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21/08/2006 - 09h05

Aparelho telefônico liga PCC a perueiros

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MARIO CESAR CARVALHO
da Folha de S.Paulo

A polícia de São Paulo diz ter encontrado o primeiro elo material a ligar a facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital) com perueiros.

Um aparelho telefônico da operadora Nextel pertencente a uma cooperativa de perueiros foi encontrado em uma delegacia de polícia de Suzano (cidade da Grande São Paulo) atacada por integrantes do grupo criminoso. O ataque ocorreu no dia 7 de abril deste ano.

Um Astra e um Omega pararam diante da delegacia e deles desceram seis homens armados com metralhadora, fuzil, espingarda e pistola. Como a delegacia havia sofrido um ataque antes, no dia 26 de março, havia 14 policiais do Garra (Grupo Armado de Repressão a Roubos e Assaltos) escondidos num bar à frente da delegacia.

Na refrega, quatro integrantes do grupo de assalto à delegacia morreram e outros dois conseguiram escapar. Dois policiais ficaram feridos. Duas granadas foram achadas num terceiro carro que dava cobertura. O Nextel foi encontrado nesse cenário de guerra.

Gilmar da Hora Lisboa, uma espécie de gerente do PCC em Suzano conhecido como Pebinha, estava preso na delegacia.

O telefone encontrado faz parte de um lote de 12 comprado pela Associação Paulistana Garagem 2, segundo o delegado Murilo Fonseca Roque, da 7ª Delegacia Seccional. A Garagem 2, como é chamada, é um grupo de 215 perueiros que não tem existência legal para a prefeitura --são associados a uma cooperativa, a Associação Paulistana, que venceu a licitação e repassou parte de sua área. Esse repasse é considerado ilegal pela Secretaria Municipal de Transportes.

O elo entre a Garagem 2 e o PCC é Cléber Coca, 34, segundo perueiros ouvidos pela polícia. Ele dirige a cooperativa mesmo sem ter um cargo formal na associação.

Resposta

Coca negou à polícia que fizesse parte da facção, disse que nunca pagou propina à prefeitura, mas contou ter participado de reuniões com Jilmar Tatto, secretário de Transportes no governo de Marta Suplicy (2001-2004). Tatto disse não se lembrar de Coca porque participou de inúmeras reuniões com os perueiros, categoria que tem mais de 6.000 profissionais registrados em São Paulo.

Há outros indícios de que Coca integra a facção criminosa. A polícia investiga a Garagem 2 sob a acusação de que ele extorquiria os motoristas, cobrando taxas que chegam a R$ 600 ao mês. Quem não paga, é excluído da cooperativa. A vaga fica com um dos "irmãos da cadeia", como são chamados os integrantes do PCC que estão presos. As vagas podem também ser vendidas, por valores que variam de R$ 15 mil a R$ 20 mil.

Perueiros ouvidos pelo delegado Roque contam que a ligação de Coca com o PCC não é recente. Em maio de 2003, a polícia prendeu Antonio Müller Jr. com maconha e cocaína. Juninho Granada, como Müller Jr. é conhecido, havia sido condenado a 20 anos de prisão por furtos e roubos, mas conseguira fugir e presidia a cooperativa de perueiros Transmetro com um nome falso. Quem sucedeu Juninho Granada na presidência da Transmetro foi Coca, segundo depoimentos de perueiros no inquérito policial.

Fachada

A Garagem 2, ainda segundo os perueiros ouvidos, é o novo nome da Transmetro, uma "fachada", termo usado por um deles. A reunião que criou a Garagem 2, descrita no inquérito, reuniu cerca de cem perueiros numa praça da zona leste, sob o comando de dirigentes do PCC.

Juninho Granada está preso há três anos, mas continua a comandar parte dos perueiros, segundo a polícia. Tanto que é chamado pelos seus pares de "o secretário dos transportes do PCC". Foi Juninho Granada, de acordo com a polícia, quem deu a ordem para integrantes da facção resgatarem quatro presos em Santo André em março deste ano --a tentativa fracassou. A polícia diz ter indícios de que a operação foi financiada por perueiros que se reúnem na Garagem 2 da Cooperpam, na zona sul da cidade.

No mês passado, a polícia prendeu o presidente da Cooperpam, Luiz Carlos Efigênio Pacheco, 37, o Pandora, e Francisco Alves Bizerra, tesoureiro de uma cooperativa clandestina chamada Coopermix. A Cooperpam é a maior cooperativa do gênero em São Paulo --reúne 1.350 perueiros. Após a prisão da dupla, a prefeitura suspendeu os pagamentos para a Garagem 2 da Cooperpam.

A polícia achou na sede dessa cooperativa um CD com rap de apologia ao PCC, além de um revólver e uma espingarda.

Mais impressionante do que as duas armas talvez seja uma estatística: dos 20 motoristas que estavam na garagem naquele momento, 14 --o equivalente a 70%-- tinham passagem na polícia por roubo, furto, receptação e estelionato.

No último mês, o prefeito Gilberto Kassab baixou um decreto que exige que motoristas, cobradores, permissionários e concessionários só podem ingressar no sistema de transportes após apresentar atestado de antecedentes. O decreto pode ser lido pelo avesso: só agora a prefeitura passou a vetar entre os perueiros os que estão sendo procurados pela polícia.

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