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21/08/2006
-
09h24
RAPHAEL GOMIDE
da Folha de S.Paulo, no Rio
O adesivo de um haras de propriedade de um bicheiro colado no vidro traseiro do carro é usado por moradores da zona norte do Rio como salvo-conduto para evitar blitze da polícia e assaltos a automóveis.
O Haras Escafura, de cavalos de corrida, pertence ao bicheiro José Caruzzo Escafura, o Piruinha, 78. Seu Zé, como é respeitosamente chamado pelos moradores, é "dono" da contravenção em mais de dez bairros da zona norte do Rio e já chegou a ser preso no início da década de 1990, com a cúpula do jogo --hoje, está solto.
"O adesivo me salvou. Iam roubar meu carro, mas viram o plástico e perguntaram: "Você trabalha na banca (de jogo do bicho)? Então pode ir!" Não trabalho, mas disse que sim", contou um comerciante da região, que abriga máquinas de caça-níqueis da família e pediu para não ter o nome publicado.
Um advogado disse à reportagem ter vivido situação semelhante. Foi liberado de um roubo a mão armada depois de um criminoso ver o plástico redondo, em preto e branco, com a imagem da cabeça de um cavalo. "Deixa ir embora, tá com o plástico, tá com o plástico!", gritou um deles.
A dica para Valéria Souza usar o símbolo veio da própria polícia, diz ela. Um PM parou seu carro, que estava com documentos e IPVA atrasados. "Pede o adesivo do haras do Seu Zé, que ninguém mais vai incomodar em blitz. Com o plástico você passa direto."
Transporte escolar
Morador da Abolição há 27 anos, Paulo Ferreira explica. "Se o bicheiro não mexe com bandido, bandido não mexe com o bicheiro. Se ele pode escolher carro para roubar que não tem adesivo, escolhe. Muitas mulheres usam o plástico para levar criança à escola e fazer transporte escolar", diz.
O roubo de carros é um dos crimes mais freqüentes registrados no Rio. Desde 2002, há cerca de 33 mil delitos do gênero por ano, em média --dois terços na cidade. Em 2006, houve 17.975 ocorrências até junho. Muitas vezes, o desfecho é violento, caso do músico do Detonautas Rodrigo Netto, morto em tentativa de assalto.
A área de maior incidência é justamente a zona norte (73% em junho), onde ficam os bairros em que Piruinha mantém negócios --hoje seus filhos exploram máquinas de caça-níqueis na região. Segundo dados do Instituto de Segurança Pública (ISP), no entanto, entre os dez bairros com maior taxa de roubos a veículos na cidade, nenhum fica na esfera de influência do bicheiro.
"Aqui é área de contravenção, então os caras (bandidos) respeitam. Meu pai está aí há 50 anos, então há respeito e ele é muito querido", diz o filho de Piruinha, Alexsandro, o Leleco, 31, que cuida dos negócios e é compositor de samba. "Realmente acontece de o adesivo liberar de blitz porque há policiais amigos da família", disse.
A fama do símbolo é conhecida. A Folha ouviu ao menos dez pessoas da região que confirmaram a reputação da imagem do cavalo e sua direta ligação com o bicheiro.
Especial
Leia o que já foi publicado sobre bicheiros
Adesivo de bicheiro dá "imunidade" no Rio
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da Folha de S.Paulo, no Rio
O adesivo de um haras de propriedade de um bicheiro colado no vidro traseiro do carro é usado por moradores da zona norte do Rio como salvo-conduto para evitar blitze da polícia e assaltos a automóveis.
O Haras Escafura, de cavalos de corrida, pertence ao bicheiro José Caruzzo Escafura, o Piruinha, 78. Seu Zé, como é respeitosamente chamado pelos moradores, é "dono" da contravenção em mais de dez bairros da zona norte do Rio e já chegou a ser preso no início da década de 1990, com a cúpula do jogo --hoje, está solto.
"O adesivo me salvou. Iam roubar meu carro, mas viram o plástico e perguntaram: "Você trabalha na banca (de jogo do bicho)? Então pode ir!" Não trabalho, mas disse que sim", contou um comerciante da região, que abriga máquinas de caça-níqueis da família e pediu para não ter o nome publicado.
Um advogado disse à reportagem ter vivido situação semelhante. Foi liberado de um roubo a mão armada depois de um criminoso ver o plástico redondo, em preto e branco, com a imagem da cabeça de um cavalo. "Deixa ir embora, tá com o plástico, tá com o plástico!", gritou um deles.
A dica para Valéria Souza usar o símbolo veio da própria polícia, diz ela. Um PM parou seu carro, que estava com documentos e IPVA atrasados. "Pede o adesivo do haras do Seu Zé, que ninguém mais vai incomodar em blitz. Com o plástico você passa direto."
Transporte escolar
Morador da Abolição há 27 anos, Paulo Ferreira explica. "Se o bicheiro não mexe com bandido, bandido não mexe com o bicheiro. Se ele pode escolher carro para roubar que não tem adesivo, escolhe. Muitas mulheres usam o plástico para levar criança à escola e fazer transporte escolar", diz.
O roubo de carros é um dos crimes mais freqüentes registrados no Rio. Desde 2002, há cerca de 33 mil delitos do gênero por ano, em média --dois terços na cidade. Em 2006, houve 17.975 ocorrências até junho. Muitas vezes, o desfecho é violento, caso do músico do Detonautas Rodrigo Netto, morto em tentativa de assalto.
A área de maior incidência é justamente a zona norte (73% em junho), onde ficam os bairros em que Piruinha mantém negócios --hoje seus filhos exploram máquinas de caça-níqueis na região. Segundo dados do Instituto de Segurança Pública (ISP), no entanto, entre os dez bairros com maior taxa de roubos a veículos na cidade, nenhum fica na esfera de influência do bicheiro.
"Aqui é área de contravenção, então os caras (bandidos) respeitam. Meu pai está aí há 50 anos, então há respeito e ele é muito querido", diz o filho de Piruinha, Alexsandro, o Leleco, 31, que cuida dos negócios e é compositor de samba. "Realmente acontece de o adesivo liberar de blitz porque há policiais amigos da família", disse.
A fama do símbolo é conhecida. A Folha ouviu ao menos dez pessoas da região que confirmaram a reputação da imagem do cavalo e sua direta ligação com o bicheiro.
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