horas de aula, um candidato a praticante pode fazer o "practical shooting method", PSM, o curso de iniciação.

Comparando: um curso de mergulho básico exige 20 horas de aulas, o de formação de motorista, 30 horas-aula. No final das aulas, o candidato a atirador esportivo recebe o diploma, reconhecido pela Federação Paulista de Tiro Esportivo. Já pode se associar ao clube e se filiar à federação.

Especial
  • Leia o que já foi publicado sobre tiro esportivo
  • Leia a cobertura completa sobre o referendo
  •  

    Publicidade

    Publicidade

    Publicidade


    Voltar ao topo da página