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20/03/2006 - 09h31

Divorciado é quem mais muda de religião

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DANIELA TÓFOLI
da Folha de S.Paulo

Católica desde o berço, daquelas que iam à missa toda semana, a vendedora Rosa Maria Camaroto, 53, sentiu-se a mulher mais feliz do mundo quando ouviu o padre dizer "até que a morte os separe".

Passou sete anos acreditando que o casamento era mesmo um sacramento eterno, até que começou a desconfiar do seu marido.

Descobriu que estava sendo traída e, cheia de dúvidas, não encontrou apoio na paróquia que freqüentava. Fragilizada, aceitou o convite de vizinhos e foi assistir a um culto da Assembléia de Deus. "Senti amparo e nunca mais deixei a nova igreja. Fui acolhida mesmo estando em processo de separação", afirma.

Rosa Maria é o exemplo típico do brasileiro que muda de religião. Segundo uma pesquisa do Centro de Estatística Religiosa e Investigações Sociais (Ceris) da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), são divorciados ou separados judicialmente os que mais trocam de credo no país.

Entre os divorciados, 52% mudaram de fé. Entre os separados judicialmente, 35%. No último censo, de 2000, havia 2.661.741 separados e 2.319.575 divorciados no Brasil. Aplicadas as porcentagens, 2.155.736 pessoas desses grupos trocaram de religião.

Igrejas intolerantes

O que pode explicar a migração é que algumas igrejas, como a Católica, não aceitam plenamente descasados e não permitem uma segunda união. Sentindo-se excluídos, eles partem em busca de uma religião mais tolerante.

Foi o que aconteceu com Rosa Maria. "Não estava mais me sentindo bem na Igreja Católica. Eles não me apoiaram, e eu não poderia nem mais comungar", diz.

Professor de teologia da PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo), Fernando Altemeyer acredita que muitos trocam de fé quando sentem que sua igreja não tem espaço para eles.

"Descasados podem se sentir deixados de lado e mudam de religião por desconforto. Além disso, vivem um momento de ruptura, de análise", esclarece.

A presidente da Associação Brasileira de Terapia Familiar, Sandra Fedullo Colombo, também acredita que, quando uma pessoa rompe um relacionamento afetivo, reavalia o seu cotidiano.

"Alguns descobrem que seguiam a religião por comodismo. Sozinhos, percebem que têm o direito de escolher o seu caminho", afirma Sandra.
Quando a separação é traumática, as pessoas querem apagar lembranças e ainda passam por uma fase de revolta. "Passam a questionar por que Deus não as ajudou, além de questionar as doutrinas e regras", pondera.

Discordância de princípios

As estatísticas do Ceris foram levantadas em 2004 e farão parte de um livro a ser lançado em maio. Os resultados têm representação nacional porque os dados foram projetados levando-se em conta o censo do IBGE.

Eles mostram que a grande mudança ocorre entre os que não tinham religião ou eram católicos e passaram a freqüentar igrejas evangélicas pentecostais.
A maior mobilidade religiosa também se dá com aqueles que têm maior nível de escolaridade: 37% mudaram de credo. A proporção varia pouco quando o corte é feito por idade ou sexo.

A pesquisa do Ceris também perguntou qual é a principal motivação para a mudança de fé. Em primeiro lugar, a "discordância dos princípios ou da doutrina".

Sílvia Fernandes, socióloga e coordenadora do levantamento, explica que não há um estudo detalhado sobre a movimentação dos descasados de cada religião.

"Divorciados transitam mais em todas as religiões, não observamos quanto em cada uma. Não dá para dizer que a mudança de religião dos católicos está associada à não-aceitação do divórcio", diz. Para ela, quando uma pessoa se separa, procura novos espaços de sociabilidade para reconstruir relações de amizade e afetivas.

"A igreja ou o grupo religioso funciona como um novo grupo social, na medida em que promove encontros, festas e cultos."

Altemeyer lembra que, em vários casos, descasados encontram novos parceiros de outra religião e se convertem. Ele acha que as igrejas devem analisar por que estão perdendo seus rebanhos. "É preciso se adequar ao cotidiano e dar respostas aos fiéis que, muitas vezes, sentem-se desamparados."

Pesquisa

A pesquisa Mobilidade Religiosa do Brasil foi feita com 2.870 brasileiros que vivem em 61 municípios, incluídas todas as capitais, de maio a outubro de 2004.

O centro aprofundou a pesquisa, traçou o perfil dos fiéis que mudam de religião e prepara um livro com as análises dos resultados.

Para que a pesquisa tivesse representatividade nacional, os estatísticos fizeram a chamada pós-estratificação --a partir de algumas variáveis na população, como sexo ou idade, atribuem-se pesos diferentes aos participantes.

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