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15/02/2006 - 23h26

Ex-segurança preso injustamente reencontra filha em Minas

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PAULO PEIXOTO
da Agência Folha, em Belo Horizonte

No seu primeiro dia fora do presídio, após quase oito anos e meio preso por um crime que não cometeu, o ex-segurança Wagno Lúcio da Silva, 41, pôde nesta quarta-feira fazer o que mais desejava desde que foi injustamente para atrás das grades: abraçar e ficar com a a filha, hoje com 11 anos. Quando Silva viu a criança pela última vez ela tinha sete anos.

O reencontro com a filha na cidade de Congonhas (90 km de Belo Horizonte), onde eles moram, levou Silva às lágrimas.

Na terça-feira (14), poucas horas antes de ser inocentado pelo Tribunal de Justiça de um crime de latrocínio, pelo qual fora condenado a 23 anos de prisão, a única lamentação do ex-segurança era não ter podido acompanhar o crescimento da única filha.

Ele apresentou a menina aos repórteres que o acompanhavam nesta quarta em Congonhas. Abraçado a ela, disse, orgulhoso: "Essa é a minha filha. Tinha muitos anos que eu não a via. Não tive a oportunidade de vê-la crescer. Olha como essa menina é bonita!".

A última vez que ele a vira foi ao ser transferido da cadeia em Congonhas para um presídio na região metropolitana de Belo Horizonte, há quatro anos. "A existência da minha filha, abaixo de Deus, me deu força para superar os obstáculos dentro da cadeia e vencer. Então, filha, nós vencemos", disse ele, acrescentando que viveu anos de "muita angústia e muita tristeza".

Silva disse ter sido torturado. "A pessoa quando vai presa e não confessa um crime, a possibilidade de eles [policiais] muitas vezes quererem descobrir um crime é através de tortura e espancamentos. Aconteceu isso comigo, sim. Eu perdi meus dentes superiores pelos espancamentos, [fui] muito torturado, muito humilhado."

"Em momento algum em pude confessar um crime que eu não devia. Eu podia morrer ali, mas nunca confessar um crime que eu não fiz."

Foi a Secretaria Nacional de Direitos Humanos que intercedeu no caso por achar que havia um erro na condenação. Silva fora acusado por um menor, em 1997, de assaltar e matar um taxista. Não havia provas. O rapaz, hoje com 24 anos, também envolvido, confessou que mentiu porque estava ameaçado pelos supostos responsáveis pelo crime.

Prisão

A prisão levou Silva a perder a mulher, que o abandonou logo nos primeiros meses de sentença. Mas ele diz não guardar nenhuma "mágoa" dela. "Ela era uma boa mulher, mas era nova, tinha apenas 23 anos, e foi influenciada pelos amigos a não me esperar por tanto tempo. Eu entendo."

Ao visitar a casa em que morava com a ex-mulher e a filha --atualmente abandonada e cercada pelo mato--, ele se emocionou. "Meu sonho é ter a minha casa com a minha família." Silva foi recebido com festa e fogos de artifício pelos parentes e amigos na noite de quarta em Congonhas. Dormiu na casa de um tio.

Pela manhã pôde sentir a liberdade num simples gesto. "Quando o galo começou a cantar, eu me levantei, abri a janela e pus a cabeça para fora. Eu respirei aquele ar de liberdade. É uma bênção", disse ele, que foi a uma igreja evangélica agradecer.
 

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