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11/10/2000 - 19h43

Associação quer mudar regulamento de concurso de Rei Momo no Rio

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CRISTIAN KLEIN
da Folha de S.Paulo, no Rio

A Associação Brasileira Para o Estudo da Obesidade pedirá à Prefeitura do Rio, na próxima semana, que altere o regulamento do concurso de Rei Momo para pôr fim à exigência de peso mínimo para os candidatos. Atualmente, só homens com mais de 110 quilos podem participar.

O endocrinologista Walmir Coutinho, presidente da associação, afirma que o concurso, organizado pela Riotur (empresa de turismo da prefeitura), tem provocado mortes de candidatos, ao forçá-los a engordar. "É para a própria proteção deles", disse Coutinho.

Em 1997, Reynaldo de Carvalho, o Bola, Rei Momo do Carnaval carioca durante nove anos consecutivos (de 1987 a 1995), morreu por problemas decorrentes da obesidade.

Na opinião de Walmir Coutinho, o concurso é um "contra-senso" e contribui para piorar a imagem do país do exterior, no momento em que a Organização Mundial de Saúde tem se esforçado no combate à obesidade. "O concurso trata a obesidade como se ela não fosse uma doença séria", disse o médico.

O atual Rei Momo do Rio, Alex de Oliveira Silva, 28 anos, discorda da opinião do médico. "O carnaval é uma inversão de valores. É quando o gordo, discriminado durante o ano inteiro, vira o rei da festa", afirmou.
Alex acredita que a tradição do Rei Momo é difícil de ser mudada. "É igual a Papai Noel. Não pode ser magro", defendeu.

Walmir Coutinho afirma que já atendeu vários candidatos a Rei Momo no Instituto de Diabetes e Endocrinologia, no centro do Rio. "Eles são forçados a engordar, comer muito antes do concurso. Quando se tratam e perdem peso, não se elegem mais. São punidos. É um desrespeito", disse.

O caso de Alex, porém, contraria a experiência do médico. O Rei Momo afirma ter se submetido a uma cirurgia no estômago em outubro do ano passado para diminuir a fome e o peso. Tinha 220 quilos. Foi eleito para o Carnaval deste ano, com 180 quilos. E hoje está com 150.

"Sou conhecido como o primeiro Rei Momo diet da história, o primeiro que quis emagrecer. Antes ninguém tinha essa consciência", diz.

Alex ressalta que nem sempre o mais gordo é aquele que vence a disputa. "Houve um ano em que um candidato pesava 300 quilos, mas não conseguia nem se movimentar. É preciso ser gordo, mas ter disposição, cantar, ter samba no pé. São três meses de bailes, festas até o carnaval", diz.

Sobre o fim da exigência do peso mínimo, Alex acredita que isso não representaria uma grande mudança no concurso. "Um sujeito alto, forte, um segurança, por exemplo, pode ter facilmente mais de 110 quilos e não ser gordo."

A Riotur disse que vai estudar o pedido da Associação Brasileira Para o Estudo da Obesidade. "A empresa é a gestora da festa pública e fica aberta ao desejo da sociedade", afirmou a assessora de Comunicação do órgão, Cristina Rego Monteiro.

Batista Santoro, presidente do Cordão do Bola Preta, o mais antigo clube carnavalesco do Rio, fundado em 1918, é contra qualquer modificação no regulamento. "Por que mudar? Nunca um Rei Momo morreu durante o carnaval. Morreu em decorrência de obesidade que vinha desde a infância", disse.

Segundo Walmir Coutinho, um terço da população brasileira está acima do peso, o que equivale a 50 milhões de pessoas. Dez por cento são obesos, o que dá 16 milhões de pessoas. "A obesidade pode acarretar doenças do coração, derrame, diabetes e câncer no colo, de mama e no endométrio, no caso das mulheres", disse Walmir, afirmando que 80 mil pessoas morrem por ano no Brasil em decorrência da obesidade. Esses são dados que a associação vai anexar ao pedido à prefeitura.

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