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27/01/2006 - 10h04

Febem promete, mas não dá bolsa a 12 jovens

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GILMAR PENTEADO
da Folha de S.Paulo

Eles deviam estar se preparando para iniciar o segundo ano da faculdade. Passaram no vestibular quando eram internos da Febem (Fundação Estadual do Bem-Estar do Menor) de São Paulo, comemoraram como calouros, mas nunca chegaram a entrar em uma sala de universidade.

Doze internos passaram no vestibular no final de 2004, mas ficaram sem a bolsa integral prometida pela Febem. Para a maioria, o sonho da faculdade cedeu lugar à rotina do desemprego. Um dos jovens, porém, retornou para a prisão, desta vez como adulto.

A participação de internos em vestibulares é incentivada pela Febem principalmente desde 2003. Foi no ano seguinte que a fundação conseguiu a adesão de um número maior de jovens devido à promessa de bolsas de estudos por meio de convênios do governo de Geraldo Alckmin (PSDB) com universidades particulares.

A maior parte seria incluída no programa Bolsa Escola da Família (em troca, o aluno trabalha em escolas públicas nos finais de semana).

A Febem responsabiliza os jovens. Segundo a fundação, as bolsas foram negadas para três internos que se envolveram em motins --inviabilizando autorização judicial para atividade externa-- e para nove que desobedeceram orientação e escolheram cursos não-previstos no acordo. Segundo a Febem, 14 faculdades participaram da parceria no final de 2004 e 18 internos conseguiram bolsa e iniciaram os estudos.

Relatos de ex-internos que passaram no vestibular e de seus familiares e a divulgação, na época, do programa pela própria Febem contrariam a versão da fundação.

A Folha localizou cinco dos 12 jovens que não conseguiram bolsa para o curso no qual foram aprovados. Quatro estão desempregados e um está preso. Os ex-internos e familiares afirmam que foram enganados. Segundo eles, a Febem informou que o jovem poderia escolher qualquer curso. "Se não fosse isso, você acha que eu iria escolher um curso que não desse bolsa?", questiona Aluisio, 19.

Ele está entre os nove que, segundo a Febem, escolheram cursos fora do convênio. No dia 9 de dezembro de 2004, porém, Aluísio foi um dos jovens escolhidos pela própria Febem para divulgar o projeto em uma entrevista para o SPTV, da Rede Globo.

Na ocasião, o repórter citou que ele passou para webdesign na Unip (Universidade Paulista) e salientou que os internos tiveram "liberdade de escolha". O então presidente da Febem, Alexandre de Moraes estava na entrevista. "Por que me convocariam para dar entrevista se o meu curso não estivesse nesse convênio?", questiona Aluisio.

Alexandre, 20, foi outro entrevistado por indicação da Febem. Ele passou em biologia. Agora, a Febem diz que ele não ganhou a bolsa porque o curso não estava entre os oferecidos. Segundo uma irmã de Alexandre, ele aceitou uma bolsa de pedagogia, mas não se adaptou ao curso.

Valdicley, 19, não recebeu bolsa para o curso de direito, segundo a Febem, porque se envolveu em um motim, o que inviabilizaria autorização judicial para atividades externas. A Febem diz também que, quando ele saiu em liberdade assistida, "provavelmente não providenciou a matrícula".

"A rebelião foi na quinta e eu saí no sábado. Se eu tivesse algum envolvimento, eles não teriam me libertado", diz Valdicley. Ele saiu no final de janeiro de 2005. Ainda teria todo o ano letivo pela frente.

Valdicley disse que ligou para a Unimar (Universidade de Marília) para saber da bolsa, mas a universidade informou que não sabia da bolsa. "Usaram o nosso nome para ganhar fama", diz.

Hebert, 20, que passou para administração de empresas na Unip --outro curso que a Febem diz estar fora do convênio--, esperou seis meses pela bolsa. "Quando ele viu que não teria bolsa, disse que ia atrás de dinheiro", afirmou Zenaide, 44, mãe de Hebert.

Em maio, o jovem foi preso após cometer um assalto. Foi condenado a cinco anos e seis meses. "Prometeram e não deram. Meu filho ficou mais revoltado", diz.

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