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22/11/2005 - 09h50

Seis estrangeiros vivem em sala de Cumbica

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VICTOR RAMOS
da Folha de S.Paulo

Seis estrangeiros --um indiano, dois chineses, dois bolivianos e uma dominicana-- estão confinados em uma pequena sala do aeroporto internacional de Cumbica, na cidade de Guarulhos (Grande São Paulo).

A sala, que tem o acesso restrito à Polícia Federal, é chamada de "limbo". Não possui janelas e abriga passageiros que, por terem sido descobertos com documentos irregulares, estão impedidos de entrar no país e, ao mesmo tempo, de sair dele.

Com dificuldades de comunicação até mesmo entre si, dividem a comida que é distribuída por companhias aéreas e a pia do banheiro para lavar a roupa.

O indiano Jaqtar Sinsh, de 25 anos, é o "hóspede" involuntário mais antigo desse ambiente. Está lá há 38 dias. Vive no "limbo" --a sala de cerca de 25 metros quadrados, com dois banheiros e sete poltronas reclináveis, por onde passam dezenas de estrangeiros em situação semelhante à deles. A maior parte, no entanto, deixa o local em poucos dias.

Sinsh veio ao Brasil para trabalhar. Fora avisado por um amigo, que ele chama de "irmão", de que havia emprego disponível no Rio de Janeiro.

Retido no aeroporto de Cumbica por causa da documentação, foi levado para a sala da Polícia Federal. Apesar de tudo, diz, em um inglês bastante precário, que não quer voltar para a Índia. "Brasil, Brasil", insiste.

Atualmente, os que dividem o espaço com Sinsh há mais tempo são dois amigos chineses, deportados da Itália há um mês. Dormindo lado a lado, até hoje os chineses e o indiano não trocaram palavra. Não se entendem.

Os chineses, que moram no Suriname, tentaram entrar na Itália com passaportes que não eram deles. Impedidos, foram deportados para o Brasil, de onde tinha partido o vôo. Agora, sofrem com dores de estômago e de cabeça por não se habituarem à alimentação oferecida.

Pia-tanque

Com origem em diversos pontos do mundo, o drama desses estrangeiros se concentra em uma sala sem televisão, camas ou telefone. No banheiro masculino, as roupas lavadas na pia, onde não há mais sabão, são penduradas sobre as portas e divisórias.

Logo na entrada da sala, do lado esquerdo, há um suporte para o televisor. Está vazio. Assim, praticamente não existe com o que passar o tempo. No caso do indiano, não há uma pessoa sequer com quem ele possa conversar.

Também estão lá dois primos bolivianos, "hóspedes" há oito dias, e uma mulher da República Dominicana, que já está dentro da sala há 14 dias. Os três pretendiam viver na Espanha. Foram deportados ao chegar à Europa.

A dominicana, que preferiu não se identificar, afirmou à Folha que seus quatro filhos ficaram em seu país de origem, na América Central. Seu objetivo era trabalhar na Espanha. Agora, diz que quer somente poder rever os filhos.

A jovem boliviana, de 21 anos, que também não quis se identificar, afirmou que sua mãe mora na Espanha. Queria encontrá-la, mas deve regressar para a Bolívia.

Divisão de comida

Segundo ela, os chineses chegaram a comprar comida do aeroporto para não ter que se alimentar com o que é oferecido pela companhia de aviação.

"Um dia eles gastaram R$ 25. Mas parece que o dinheiro deles acabou." A jovem afirmou que não há como conversar com eles, mas que parecem sempre tristes.

Sobre o indiano, a jovem afirma que ele só recebe alimentação uma vez por dia. Ela e o primo, por terem viajado por uma outra companhia, recebem três. "Divido minha comida com ele. Vejo que está emagrecendo. Ele não tem dinheiro nenhum."

De acordo com a Polícia Federal, as providências em relação aos estrangeiros já foram tomadas. Assim que houver alguma determinação judicial ou a documentação for regularizada, eles deixam o aeroporto.

Enquanto isso, permanecem no "limbo" e vivem uma história que remete ao filme "O Terminal", em que um turista de um país imaginário --interpretado por Tom Hanks-- tem o passaporte retido no aeroporto de Nova York porque sua nação vivia guerra civil. Sem opção, tem de esperar na área de convivência do terminal.

Mas os seis estrangeiros de Cumbica vivem uma situação mais crítica, já que não podem sair da sala e andar no saguão.

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