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23/02/2006 - 18h09

Confira a íntegra do bate-papo com Luiz Fernando Vianna

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da Folha Online

Confira abaixo a íntegra do bate-papo com o jornalista Luiz Fernando Vianna sobre os desfiles das escolas de samba do Grupo Especial do Rio de Janeiro. O texto abaixo reproduz a forma como os participantes digitaram.

Bem-vindo ao Bate-papo com Convidados do UOL. Converse agora com o jornalista Luiz Fernando Vianna sobre o desfile das escolas de samba do Rio de Janeiro. Para enviar sua pergunta, selecione o nome do convidado no menu de participantes. É o primeiro da lista.

(05:06:18) Tantan fala para Luiz Fernando: Luiz Fernando, vc acha que o Carnaval de SP é mesmo muito inferior ao do Rio??

(05:07:30) Luiz Fernando: Tantan, em termos de tamanho e de história (o do Rio foi oficializado em 35, o de SP nos anos 60), sim. Mas SP tem bons sambas e ótimos sambistas. Acho que o Carnaval paulista está crescendo.

(05:07:42) SkInDô fala para Luiz Fernando: Qual é o tipo de Carnaval que atrai mais pessoas, na sua opinião? Os de clubes, os desfiles de escolas de samba ou de trios elétricos, como no Nordeste??

(05:09:27) Luiz Fernando: SKInDô: eu acho que são os Carnavais de rua do Nordeste. A quantidade de gente que vai às ruas em Salvador, Recife, Olinda e outras cidades é enorme. Mas os desfiles ainda atraem muita gente no Rio, ainda que os preços estejam mais acessíveis a turistas e à classe média.

(05:09:27) Ana fala para Luiz Fernando: Por que não há mais desfile sem efeitos espaciais. O que foi feito do Carnaval tradicional?

(05:11:35) Luiz Fernando: Ana, os desfiles são espetáculos cada vez mais visuais, que precisam causar impacto a multidões no Sambódromo e pela TV. Então, os carnavalescos buscam recursos mais espetaculares, o que a tecnologia proporciona. Não acho isso ruim, mas reconheço que há um exagero. Ainda prefiro bom samba, componentes alegres e fantasias e alegorias criativas.

(05:11:35) anderson_sux fala para Luiz Fernando: como esta sendo os arranjos para o carnaval carioca? as escolas jah estão preparadas?

(05:13:03) Luiz Fernando: Anderson, hoje, a três dias do desfile, está tudo quase pronto. Algumas escolas, que têm enfrentado problemas de organização nos últimos anos, ainda estão atrasadas. É o caso do Portela. Hoje, fazer Carnaval é uma linha de montagem, ainda que artesanal em vários aspectos. Quanto mais organizada uma escola, mais cedo a preparação acaba e melhor ela chega na avenida.

(05:13:06) Ana fala para Luiz Fernando: Por que os carnavalescos sempre falam de colonização portuguesa, índios e escravidão na avenida? Os temas são tão batidos?

(05:14:31) Luiz Fernando: Ana, a história do Brasil sempre foi tema dos Carnavais. Durante muito tempo (dos anos 40 aos 60), era obrigatório que se falasse do Brasil. Hoje não, mas a tentação ficou. Também gosto quando surgem temas diferentes. E gosto ainda mais quando as abordagens são originais, mesmo que os temas já não sejam.

(05:14:54) Iran fala para Luiz Fernando: como você, uma pessoa jovem foi interessar por carnaval, quando basicamente o carnalval vai sendo trocado pelo funk , principalmente pelo público mais jovem. Vc acha que o carnaval está morrendo?

(05:17:07) Luiz Fernando: Iran, acho que o Carnaval não morrerá (pelo menos não para pessoas da minha idade, no futuro distante não sei). Eu sempre gostei de samba e de Carnaval, não sou tão fã assim de funk ou de música pop. Mas o Carnaval é antena de todas as manifestações. Por isso, hoje, o funk tem suas entradas nas batidas das baterias, por exemplo. Afinal, ele faz parte da realidade das pessoas que fazem as escolas de samba. Para o meu gosto, é claro, prefiro o samba sem tantas outras influências.

(05:17:09) ééé fala para Luiz Fernando: Você acha que os sambas enredo deveriam durar além do Carnaval??

(05:18:26) Luiz Fernando: éee, deveriam e, até ali pelos anos 80, duravam. Depois, ficaram muito acelerados, muitos dos melhores sambistas deixaram as disputas, a qualidade caiu, ficou difícil os sambas sobreviverem ao longo do ano. É uma pena, mas isso está ligado à queda de qualidade deles.

(05:19:11) kill bill fala para Luiz Fernando: qual o gasto do estado e prefeitura c/ o evento

(05:21:12) Luiz Fernando: kill bill, o governo do Estado do Rio deu, no início desse mês, R$ 4 milhões para ser divididos entre as 14 escolas do Grupo Especial. A prefeitura deu algo em torno de R$ 360 mil para cada uma. Esse dinheiro da prefeitura entra no bolo que a liga das escolas de samba repassa para as escolas: R$ 2,2 milhões para cada uma neste ano.

(05:21:18) Marta fala para Luiz Fernando: Você já veio participar do Galo algum ano? O que achou?

(05:22:26) Luiz Fernando: Marta, ainda não fui, infelizmente. Um dia, quando não for trabalhar no Carnaval do Rio, posso conhecer.

(05:22:32) Nana fala para Luiz Fernando: Os bailes de Carnaval atualmente tocam axé. Vc acha que as marchinhas estão condenadas ao esquecimento?

(05:24:14) Luiz Fernando: Nana, as marchinhas antigas ainda tocam nos bailes, ao menos aqui no Rio. Não muitas, é verdade, mas algumas tocam. No Rio, houve neste ano um concurso de marchinhas, cuja final passou até no "Fantástico". Está sendo feita uma tentativa de retomada da tradição das marchinhas. Tomara que se consiga, porque, sem haver renovação, mesmos as inesquecíveis do passado vão começar a ser esquecidas.

(05:24:14) Julia fala para Luiz Fernando: Quanto custa um desfile do porte de uma Beija-Flor ou Unidos da Tijuca?

(05:25:34) Luiz Fernando: Julia, um desfile da Beija-Flor não sai por menos de R$ 4 milhões. O da Unidos da Tijuca é mais barato, porque o carnavalesco da escola não vem aceitando patrocínios. Deve ficar entre R$ 2,5 milhões e R$ 3 milhões. Por menos do que isso é difícil uma escola do Grupo Especial desfilar.

(05:25:34) S E R V O28 fala para Luiz Fernando: A SEGURANÇA NO RIO PARA O CARNAVAL É AUMENTADA NESSES DIAS?

(05:27:01) Luiz Fernando: Servo 28, é aumentada sim. Neste ano, serão 32 mil policiais trabalhando em todo o Estado, a maioria na capital. Mas não dá para dizer que a segurança é completa. É preciso tomar cuidado no entorno do Sambódromo, porque há assaltos sim. Mas problemas gravas, assassinatos etc., não tem havido.

(05:27:03) Julia fala para Luiz Fernando: Qual foi o melhor Carnaval carioca dos últimos anos e pq?

(05:28:44) Luiz Fernando: Julia, se você está perguntando qual é o melhor desfile, eu cito alguns: "Kizomba", da Vila Isabel, em 88; o que falava da geração da vida, da Mocidade, em 96, e o da Mangueira sobre o Nordeste em 2002. São alguns bons, mas a maioria não tem agradado muito. Nos últimos dois anos pelo menos surgiu o carnavalesco Paulo Barros, que criou alegorias muito interessantes para a Unidos da Tijuca.

(05:28:49) ziriguidum fala para Luiz Fernando: Cada vez mais as escolas fazem desfiles baseados nos patrocinadores. isso não prejudica a esponteneidade da festa?

(05:30:20) Luiz Fernando: ziriguidum, isso prejudica a qualidade dos enredos, a qualidade dos sambas e a lisura da festa. Não vejo como proibir, porque seria autoritário demais, mas acho que as escolas deveriam se esforçar para não precisar desse dinheiro extra, principalmente quando a contrapartida exigida é entrada nas letras dos sambas e nos enredos.

(05:30:20) petropolis fala para Luiz Fernando: Luis vc acha legal as escolas recordar algums enredos de outros carnavais?E vc acha que a falta de bons enredos podem prejudicar a escola?

(05:31:58) Luiz Fernando: petropolis, acho que essa idéia de recordar antigos sambas surgiu da falta de criatividade atual. Na falta de boas idéias de enredo e boa qualidade dos sambas, resolveram voltar ao passado. Não acho ruim, mas preferia que coisas novas surgissem. A falta de bons enredos é péssima para uma escola.

(05:32:15) rainha da bateria fala para Luiz Fernando: O Carnaval de rua do Rio costumava levar muita gente às ruas. Ainda é assim? a população mantém a tradição?

(05:33:55) Luiz Fernando: rainha da bateria, a partir de 85, com a abertura política, o Carnaval de rua do Rio voltou a ganhar força. Hoje em dia, um bloco como o Suvaco de Cristo ou o Simpatia é Quase Amor leva mais de 20 mil pessoas às ruas. Apesar do tumulto, acho isso ótimo. E Afinal, não dá para se resumir o Carnaval ao desfiles de escolas de samba, ainda mais com os ingressos tão caros.

(05:33:55) Iran fala para Luiz Fernando: eu não conheci o carnaval da Rio Branco. As primeiras lembranças que eu tenho é dos últimos tempos da Marquês de Sapucaí, ainda com àquelas estruturas metálicas e o início do sambódromo. O que reparei é que de lá pra cá, tanto o público como o próprio desfile se profissionalizaram. O desfile um espetáculo e o público como parte integrante dele, às vezes posicionando de um lado, principalmente se a escola for a que a mídia tanto anunciou. Isto não acaba descaracterizando a folia e deixando o desfile menos espontâneo?

(05:35:38) Luiz Fernando: Iran, eu, como você, só comecei a ver os desfiles na Sapucaí, ainda antes do Sambódromo. Concordo com você. O público é em geral frio, salvo o do setor 1, onde entram pessoas que recebem ingressos das escolas. Eu penso que deveria haver lugares, ao longo da avenida, a preços populares, para que as escolas não ficassem se exibido para platéias tão frias.

(05:35:51) dona Zika fala para Luiz Fernando: O que achou do incidente que impediu a entrega da Velha Guarda na Mangueira no Carnaval passado?

(05:37:29) Luiz Fernando: dona Zika, na verdade a Velha Guarda da Portela é que não entrou na avenida. Achei horrível, mas significativo: se a avenida fica tomada de jogadores de futebol, apresentadores de TV e mulheres variadas, o lugar dos sambistas tradicionais fica reduzido mesmo. Por causa da desorganização da Portela, a Velha Guarda acabou não desfilando. Foi tristemente comovente a cena.

(05:37:35) Carnaval fala para Luiz Fernando: a violência no rio compromete o carnaval?

(05:38:30) Luiz Fernando: Carnaval, não compromete. A violência compromete a vida como um todo. Mas, no Carnaval, até não tem acontecido grandes problemas que abalem a cidade. Não sei se é uma trégua ou não, mas é o que vem acontecendo.

(05:39:12) ziriguidum fala para Luiz Fernando: Você já desfilou antes de ter que trabalhar na avenida? Em qual escola? E qual era a fantasia?

(05:40:10) Luiz Fernando: ziriguidum, não desfilei. Como nunca freqüentei uma escola só, ficava um pouco constrangido de comprar uma fantasia só para desfilar. Depois, comecei a trabalhar e ficou mais difícil. Um dia, quem sabe...

(05:40:10) Reinaldo fala para Luiz Fernando: existem unn grupos no rio que desfilam fantasiados de máscar e batem uma bola no chão. Na Viradouro eles tem sempre espaço. Que grupos são estes?

(05:42:51) Luiz Fernando: São os chamados grupos de "Clóvis" ou "bate-bolas". É uma tradição dos subúrbios do Rio. Crianças saem muito com essas calorentas e lindas fantasias. E há turmas de "Clóvis", que são adultos que saem pelas ruas dos bairros batendo bola para "assustar" as pessoas e brincar o Carnaval. Infelizmente, algumas dessas turmas às vezes brigam entre si. Mas as fantasias são lindas. E a tradição dos "Clóvis" é maravilhosa, principalmente quando seguida pelas crianças.

(05:42:51) Pandeiro fala para Luiz Fernando: Quando a bateria é nota 10?

(05:44:45) Luiz Fernando: Pandeiro, para a bateria ser nota 10, basta manter o ritmo, não atrapalhar o canto do intérprete e toda a escola. Parece simples, mas não é: são 300 pessoas em cada bateria, imagine o trabalho! Essas inovações (coreografias, paradinhas funk etc.) é que são perigosas, pois põem em risco a manutenção do ritmo. Vamos ver se não acontece nenhum desastre neste ano.

(05:44:57) Ana fala para Luiz Fernando: tem aguma escola que prestigia de coracao?

(05:46:10) Luiz Fernando: Ana, eu sou torcedor da Mangueira, mas não aficcionado. Acabei virando um fã do Carnaval, não de uma escola só. E, também, a Mangueira virou uma enorme empresa, é até difícil entrar lá (mas eu nunca tentei).

(05:46:16) Pandeiro fala para Luiz Fernando: A Mangueira vai bater no mesmo tema que lhe deu o prêmio em 48? O que achou da idéia de voltar a falar sobre o assunto?

(05:47:29) Luiz Fernando: Pandeiro, o tema foi revivido para arrumar patrocínio. Nem conseguiram tanto dinheiro quanto imaginavam. É claro que o rio São Francisco é um tema muito rico, mas não sei se será um grande desfile. E o samba, pelo menos, é certamente inferior ao que Cartola e Carlos Cachaça fizeram em 48.

(05:47:54) davi fala para Luiz Fernando: ola boa tarde Luiz, fiquei sabendo que a beija flor planeja fazer uma paradinha diferente esse ano onde todos atraves de um som vai causar uma especie de explosao sonora o que vc acha disso?

(05:49:11) Luiz Fernando: davi, é isso mesmo. Eles vão parar por um instante e voltar com força total para criar a tal explosão. Eu acho que vai ter impacto. O que me preocupa nessas inovações é a deturpação da função da bateria. Uma bateria já é linda tocando bem, não sei se precisa de tantos e tão arriscados efeitos. Mas, se funcionar bem e não atrapalhar a escola, tudo bem.

(05:49:35) Reinaldo fala para Luiz Fernando: No ano passado eu achei que a Tijuca veio muito bem e ela ficou muito bem colocada. Voce acha que é possível ainda se inovar algo no carnaval? Será que teremos alguma surpresa este ano?

(05:51:00) Luiz Fernando: Reinaldo, nos últimos dois anos só a Tijuca inovou, por causa das alegorias. Foram dois vices, pois a eficiência da Beija-Flor acabou prevalecendo. Eu acho que é possível inovar sim, em especial no aspecto visual, pois os carnavalescos são livres para criar. Os sambas é que estão muito amarrados e parecidos. Gostaria de ver alguma escola ousando no samba.

(05:51:19) sandro fala para Luiz Fernando: como e feita a selecao de jurados que avaliam os desfiles das escolas ?

(05:53:01) Luiz Fernando: Sandro, a maioria dos jurados é antiga. Neste ano, só seis dos 40 estão estreando. São pessoas que gostam de Carnaval e entendem algo do assunto relativo ao quesito (músicos julgam bateria, por exemplo). Alguns resultados são injustos, mas os jurados são orientados para fiscalizar, para só cuidares de seus quesitos, o que faz com que a eficiência seja mais importante do que a criatividade. Por isso, Beija-Flor e Imperatriz ganham tanto.

(05:53:01) NATHI fala para Luiz Fernando: O que acha do enredo do Salgueiro?

(05:54:18) Luiz Fernando: Nathi, estou muito curioso para ver o Salgueiro. Renato Lage é um carnavalesco é ótimo com enredos científicos. Neste ano, o enredo é sobre coisas e animais que não vemos, o mundo invisível da natureza e do corpo humano. Acho que pode ser um desfile bonito. Ganhar já não sei, até porque é a primeira escola a desfilar, o que não ajuda muito.

(05:54:24) CONFETE fala para Luiz Fernando: hoje em dia as notas dez não são justificadas vc acha para maior transparencia isso deveria mudar e q vc acha das notas "QUEBRADAS" (9.1,9.2,9.3...9.9)

(05:56:01) Luiz Fernando: Confete, eu acho que as notas 10 deviam ser justificadas. Ficariam mais claros os critérios. E preferia o tempo dos 9, 9.5 e 10. Esse negócio de tirar décimos parece um tanto aleatória. Mas acho que foi uma decisão da liga para evitar que os jurados dessem 10 para todas as grandes, como às vezes acontecia.

(05:56:14) Tchan fala para Luiz Fernando: Não acha que os artistas estragam o Carnaval? Eles não sambam direito e não cantam o enredo

(05:57:15) Luiz Fernando: Tchan, a priori não há problema em os artistas participarem dos desfiles. O chato é quando eles nem sabem o samba, mal sabem que escola é aquela, estão ali mais para aparecer. Nesse caso, mal são artistas. São só "celebridades"

(05:57:21) Carnaval_man fala para Luiz Fernando: que você espera da Academicos da Rocinha,que é uma surpresa no grupo especial ?

(05:58:17) Luiz Fernando: Carnaval, a Rocinha está gastando um bom dinheiro (cerca de R$ 4 milhões) com um enredo que é sobre dinheiro não trazer felicidade. É um paradoxo que pode render um efeito interessante ou ser só um paradoxo mesmo. Só vendo para saber.

(05:59:11) Luiz Fernando: Pessoal, muito obrigado pelas perguntas. Foi um enorme prazer participar desse bate-papo.

(06:00:15) Adriana/UOL: O Bate-papo UOL agradece a presença de Luiz Fernando Vianna e de todos os internautas. Até o próximo!

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