Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
 
  Siga a Folha de S.Paulo no Twitter
23/11/2005 - 11h46

Brasil prepara lote de 20 mil vacinas contra gripe aviária

Publicidade

DANIELA LORETO
da Folha Online

O Brasil corre alto risco de ser atingido por uma eventual pandemia do vírus H5N1 da gripe aviária, mas está preparado para uma situação de emergência: o primeiro lote de vacinas [20 mil] será produzido a partir de fevereiro de 2006, segundo o epidemiologista Otávio Azevedo Mercadante, diretor do Instituto Butantan e membro do Comitê do Plano Estadual de Contingência para Pandemias de Influenza, da Secretaria da Saúde.

"No caso de uma pandemia [entre humanos], a possibilidade de ela atingir o Brasil é altíssima. Com o fluxo de pessoas por todo o mundo, a probabilidade cresce em progressão geométrica. Hoje, para uma pessoa sair do Oriente e chegar ao Brasil, leva menos tempo do que o período de incubação do vírus. Por isso, o risco é alto."

Reprodução
O vírus H5N1, forma mais letal da gripe aviária
No entanto, segundo Mercadante, o Brasil é capaz assumir uma vacinação em massa, caso isso seja necessário. Ele explica que o país está bem preparado em comparação a outra regiões do mundo, inclusive em relação aos Estados Unidos, que não têm um programa de vacinação universal e gratuito como o brasileiro.

"Todos os anos, vacinamos 15 milhões de idosos em menos de um mês. Nenhum país faz isso. Quem faz isso, é capaz de vacinar 30 milhões ou 40 milhões de pessoas."

O vírus que causa a gripe já condenou milhões de aves na Ásia e desde 2003 causou a morte de 67 pessoas.

Fábrica

O médico diz que, em 2006, será inaugurada uma fábrica para a produção de vacinas para o vírus influenza no Instituto Butantan, que contará com um laboratório-piloto para a produção de vacinas contra a gripe aviária.

De acordo com Mercadante, em seu primeiro lote --previsto para o primeiro semestre de 2006--, o laboratório-piloto terá capacidade para produzir 20 mil doses de vacina contra a gripe aviária . O vírus modificado geneticamente será recebido até o final de 2005 e a fabricação deve ter início em fevereiro de 2006.

"O Butantan será um dos poucos locais do mundo a abrigar uma fábrica de vacinas. E, por enquanto, o Brasil é único país em desenvolvimento capaz de produzir em escala industrial a vacina da gripe aviária. Nós teremos capacidade de fabricar 60 milhões de doses por ano. Isso é muito importante tanto para a saúde pública como para a economia do Brasil."

Segundo ele, não há a necessidade de se fabricar doses de vacina em grande escala neste momento, pois o vírus H5N1 pode se modificar antes de causar uma pandemia. "As mutações acontecem muito rápido".

Vacinação

De acordo com o diretor do Butantan, ainda não existe uma política definida de vacinação. A quantidade de doses e de pessoas vacinadas dependerá da ocorrência ou não de uma epidemia da doença no país. "Tudo dependerá do número de casos e do controle dos focos", diz.

Mercadante cita como exemplo o surto de meningite no Brasil. "Quando houve uma epidemia de meningite, fizemos a vacinação em todo o país, que era a única maneira de ter impacto na incidência da doença. Depois disso, ainda existem casos de meningite, mas a vacinação não é feita sistematicamente, mas, sim, quando há surtos localizados", explica.

No caso da gripe aviária, diz o especialista, não existe imunidade contra o vírus entre a população, já que se trata de um vírus novo. "Por isso, ele pode se alastrar, como foi o caso, por exemplo, da gripe espanhola [que matou entre 20 milhões e 40 milhões de pessoas, entre 1918 e 1919].

Segundo o epidemiologista, a vacina será uma das ferramentas de uma ação pública, mas não será, a princípio, disponibilizada no mercado. "A vacinação será feita de forma controlada, de acordo com uma política de vigilância e de controle da doença, e se modificará dependendo da evolução da epidemia".

Vigilância

De acordo com o médico, além da fabricação da vacina, o Brasil já está tomando outras medidas de prevenção à gripe aviária, como a vigilância sanitária.

"Estamos mantendo a vigilância sanitária sobre as aves e alertas para o aparecimento de casos da doença entre aves no Brasil. O vírus ainda ataca essencialmente aves, e se dissemina de país para país através das aves migratórias".

Mercadante diz que a vigilância sanitária [como prevenção] é feita em todo o mundo. E explica que uma vez detectado um foco da doença, ele deve ser eliminado, para que se impeça que o vírus se espalhe e contamine humanos.

Segundo o especialista, outro ponto importante de prevenção é o diagnóstico precoce entre humanos. "A doença é grave e de alta mortalidade, e exige tratamento com internação. O diagnóstico precoce é importante para que ela seja tratada imediatamente e para que o vírus não seja transmitido a outras pessoas."

Pandemia

O diretor o Butantan disse que o risco de ocorrência de uma pandemia depende de um conjunto de probabilidades que devem ser acompanhadas e controladas, como a transformação do vírus.

"O grande risco de acontecer uma pandemia é a ocorrência de uma modificação do vírus H5N1, que propicie um vírus modificado, transmissível de homem para homem. Esse é o grande risco, e foi o que aconteceu no passado em outras epidemias de influenza", explica.

O vírus da gripe aviária pode contaminar os humanos por meio das vias respiratórias superiores [nariz, garganta] e pelo contato com mucosas. "Existe a suspeita de que ingerir carne de uma ave infectada também transmita o vírus, mas isto ainda não foi comprovado", diz.

De acordo com Mercadante, caso a doença permaneça transmissível apenas entre aves, o risco de uma pandemia é pequeno. "Se começarem a ocorrer mais casos em humanos, o risco aumenta. Se há 20 casos, depois 100, depois 200, a probabilidade de o vírus passar a ser transmissível entre humanos é cada vez maior. Portanto, a vigilância internacional é importantíssima, e é por isso que a OMS (Organização Mundial de Saúde) e os órgãos internacionais fazem tanto "alarde". Todos estão mobilizados para o risco e o controle dessa ameaça de pandemia."

Leia mais
  • Entenda como o vírus age no corpo humano
  • Vírus da gripe aviária pode sofrer mutação e causar pandemia

    Especial
  • Leia cobertura completa sobre a gripe aviária
  • Veja mapa dos países atingidos pela gripe do frango
  • Leia o que já foi publicado sobre a gripe aviária
  •  

    Publicidade

    Publicidade

    Publicidade


    Voltar ao topo da página