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16/08/2006
-
10h01
VINICIUS ABBATE
Colaboração para a Folha de S.Paulo
O repórter da TV Globo Guilherme Portanova, que passou cerca de 41 horas seqüestrado pelo PCC em São Paulo, disse ontem que teve medo de ser torturado como o jornalista Tim Lopes --morto por traficantes no Rio, em 2002.
Lopes, também funcionário da Globo, fazia uma reportagem sobre um baile funk onde haveria consumo de drogas e sexo explícito.
Capturado, ele foi 'julgado' e condenado à morte pelos traficantes. Passou por uma sessão de tortura e foi queimado ainda vivo dentro de pneus.
Portanova, que foi libertado no início da madrugada de segunda, concedeu entrevista à Folha, por celular, de um restaurante em Porto Alegre, onde estava com amigos.
FOLHA - Em que momento os seqüestradores se identificaram como sendo do PCC?
GUILHERME PORTANOVA - Quando entrei no carro eles se identificaram como integrantes do PCC e disseram que eu faria um favor, não iriam me machucar.
FOLHA - Não fizeram nenhum tipo de ameaça pessoal?
PORTANOVA - Não, sempre tranqüilos, sempre dizendo que não iam me agredir, mas que as exigências deveriam ser cumpridas. Uma vez não cumpridas, aí minha vida estaria em risco. A pressão estava na situação em si: na história do capuz, no fato de eu estar amarrado, de estar numa favela, num lugar desconhecido. Isso é de intimidar qualquer um.
FOLHA - Eles pareciam preparados para a situação?
PORTANOVA - Sim. Se eu desse um grito, se eu desmaiasse, eles não iriam se apavorar.
FOLHA - Qual foi o momento mais difícil do cativeiro?
PORTANOVA - Fiquei preocupado em três momentos: quando começaram a sugerir a história do Tim Lopes, no primeiro cativeiro [ele passou por três]. Depois eu tive medo que pudesse ser torturado, sofrer algum tipo de morte violenta, como ser queimado ou enterrado vivo. O terceiro momento foi de pânico puro, total. Eu pedi para ser executado, se essa fosse a vontade deles.
FOLHA - Você fez esse pedido?
PORTANOVA - E não foi por uma questão de coragem, de bravura. Eu negociei a execução porque eu estava em pânico puro, medo total de que fosse uma morte lenta. Eu ficava muito tempo em silêncio e muito pouco tempo conversando com eles. No silêncio eu pensava em como minimizar a possibilidade de uma morte dolorosa.
FOLHA - O que você pediu?
PORTANOVA - Eu chamei um deles e disse que queria um acordo: você é homem, está defendendo uma idéia, eu também sou homem, faço meu trabalho, queria que você fizesse o seguinte, que se comprometesse em me dar uma morte honrada. Eu disse: quero que minha morte seja feita com capuz na cabeça e uma bala só. Não foi por heroísmo, foi por pânico com a imagem do Tim Lopes, pela sugestão que vinha à minha cabeça. E por questão de preservação da saúde mental: eu precisava de alguma garantia de que não fosse sofrer.
Especial
Leia o que já foi publicado sobre seqüestros
Leia o que já foi publicado sobre o PCC
Repórter temeu morrer como Tim Lopes
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Colaboração para a Folha de S.Paulo
O repórter da TV Globo Guilherme Portanova, que passou cerca de 41 horas seqüestrado pelo PCC em São Paulo, disse ontem que teve medo de ser torturado como o jornalista Tim Lopes --morto por traficantes no Rio, em 2002.
Lopes, também funcionário da Globo, fazia uma reportagem sobre um baile funk onde haveria consumo de drogas e sexo explícito.
Capturado, ele foi 'julgado' e condenado à morte pelos traficantes. Passou por uma sessão de tortura e foi queimado ainda vivo dentro de pneus.
Portanova, que foi libertado no início da madrugada de segunda, concedeu entrevista à Folha, por celular, de um restaurante em Porto Alegre, onde estava com amigos.
FOLHA - Em que momento os seqüestradores se identificaram como sendo do PCC?
GUILHERME PORTANOVA - Quando entrei no carro eles se identificaram como integrantes do PCC e disseram que eu faria um favor, não iriam me machucar.
FOLHA - Não fizeram nenhum tipo de ameaça pessoal?
PORTANOVA - Não, sempre tranqüilos, sempre dizendo que não iam me agredir, mas que as exigências deveriam ser cumpridas. Uma vez não cumpridas, aí minha vida estaria em risco. A pressão estava na situação em si: na história do capuz, no fato de eu estar amarrado, de estar numa favela, num lugar desconhecido. Isso é de intimidar qualquer um.
FOLHA - Eles pareciam preparados para a situação?
PORTANOVA - Sim. Se eu desse um grito, se eu desmaiasse, eles não iriam se apavorar.
FOLHA - Qual foi o momento mais difícil do cativeiro?
PORTANOVA - Fiquei preocupado em três momentos: quando começaram a sugerir a história do Tim Lopes, no primeiro cativeiro [ele passou por três]. Depois eu tive medo que pudesse ser torturado, sofrer algum tipo de morte violenta, como ser queimado ou enterrado vivo. O terceiro momento foi de pânico puro, total. Eu pedi para ser executado, se essa fosse a vontade deles.
FOLHA - Você fez esse pedido?
PORTANOVA - E não foi por uma questão de coragem, de bravura. Eu negociei a execução porque eu estava em pânico puro, medo total de que fosse uma morte lenta. Eu ficava muito tempo em silêncio e muito pouco tempo conversando com eles. No silêncio eu pensava em como minimizar a possibilidade de uma morte dolorosa.
FOLHA - O que você pediu?
PORTANOVA - Eu chamei um deles e disse que queria um acordo: você é homem, está defendendo uma idéia, eu também sou homem, faço meu trabalho, queria que você fizesse o seguinte, que se comprometesse em me dar uma morte honrada. Eu disse: quero que minha morte seja feita com capuz na cabeça e uma bala só. Não foi por heroísmo, foi por pânico com a imagem do Tim Lopes, pela sugestão que vinha à minha cabeça. E por questão de preservação da saúde mental: eu precisava de alguma garantia de que não fosse sofrer.
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