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09/07/2006
-
09h20
JOSÉ ERNESTO CREDENDIO
da Folha de S.Paulo
Da rotina nos Jardins para a cadeia. Foram oito dias chocantes para Lucas (nome fictício), microempresário de 37 anos detido, segundo ele, por engano, ao ser confundido com um ladrão, no segundo semestre do ano passado. A experiência traumática no Centro de Detenção Provisória (CDP) do Belém revelou, também, regras que ele desconhecia, mas que ordenam a vida no presídio.
Não são as leis da direção da unidade --quem as dita são membros da facção PCC.
"Quando cheguei [ao CDP], veio uma dupla dar cigarros e falar as "regras". As principais são jamais olhar para mulheres durante visitas e nunca olhar nem ouvir o que diziam os presos de uma das celas."
Morador dos Jardins (zona oeste paulistana), ele foi detido por policiais militares quando andava de chinelos até Santa Cecília, centro de São Paulo, onde encontraria um amigo.
Acusado pelos PMs de furtar a grade de um painel de energia, ficou oito dias no CDP do Belém. Foi sua única passagem policial durante toda a vida, mas suficiente para conhecer como opera o PCC dentro das prisões de São Paulo.
Antes de qualquer coisa, ele teve de responder a um "questionário". "São desconfiados, perguntam de onde você é, por que você está lá, se você precisa de médico, da enfermaria. E tudo com muito respeito."
Poucas horas depois, descobriu o que havia na cela proibida: era onde ficavam os líderes da facção naquele presídio, os homens que passavam as ordens do comando criminoso para as celas. "Falavam que não era para chegar perto nem para prestar atenção em nada. Claro que eu nem olhava."
Segundo Lucas, através de seus prepostos, o PCC comanda o comércio entre as grades. É possível comprar cigarros, maconha e cocaína "à vontade"; o celular custa R$ 500. "A realidade é que eles comandam tudo. Escolhem os faxinas e os "barraqueiros" [presos que distribuem café e comida]."
Graças ao controle desses presos, que contam com mais liberdade para percorrer as celas, os líderes do PCC na prisão acabam obtendo privilégios na alimentação, por exemplo.
"Eles têm mais regalia. A influência sobre os presos é total. Quando fui para lá, meu advogado telefonou para um cliente da facção avisando para me tratarem bem que um amigo dele iria para lá. E não aconteceu nada comigo." Mesmo com essa liberdade, a palavra PCC é vetada. "Falam só do "partido" e se tratam como "irmãos"."
Segundo Lucas, embora os presos evitem deixar explícito esse domínio que o PCC exerce sobre os demais, as relações internas deixam claro que existe um comando. "Você percebe que eles é que organizam, que tem alguém gerenciando. É um terrorismo psicológico, a coisa toda fica entre eles."
Ao deixar a prisão, Lucas decidiu, pela primeira vez, ir até a cela proibida. "Sei quem eles eram. Fui lá, apertei a mão de dois deles e agradeci. Saí com vida, nada aconteceu comigo."
O último dia teve ainda um agradecimento. Ele tirou as boas roupas que tinha, deu-as para os presos mais poderosos. "Disse que eles precisavam mais."
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Da rotina nos Jardins para a cadeia. Foram oito dias chocantes para Lucas (nome fictício), microempresário de 37 anos detido, segundo ele, por engano, ao ser confundido com um ladrão, no segundo semestre do ano passado. A experiência traumática no Centro de Detenção Provisória (CDP) do Belém revelou, também, regras que ele desconhecia, mas que ordenam a vida no presídio.
Não são as leis da direção da unidade --quem as dita são membros da facção PCC.
"Quando cheguei [ao CDP], veio uma dupla dar cigarros e falar as "regras". As principais são jamais olhar para mulheres durante visitas e nunca olhar nem ouvir o que diziam os presos de uma das celas."
Morador dos Jardins (zona oeste paulistana), ele foi detido por policiais militares quando andava de chinelos até Santa Cecília, centro de São Paulo, onde encontraria um amigo.
Acusado pelos PMs de furtar a grade de um painel de energia, ficou oito dias no CDP do Belém. Foi sua única passagem policial durante toda a vida, mas suficiente para conhecer como opera o PCC dentro das prisões de São Paulo.
Antes de qualquer coisa, ele teve de responder a um "questionário". "São desconfiados, perguntam de onde você é, por que você está lá, se você precisa de médico, da enfermaria. E tudo com muito respeito."
Poucas horas depois, descobriu o que havia na cela proibida: era onde ficavam os líderes da facção naquele presídio, os homens que passavam as ordens do comando criminoso para as celas. "Falavam que não era para chegar perto nem para prestar atenção em nada. Claro que eu nem olhava."
Segundo Lucas, através de seus prepostos, o PCC comanda o comércio entre as grades. É possível comprar cigarros, maconha e cocaína "à vontade"; o celular custa R$ 500. "A realidade é que eles comandam tudo. Escolhem os faxinas e os "barraqueiros" [presos que distribuem café e comida]."
Graças ao controle desses presos, que contam com mais liberdade para percorrer as celas, os líderes do PCC na prisão acabam obtendo privilégios na alimentação, por exemplo.
"Eles têm mais regalia. A influência sobre os presos é total. Quando fui para lá, meu advogado telefonou para um cliente da facção avisando para me tratarem bem que um amigo dele iria para lá. E não aconteceu nada comigo." Mesmo com essa liberdade, a palavra PCC é vetada. "Falam só do "partido" e se tratam como "irmãos"."
Segundo Lucas, embora os presos evitem deixar explícito esse domínio que o PCC exerce sobre os demais, as relações internas deixam claro que existe um comando. "Você percebe que eles é que organizam, que tem alguém gerenciando. É um terrorismo psicológico, a coisa toda fica entre eles."
Ao deixar a prisão, Lucas decidiu, pela primeira vez, ir até a cela proibida. "Sei quem eles eram. Fui lá, apertei a mão de dois deles e agradeci. Saí com vida, nada aconteceu comigo."
O último dia teve ainda um agradecimento. Ele tirou as boas roupas que tinha, deu-as para os presos mais poderosos. "Disse que eles precisavam mais."
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