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01/02/2006
-
10h17
AFRA BALAZINA
da Folha de S.Paulo
Antes ocupado por entulho, esgoto e água de enchente, o subsolo do edifício Prestes Maia, 911, uma das principais favelas verticais da cidade de São Paulo, agora abriga uma biblioteca com cerca de 3.500 obras, entre livros, revistas, gibis e enciclopédias.
A "reforma" foi feita por um grupo de sem-teto que invadiu o local em 2002 e mora ali em condições precárias --com ligações clandestinas de água e luz, divisórias de madeiras e um banheiro para cada 15 famílias, em média.
A biblioteca dos sem-teto, que funciona desde dezembro, tem mais publicações do que as salas de leitura de colégios municipais, que são entregues com acervo inicial de 2.000 livros.
Entre os seus títulos, há obras de Machado de Assis, Mark Twain, Kafka, Balzac, Milan Kundera, Jorge Amado e Paulo Coelho e a coleção de Harry Potter.
O acervo do Prestes Maia foi formado com doações de uma ONG e de uma escola, mas também com publicações recolhidas no lixo. As prateleiras e os tapetes que decoram a biblioteca foram obtidos por doação.
O colégio Móbile foi um dos que deu obras aos sem-teto. A coordenadora de 1ª a 4ª série da escola, Eliana Tayano, diz que a doação de 600 livros é a primeira etapa de um projeto comunitário. "Nossa idéia é ir ao prédio para contar histórias", afirma.
O controle do empréstimo de livros na biblioteca é feito pelo catador Severino Manoel de Souza, 56, que tem um caderno para anotar as entradas e saídas.
Foi dele a idéia de fazer uma biblioteca no prédio. "Encontrava livros e não tinha coragem de mandar para a reciclagem", diz. Ele nunca freqüentou a escola e aprendeu a ler com "uma cartilha de ABC e a ajuda de um tio".
O devorador de livros do Prestes Maia é o ambulante Lamartine Brasiliano, 38, que lamenta que o lugar não tenha ainda obras do escritor Gabriel García Márquez.
Para incentivar a leitura, no subsolo está pichada uma frase do jornalista Paulo Francis: "Quem não lê não pensa, e quem não pensa será para sempre um servo". Há desenhos de Bob Marley e Che Guevara nas paredes.
Reintegração de posse
A biblioteca atende às 468 famílias que moram no prédio, ligadas ao MSTC (Movimento dos Sem Teto do Centro). Mas os habitantes podem não ter tempo de usufruir do acervo: a PM se prepara para fazer a reintegração de posse, autorizada pela Justiça, no local. O despejo deve ocorrer a partir do dia 15 de fevereiro.
As famílias se dividem nos 20 andares de dois blocos em locais parecidos com barracos, separados por pedaços de madeira e com poucos móveis. Os corredores são coloridos por roupas penduradas, e os vidros das janelas, quebrados, foram substituídos por papelão. A maioria dos habitantes trabalha como ambulante ou faz bicos.
Porém, diferentemente da maioria da população de baixa renda da cidade, que não tem acesso à cultura, as famílias do Prestes Maia vão freqüentemente à Pinacoteca do Estado. Em 2005, os sem-teto integraram o Programa de Inclusão Sociocultural do museu, onde estiveram sete vezes.
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Leia o que já foi publicado sobre sem-teto
Sem-teto faz biblioteca em prédio invadido
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da Folha de S.Paulo
Antes ocupado por entulho, esgoto e água de enchente, o subsolo do edifício Prestes Maia, 911, uma das principais favelas verticais da cidade de São Paulo, agora abriga uma biblioteca com cerca de 3.500 obras, entre livros, revistas, gibis e enciclopédias.
A "reforma" foi feita por um grupo de sem-teto que invadiu o local em 2002 e mora ali em condições precárias --com ligações clandestinas de água e luz, divisórias de madeiras e um banheiro para cada 15 famílias, em média.
A biblioteca dos sem-teto, que funciona desde dezembro, tem mais publicações do que as salas de leitura de colégios municipais, que são entregues com acervo inicial de 2.000 livros.
Entre os seus títulos, há obras de Machado de Assis, Mark Twain, Kafka, Balzac, Milan Kundera, Jorge Amado e Paulo Coelho e a coleção de Harry Potter.
O acervo do Prestes Maia foi formado com doações de uma ONG e de uma escola, mas também com publicações recolhidas no lixo. As prateleiras e os tapetes que decoram a biblioteca foram obtidos por doação.
O colégio Móbile foi um dos que deu obras aos sem-teto. A coordenadora de 1ª a 4ª série da escola, Eliana Tayano, diz que a doação de 600 livros é a primeira etapa de um projeto comunitário. "Nossa idéia é ir ao prédio para contar histórias", afirma.
O controle do empréstimo de livros na biblioteca é feito pelo catador Severino Manoel de Souza, 56, que tem um caderno para anotar as entradas e saídas.
Foi dele a idéia de fazer uma biblioteca no prédio. "Encontrava livros e não tinha coragem de mandar para a reciclagem", diz. Ele nunca freqüentou a escola e aprendeu a ler com "uma cartilha de ABC e a ajuda de um tio".
O devorador de livros do Prestes Maia é o ambulante Lamartine Brasiliano, 38, que lamenta que o lugar não tenha ainda obras do escritor Gabriel García Márquez.
Para incentivar a leitura, no subsolo está pichada uma frase do jornalista Paulo Francis: "Quem não lê não pensa, e quem não pensa será para sempre um servo". Há desenhos de Bob Marley e Che Guevara nas paredes.
Reintegração de posse
A biblioteca atende às 468 famílias que moram no prédio, ligadas ao MSTC (Movimento dos Sem Teto do Centro). Mas os habitantes podem não ter tempo de usufruir do acervo: a PM se prepara para fazer a reintegração de posse, autorizada pela Justiça, no local. O despejo deve ocorrer a partir do dia 15 de fevereiro.
As famílias se dividem nos 20 andares de dois blocos em locais parecidos com barracos, separados por pedaços de madeira e com poucos móveis. Os corredores são coloridos por roupas penduradas, e os vidros das janelas, quebrados, foram substituídos por papelão. A maioria dos habitantes trabalha como ambulante ou faz bicos.
Porém, diferentemente da maioria da população de baixa renda da cidade, que não tem acesso à cultura, as famílias do Prestes Maia vão freqüentemente à Pinacoteca do Estado. Em 2005, os sem-teto integraram o Programa de Inclusão Sociocultural do museu, onde estiveram sete vezes.
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