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06/07/2006 - 09h57

Estudo defende terapia à base de maconha

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FABIANE LEITE
da Folha de S.Paulo

Um remédio à base de derivado da maconha se mostrou mais eficaz do que outros medicamentos aplicados contra enjôo e vômitos causados pela quimioterapia, tratamento usado no combate ao câncer.

Em uma revisão realizada por pesquisadores da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), foram analisados 11 mil trabalhos sobre o assunto feitos no mundo todo até julho do ano passado. Desses, 30 foram selecionados. A maconha fumada não foi avaliada com profundidade, pois havia poucos estudos a respeito.

Náuseas e vômitos, efeitos colaterais da quimioterapia, podem resultar no abandono do tratamento de até 20% dos pacientes e causar depressão e ansiedade.

Usada no passado com fins medicinais, a maconha volta e meia retorna ou é banida da terapia em função das posições políticas dos órgãos governamentais, afirma Francisco Carlos Machado Rocha, psiquiatra e um dos autores do estudo. O trabalho é assinado também por Leonardo Rosa-Oliveira e Dartiu Xavier da Silveira.

No estudo, o derivado da maconha dronabinol teve eficácia superior aos neurolépticos, remédios que são utilizados contra náuseas e vômitos causados pela quimioterapia. Os pacientes também demonstraram preferência pelos remédios com os derivados da maconha.

"O estudo tem importância ao mostrar a equivalência, e até a melhor aceitação por parte dos pacientes", afirma Vladimir Cordeiro de Lima, oncologista clínico do Hospital do Câncer de São Paulo.

Lima destacou, no entanto, que os remédios usados para comparação, da classe dos neurolépticos, já têm concorrentes mais eficazes, padronizados para o combate aos efeitos colaterais da quimioterapia. E que os neurolépticos hoje são usados principalmente como adjuvantes do tratamento.

No mês passado a FDA, agência norte-americana que regula medicamentos, manifestou-se contra o uso medicinal da maconha em estado puro, fumada --prática em mais de uma dezena de Estados dos EUA para combater sintomas de doenças como o câncer. Disse que não há provas de que a planta funcione como remédio. E contrariou uma revisão feita por um comitê de cientistas em 1999.

A própria agência, no entanto, reconheceu que a declaração foi fruto de pressões do Congresso norte-americano. Os EUA, ainda assim, continuam permitindo a fabricação de remédios com princípios ativos derivados da maconha.

No Brasil, os derivados da maconha são substâncias banidas, por isso não há remédios com esses princípios ativos.

Segundo Pedro Gabriel Delgado, coordenador de Saúde Mental do Ministério da Saúde, ainda não houve uma revisão da legislação para medicamentos, apesar de o governo, em 2004, ter defendido que a maconha deveria ser retirada da lista das drogas com propriedades particularmente perigosas, sem efeitos terapêuticos, que consta de uma convenção internacional de 1961.

Segundo a pasta, existem efeitos positivos para enjôos da quimioterapia, emagrecimento em pacientes com Aids e dores em casos de esclerose múltipla.

Levantamento

O levantamento da Unifesp fez uma revisão sistemática da literatura em busca de todos os estudos a respeito dos efeitos terapêuticos da maconha e derivados contra náusea e vômitos gerados pela quimioterapia --foram achados 11 mil trabalhos, até julho do ano passado.

Foram descartados muitos trabalhos, como aqueles em que a escolha aleatória dos pacientes foi considerada inadequada. No final da avaliação, que envolveu a leitura dos principais artigos, 30 foram qualificados.

Segundo os pesquisadores, foi aplicado um "tratamento estatístico", a meta-análise, em que trabalhos com conclusões semelhantes são agrupados e seus resultados, somados. Foi assim, por exemplo, que eles concluíram que um dos derivados da maconha é melhor do que a classe dos neurolépticos para combater o enjôo da quimioterapia. O trabalho será encaminhado para a publicação no "American Journal of Epidemiology".

Especial
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