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02/07/2006 - 09h50

Para moças da favela, bom partido é PCC

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KLEBER THOMAZ
da Folha de S.Paulo

Na frente do casebre de alvenaria, um varal repleto de roupinhas coloridas de nenê dependuradas. Além de crianças, o local abriga quatro mulheres. Todas já são mães, e duas delas estão grávidas novamente --sendo que uma, morena de cabelos negros e longos, namora um gerente do PCC (Primeiro Comando da Capital).

"Dá status namorar alguém do partido. Você é sempre respeitada por onde quer que passe. Ninguém, nunca, irá te tirar do sério porque sabe que poderá pagar por isso", conta Silvana (nome fictício), 27, que mora na favela Pedra Sobre Pedra.

Assim como ela, muitas outras mulheres buscam um homem ligado à facção criminosa na região. Lá, o significado de bom partido tem de vir acompanhado da sigla PCC.

"Se o cara for da facção, melhor. Ao mesmo tempo é um risco, mas a mulher não se envolve nas reuniões. Fica de fora. Ela só dá o amor", sorri Silvana, que há quatro anos disputou o seu homem com outras.

"Assim como eu, muitas estão à procura de um cara do partido. Eles nos dão roupas, enxoval de criança, nos levam às festas e ainda pagam a conta", narra ela, que já teve um filho com o namorado. O pai da criança aparece eventualmente, diz, para dar dinheiro a ela, que gasta quase tudo com roupas e comida para o nenê.

É um exemplo da ampliação da atuação do grupo criminoso, que já ajudava parentes de detentos e agora tem a rede para boa parte da comunidade.
Para se aproximar dos seus alvos, a tática das mulheres é partir para o ataque. Curtir rap, funk, usar calça de cintura baixa bem apertada e rebolar muito nas festas ganha pontos. "As meninas ficam num canto só marcando o gatinho que querem. Elas geralmente sabem quem é do partido", diz ela, que não quer nem pensar na possibilidade de já ter sido traída.

A infidelidade na favela, principalmente por parte de traficantes e membros do PCC, é geralmente aceita por suas namoradas e até pelas mulheres.

Geralmente a mulher é conhecida como primeira-dama. As namoradas são batizadas de segundas-damas. As amantes ganham o posto de terceira-dama e assim por diante.

"Não importa se meu negão vai ficar beijando ou transando com outra por aí. O que vale é que ele me dá tudo e todos me cumprimentam por onde eu passo. Sou tratada feito rainha", afirma Joana, 27.

Seu marido é um "funcionário" do partido. Realiza pequenas tarefas de ordem operacional dentro da favela Pedra sobre Pedra, como dar recados.
Ana, 30, é uma das primeiras-damas do "clube da luluzinha" das mulheres do PCC. Segundo ela, o fato de namorar alguém da facção acaba levando a mulher para o mundo do crime. "Como a gente ama o homem do nosso lado, muitas vezes nos vemos participando do tráfico, como olheiras. Dizemos se a polícia vem ou não nas biqueiras [onde é feito o tráfico]."

Apesar de se envolver no comércio de cocaína, ela diz que já não é mais viciada e que a droga nem é vista por seus filhos. "O único pó branco que deixo entrar aqui é o leite que eles [membros do PCC] me dão."

Já Cláudia, 20, ainda busca seu partido. Ela quer o respeito dos demais moradores e conta que jamais namoraria policial.

"Antes do partido a polícia invadia nossas casas", fala Cláudia, que não sabe como dizer à mãe que está a fim de um "falcão" (vigia armado). "Mamãe é evangélica, mas acho que gostaria de ganhar um sofá novo."

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