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19/02/2006 - 09h30

De olho nos euros, prostitutas vão à Copa

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DANIELA TÓFOLI
da Folha de S.Paulo

O passaporte de Marjorri, 25, está pronto há dez dias. O dicionário de alemão foi comprado. Até o fim de maio, quando embarca para Berlim, ela espera ter aprendido um pouco mais do que "danke" (obrigado) para atender aos pedidos de seus clientes.

Garota de programa há seis anos, acostumada com executivos classe A de São Paulo, Marjorri é uma das brasileiras que irão para as cidades germânicas se prostituir na Copa do Mundo. Segundo estimativas de ONGs, cerca de 20 mil mulheres da América Latina e do Caribe trabalharão na Alemanha durante o evento.

Patty, 23, universitária e prostituta há dois anos, também está tirando a documentação e tenta juntar dinheiro para chegar a Munique ou Frankfurt. "Não entendo nada de futebol, nem time tenho, mas quero muito ir." Sem nenhum contrato fechado, ao contrário de Marjorri --que já tem emprego em uma casa noturna-, ela sonha com os euros. "Muitos dos meus clientes estarão lá e sei que terei programa garantido. Vou cobrar em euro e, assim, consigo receber mais que o dobro do que ganharia se ficasse aqui."

O lucro em moeda européia atiça também aliciadores. Em Campo Grande (MS), deputados estaduais apuram denúncias de uma rede que procura meninas para os jogos. Famílias fizeram denúncias anônimas a um programa de TV contando que suas filhas foram abordadas na saída da escola. Homens com panfletos as convidam para integrar uma torcida organizada --com tudo grátis.

A Copa, de 9 de junho a 9 de julho, deve reunir mais de 3 milhões de turistas, a grande maioria homens. De olho nesse mercado, além das prostitutas, estão os empresários, que erguem grandes bordéis na Alemanha (leia texto na página C3). Em Munique, onde ocorrerá o jogo de abertura das finais, a previsão é que aumente em pelo menos 30% o número de garotas de programa na cidade.

Ninguém sabe ao certo quantas garotas sairão do Brasil, mas a Coalizão contra o Tráfico de Mulheres e Meninas (CATW) calcula que 50 mil prostitutas irão à Alemanha, sendo 40% da América Latina e do Caribe.

Mas muitas não irão por livre e espontânea vontade, como Patty e Marjorri.

"Várias mulheres chegarão lá acreditando que trabalharão em casas de família", diz a diretora regional da CATW, Teresa Ulloa Ziaurriz. "Mas acabarão nos bordéis, que buscam mais mulheres por conta da procura durante a Copa." A demanda facilita a ação de aliciadores, principalmente em áreas mais pobres da América.

Há também o risco de armadilhas, diz a socióloga Friederike Strack, que há sete anos lida com prostitutas na Alemanha e agora desenvolve um trabalho na Davida, entidade de prostitutas no Rio de Janeiro que abriu a grife Daspu. "Elas acham que receberão mais lá porque é em euro, mas se esquecem de que têm muitos gastos e da grande concorrência", diz. "Muitas se decepcionam e já ouvi meninas contando que dá para ganhar mais com turistas de Copacabana do que na Europa."

Para ela, as garotas precisam tomar alguns cuidados, como saber onde trabalharão. "Também é bom levar telefones de organizações e consulados que possam ajudar. Em razão da Copa, várias entidades estarão em alerta."

Campanhas

As organizações internacionais já se mobilizam. A Imbradiva (Iniciativa de Mulheres Brasileiras contra Discriminação e Violência), coordenada pela brasileira Sonia Leão-Sitals em Frankfurt, distribuirá folhetos, em parceria com a ONG Direito da Mulher é Direito Humano, aos clientes de bordéis para alertar para sinais que revelam uma mulher aliciada.

A Imbradiva colará etiquetas em português nos folhetos com os sintomas, como desorientação e medo, pagamento a terceiros, atendimento só em hotéis ou casas e aparência de maus-tratos.

Já o Grupo das Mulheres Alemãs enviou cartas a ícones da seleção germânica, como Michael Ballack e Oliver Kahn. No texto, pedem declarações contra a exploração sexual de mulheres.

O mesmo faz a CATW. No seu abaixo-assinado na internet (www.catwinternational.org), que até sexta tinha 8.167 assinaturas, a organização pede que os 32 países que participam do Mundial se oponham à promoção da prostituição e dissociem publicamente seus times da indústria sexual. "Comprar sexo não é esporte", diz o slogan da campanha.

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