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07/05/2006 - 11h00

Tour leva jovens da Fiesp à miséria carioca

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LAURA CAPRIGLIONE
Enviada especial da Folha de S.Paulo ao Rio de Janeiro

Negros favelados raramente se encontram com a elite paulistana. Esse encontro improvável aconteceu, no fim de semana passado, quando 21 membros do Comitê de Jovens Empreendedores da Fiesp, atendendo a um convite feito por José Junior, do Grupo Cultural AfroReggae, do Rio de Janeiro, toparam entrar em bairros que só aparecem no noticiário de tragédias, em geral ligadas ao narcotráfico --Vigário Geral, Cantagalo, Complexo do Alemão, Parada de Lucas.

Junior quer arrumar parceiros-financiadores para tocar os 61 projetos do AfroReggae, organização com atuação em quatro favelas do Rio de Janeiro e ações em Minas Gerais, no Rio Grande do Sul e, agora, em São Paulo. "A idéia é criar alternativas à cultura do tráfico, devolver ao menino negro da favela a esperança de que pode fazer coisas legais, ter dinheiro, comprar o tênis bacana, sem ter de entrar na rotina de morte do traficante", diz.

É difícil acreditar que um grupo que anda para cima e para baixo, em territórios controlados por traficantes, não deva favores a eles. "O AfroReggae não deve. E, se devesse a uma facção, não conseguiria conversar com gente de outra", diz a chefe da Inteligência da Polícia Civil, Marina Maggessi, que já escutou, por ofício, as conversas de muito bacana com traficantes. "O AfroReggae nunca pediu dinheiro para o tráfico."

Os jovens empreendedores, liderados por Ronaldo Koloszuk, foram --sem guarda-costas, carros blindados ou coletes à prova de balas-- conhecer o lado de lá do Brasil. No balanço do passeio, domingo passado pela manhã, o próprio Koloszuk definiu: "Foi o meu "Diários de Motocicleta.'"

Referia-se ao filme que trata da viagem de Ernesto "Che" Guevara e seu amigo Alberto Granado pela América Latina, marco da construção do futuro guerrilheiro.

Koloszuk não quer a revolução, mas leva muito a sério a idéia de criar o que chama de "nova identidade empresarial paulista", em que quem tem o capital entenda que precisa se preocupar com o ambiente social em que vive.

Pode não dar certo. Mas já serviu para alguma coisa. No sábado à noite, os paulistas foram balançar os esqueletos no clube 00, de jovens modernos, na Gávea.

No domingo, eles comentavam: "Foi o melhor xaveco do mundo"; "As meninas não acreditavam quando a gente dizia que tinha ido passear no Complexo do Alemão, cruzado com fuzis e chefões do tráfico. Rendeu."

Agora, Junior se prepara para levar o próprio presidente da Fiesp, Paulo Skaf, em passeio semelhante, planejado para ocorrer neste mês. "A Fiesp, sim, é o verdadeiro poder paralelo no Brasil. Não o tráfico", diz Junior.

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