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21/05/2006 - 09h02

"Sindicato do crime" arrecada cerca de R$ 700 mil por mês

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ANDRÉ CARAMANTE
GILMAR PENTEADO
da Folha de S.Paulo

O PCC (Primeiro Comando da Capital) alcançou uma estrutura criminosa que arrecada pelo menos R$ 700 mil por mês, segundo dados da polícia paulista, funcionando como uma espécie de sindicato.

Desde 2002, quando assumiu o poder, o chefe da facção criminosa, Marcos Willians Herbas Camacho, o Marcola, implantou uma linha muito mais empresarial do que seus antecessores.

Os integrantes do PCC se transformaram em presos "sindicalizados". A contribuição mensal, antes opcional, virou obrigatória para os membros do grupo. Paga-se pelos supostos benefícios e proteção, seguindo as normas que regem qualquer entidade de classe.

Os tentáculos do "sindicato" se expandiram para fora das cadeias. Além da mensalidade, o associado da rua também passou a contribuir com parte do lucro de seu "negócio", o crime.

E as atividades se diversificaram: aluguel de armas, empréstimos para financiar roubos --com pagamento com juros-- e tráfico de drogas. Qualquer crime na área da facção passou a ser "tributado".

Mas o PCC não é dono de pontos-de-venda de drogas, como ocorre com o Comando Vermelho no Rio de Janeiro. Lembrando o mais conhecido sindicato do crime, a máfia italiana, a facção passou a cobrar por proteção. O dono do ponto-de-venda de droga é local. Mas só sobrevive se aceitar a autoridade do PCC e pagar por isso.

Na arrecadação do lado de fora das cadeias, o "sindicato" dividiu a cidade de São Paulo em quatro partes e criou a figura do "piloto-gerente" --responsável por coordenar as ações e a arrecadação de dinheiro da facção na sua área. "A organização de entrada e saída de dinheiro deles é uma coisa absurda", reconheceu o delegado Ruy Ferraz Fontes, do Deic (Departamento de Investigações sobre o Crime Organizado), em depoimento à CPI do Tráfico de Armas, no dia 10.

Coletivo

Também como em qualquer sindicato, o interesse coletivo dos presos orienta o caixa do PCC. Boa parte das contribuições e dos lucros com os crimes vai para as famílias.

O dinheiro é usado para financiar viagens de ônibus para visitas de parentes de detentos em penitenciárias na região oeste do Estado de São Paulo, para pagar advogados ou para comprar armas.

O controle contábil de pequenas quantias é feito pelo "piloto-gerente". As decisões sobre as grandes quantias, no entanto, passam pela cúpula.
Foi Marcola, condenado por assaltos a banco, quem ditou as normas para a "sindicalização" do PCC. Logo após assumir o comando, descentralizou o controle. "Ele dividiu a capital em quatro áreas de influência e tem um representante em cada área, que determina tudo o que acontece ali. Determina de quem ou como é que vão ser comercializados os entorpecentes", afirmou Fontes.

"Foi a partir de Marcola que a facção passou a dar prioridade para os negócios, para arrecadação de dinheiro com o crime", disse o promotor Roberto Porto, do Gaeco (Grupo de Atuação Especial e Repressão ao Crime Organizado), do Ministério Público.

Opressão

O "sindicato" criado por Marcola, no entanto, cresceu pela opressão. Quem não paga as mensalidades, passa a dever favores para a facção, que serão cobrados depois. Nos recentes atentados, muitos desses devedores foram obrigados a pagar essa dívida participando das ações. Passaram a ser chamados, entre os membros da facção, de "Bin Ladens".

Os devedores também podem quitar seus débitos com carros roubados e armas.

"Tamanha é a orientação referente a isso que muitas pessoas vão cometer o crime sem, muitas vezes, saber o que tem de fazer. Se não vai, morre", afirmou o delegado Godofredo Bittencourt, diretor do Deic, também à CPI.

A conquista de pontos-de-venda de droga também segue essa lógica. Se os traficantes concordarem com as normas da facção, recebem proteção.
Até mesmo o traficante que não faz parte do PCC é obrigado a pagar uma espécie de "dízimo". Do contrário, fica sujeito a ser expulso ou morto. A facção passa, então, a indicar um "associado" para o local.

Nas últimas rebeliões nos presídios de São Paulo, o PCC também colocou em prática a sua estratégia de opressão, segundo relatório do departamento de inteligência da SAP (Secretaria da Administração Penitenciária) enviado à Vara de Execuções de São Paulo.

De acordo com o documento, diretores de presídios informaram que "pilotos" --responsáveis pela facção naquela cadeia-- afirmaram que estavam sendo ameaçados de morte pela liderança, inclusive com risco a familiares, caso não cumprissem a ordem de se rebelar.

No relatório, o departamento de inteligência cita o caso da penitenciária de Valparaíso (577 km de SP), na qual os presos teriam dito à direção que só conversariam depois de cumprir a ordem do comando de destruir toda a unidade.

Ostentação

O sucesso econômico da facção nos últimos anos também é usado por seus líderes para amedrontar ou ironizar funcionários e autoridades.

Foi assim nas ameaças feitas por líderes do PCC ao serem transferidos para Presidente Venceslau (620 km de SP) e Presidente Bernardes (589 km de SP), conforme boletins de ocorrência registrados na polícia por funcionários da SAP.

Marcola, ao ser transferido, teria dito que a facção tinha poder econômico para promover as ações e que as represálias seriam conhecidas no noticiário noturno da TV. Os ataques começaram horas depois. Em outro presídio, um agente penitenciário chegou a ouvir de um dos líderes durante a transferência: "Com o salário mínimo que você ganha, não poderia estar correndo tal risco".

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