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22/12/2005
-
11h55
AFRA BALAZINA
da Folha de S.Paulo
ROGÉRIO CASSIMIRO
repórter-fotográfico da Folha de S.Paulo
Bem na margem do poluído rio Tietê, o morador de rua Tiago dos Santos, 20, pega sua garrafinha plástica e a enche com a água suja que escorre da saída de uma galeria pluvial. Sem pestanejar, bebe todo o líquido de uma vez.
A cena foi presenciada pela reportagem da Folha na última terça-feira e, segundo o próprio garoto, se repete nos dias de calor há dois meses, depois de um amigo lhe mostrar o "bebedouro".
Além de matar a sede, Tiago usa a água do bueiro que desemboca no rio, na altura da ponte do Limão (zona norte de São Paulo), para tomar banho e lavar suas roupas. O rapaz diz considerar a água limpa e, por isso, não vê problema nenhum em utilizá-la.
"Essa água vem dos bombeiros [cujo posto fica próximo ao local]", diz acreditar. Tiago mora a cerca de 700 m dali, ao lado da ponte da Casa Verde, na praça Antonio P. Rodrigues Filho.
Para chegar à saída de água, aproveita as escadas na ponte da Casa Verde utilizadas pelos funcionários que trabalham na obra de rebaixamento da calha do rio Tietê. Dessa forma, vai até o local, na ponte do Limão, sem precisar atravessar a marginal.
Proveniente de uma galeria de águas pluviais, o líquido usado pelo jovem é transparente e não possui cheiro. Entretanto, segundo a Subprefeitura da Casa Verde, não é aconselhável utilizar aquela água em situação nenhuma, muito menos tomá-la.
Para o órgão, a água da galeria provavelmente está contaminada por esgoto clandestino. De acordo com a Sabesp, a água de galeria pluvial não recebe tratamento e agrega toda a "poluição difusa" da cidade --como poeira, papel de bala e pontas de cigarro.
Apesar disso, os funcionários que trabalham na obra do rio Tietê dizem usar a água nos radiadores das máquinas. "Pode não ser limpinha, mas esgoto também não é", diz um trabalhador. Os funcionários afirmam ser comum ver o jovem e seus amigos pela área. Já o reconhecem e até param a máquina para ele poder passar.
"Ao lado da saída que eu uso fica uma de esgoto. Dá para ver a diferença porque sobra lodo no chão", argumenta Tiago.
Conseqüências
O diretor técnico da Uniágua (Universidade da Água), Carlos Eduardo Porto Palma, diz que a ingestão de água de galerias pluviais pode ser prejudicial à saúde de diferentes maneiras.
"A água possui muitos microorganismos. Nosso corpo consegue absorver uma certa quantidade deles. Depois, passam a causar problemas, como diarréia. No caso de a água estar contaminada com agentes químicos, como metais pesados, sua ingestão pode causar até a morte", afirma Palma, engenheiro sanitarista pós-graduado na USP.
De acordo com ele, mesmo que a água tenha aparência limpa, pode conter uma série de bactérias, "principalmente em uma cidade com mais de 10 milhões de habitantes". "A primeira providência antes de ingerir qualquer água é a realização de testes para descobrir sua composição. Nós não conseguimos enxergar muitas coisas", afirma o engenheiro.
Se a água contiver esgoto, diz Palma, o estrago é certo. Mas Tiago afirma que nunca passou mal após tomar a água e que também não sentiu coceiras depois de tomar banho ali. O engenheiro sanitarista diz que há elementos que podem ser cumulativos, de modo a provocar efeitos no futuro. "É profundamente lamentável que cenas como essa ocorram."
Especial
Leia o que já foi publicado sobre o rio Tietê
Água da sarjeta "mata a sede" no Tietê
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da Folha de S.Paulo
ROGÉRIO CASSIMIRO
repórter-fotográfico da Folha de S.Paulo
Bem na margem do poluído rio Tietê, o morador de rua Tiago dos Santos, 20, pega sua garrafinha plástica e a enche com a água suja que escorre da saída de uma galeria pluvial. Sem pestanejar, bebe todo o líquido de uma vez.
A cena foi presenciada pela reportagem da Folha na última terça-feira e, segundo o próprio garoto, se repete nos dias de calor há dois meses, depois de um amigo lhe mostrar o "bebedouro".
Além de matar a sede, Tiago usa a água do bueiro que desemboca no rio, na altura da ponte do Limão (zona norte de São Paulo), para tomar banho e lavar suas roupas. O rapaz diz considerar a água limpa e, por isso, não vê problema nenhum em utilizá-la.
"Essa água vem dos bombeiros [cujo posto fica próximo ao local]", diz acreditar. Tiago mora a cerca de 700 m dali, ao lado da ponte da Casa Verde, na praça Antonio P. Rodrigues Filho.
Para chegar à saída de água, aproveita as escadas na ponte da Casa Verde utilizadas pelos funcionários que trabalham na obra de rebaixamento da calha do rio Tietê. Dessa forma, vai até o local, na ponte do Limão, sem precisar atravessar a marginal.
Proveniente de uma galeria de águas pluviais, o líquido usado pelo jovem é transparente e não possui cheiro. Entretanto, segundo a Subprefeitura da Casa Verde, não é aconselhável utilizar aquela água em situação nenhuma, muito menos tomá-la.
Para o órgão, a água da galeria provavelmente está contaminada por esgoto clandestino. De acordo com a Sabesp, a água de galeria pluvial não recebe tratamento e agrega toda a "poluição difusa" da cidade --como poeira, papel de bala e pontas de cigarro.
Apesar disso, os funcionários que trabalham na obra do rio Tietê dizem usar a água nos radiadores das máquinas. "Pode não ser limpinha, mas esgoto também não é", diz um trabalhador. Os funcionários afirmam ser comum ver o jovem e seus amigos pela área. Já o reconhecem e até param a máquina para ele poder passar.
"Ao lado da saída que eu uso fica uma de esgoto. Dá para ver a diferença porque sobra lodo no chão", argumenta Tiago.
Conseqüências
O diretor técnico da Uniágua (Universidade da Água), Carlos Eduardo Porto Palma, diz que a ingestão de água de galerias pluviais pode ser prejudicial à saúde de diferentes maneiras.
"A água possui muitos microorganismos. Nosso corpo consegue absorver uma certa quantidade deles. Depois, passam a causar problemas, como diarréia. No caso de a água estar contaminada com agentes químicos, como metais pesados, sua ingestão pode causar até a morte", afirma Palma, engenheiro sanitarista pós-graduado na USP.
De acordo com ele, mesmo que a água tenha aparência limpa, pode conter uma série de bactérias, "principalmente em uma cidade com mais de 10 milhões de habitantes". "A primeira providência antes de ingerir qualquer água é a realização de testes para descobrir sua composição. Nós não conseguimos enxergar muitas coisas", afirma o engenheiro.
Se a água contiver esgoto, diz Palma, o estrago é certo. Mas Tiago afirma que nunca passou mal após tomar a água e que também não sentiu coceiras depois de tomar banho ali. O engenheiro sanitarista diz que há elementos que podem ser cumulativos, de modo a provocar efeitos no futuro. "É profundamente lamentável que cenas como essa ocorram."
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