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22/01/2006 - 10h47

Leme de 300 anos é tirado do fundo do mar em Florianópolis

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AFRA BALAZINA
da Folha de S.Paulo
JOEL SILVA
repórter-fotográfico da Folha de S.Paulo

Após cerca de 300 anos no fundo do mar, o leme de um navio naufragado foi resgatado próximo à praia dos Ingleses, em Florianópolis, na quarta-feira passada. Muito mais do que uma peça para museu, o leme de uma tonelada e quase sete metros pode ajudar a equipe da ONG Projeto Arqueologia Subaquática, que realizou a retirada, a identificar a embarcação e desvendar sua história.

A descoberta do navio aconteceu por acaso. O arquiteto Alexandre Viana, 34, que praticava pesca submarina, encontrou uma botija (espécie de vasilhame de barro que servia para levar azeite, vinho ou água) enquanto mergulhava, em 1989. A partir de então, passou a desconfiar que um naufrágio havia ocorrido na região e começou a pesquisar o assunto.

Em março de 2004, com autorização da Marinha, a ONG deu início aos trabalhos de campo. Até agora, cerca de 13 mil peças foram retiradas do navio e estão expostas num museu improvisado na praia dos Ingleses. Entre elas estão cerâmicas, relógios de sol, ossos humanos, anéis, munição, brasões, tinteiros e uma escala de navegação datada de 1683.

Antes da retirada do material, o local foi fotografado. Desenhos também foram feitos embaixo d'água --com lápis comum, sobre uma prancha de acrílico. Depois de copiá-los em papel, na terra, pode-se apagar a prancha com borracha normal e reutilizá-la.

"Sem dúvida o leme foi a peça mais importante que encontramos até agora. Os pescadores, que não acreditavam na existência do navio, deram o braço a torcer", afirma Viana.

Ainda incipiente no Brasil, a arqueologia subaquática tem a missão de preservar o patrimônio cultural guardado embaixo d'água e de conhecer nosso passado submerso. Estima-se que 10 mil navios tenham afundado na costa brasileira.

Catalogados, entretanto, existem aproximadamente 4.000 e, localizados, cerca de 500.

Porém, muitas embarcações que navegaram clandestinamente em águas brasileiras podem ter afundado sem que se saiba.

A suspeita da equipe de Santa Catarina, que sobrevive com patrocínios, é que o navio seja um galeão espanhol, que naufragou entre 1683 e 1735. O barco possivelmente sofreu um incêndio --o leme tem marcas de fogo. Um dos brasões tem o desenho de uma águia bicéfala, símbolo utilizado pela Marinha espanhola. Foi encontrada também uma tampa de garrafa da dinastia inglesa Tudor e um selo de tecido holandês.

Viana acredita que serão necessários mais três anos para terminar de desvendar o mistério. "Escavamos 200 m2 e penso que será necessário escavar mais 600 m2."

Os pesquisadores esperam encontrar agora os canhões. "Já localizamos o carregador de canhão. É uma peça pequena, de tamanho semelhante ao de uma garrafa térmica."

Para conscientizar as pessoas da importância de preservar os sítios arqueológicos submersos, a ONG criou um gibi para distribuir em escolas. O livreto conta o início do projeto e responde porque se deve proteger os naufrágios. "Destruir os sítios arqueológicos é como apagar uma parte de nossa história. Preservando estes testemunhos estamos protegendo as realizações e os sonhos de nossos ancestrais", diz o gibi.

Para o almirante Armando Senna Bittencourt, diretor do Patrimônio Histórico e Cultural da Marinha, um navio naufragado é como uma cápsula do tempo, que pode mostrar costumes e usos de uma época.

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