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18/09/2006 - 13h39

Especialista vê traços comuns entre pessoas que cometem crimes passionais

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TATIANA FÁVARO
da Folha Online

A suspeita de crime passional no caso da morte do coronel da PM e deputado estadual Ubiratan Guimarães, assassinado no último dia 9 em São Paulo, colocou o assunto em discussão. Ele estava caído no chão da sala de seu apartamento, nos Jardins, enrolado numa toalha. Foi morto por um tiro só, no abdômen, e não havia sinal de luta no apartamento.

Para o delegado Armando de Oliveira Costa Filho, do DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa), é forte a tese de crime passional. Por isso, a polícia investiga as últimas relações amorosas do coronel.

Para o coordenador do núcleo de psicologia e psiquiatria forense do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas de São Paulo, Antonio de Pádua Serafim, "todo mundo tem um grau de periculosidade". Mas, segundo ele, há traços em comum entre pessoas que cometem crimes motivados por sentimentos como a paixão.

Segundo Serafim, existem dois padrões identificados em pessoas que cometem crimes passionais: o de dependência e o de possessão.

As pessoas que se encaixam no primeiro perfil são, de acordo com o
psicólogo, inseguras e projetam no outro sua fonte de vitalidade. "É muito comum essa pessoa ser muito solícita e, na falta de ser correspondida, pode ter dois tipos de comportamento: um de desesperança, que pode levar ao suicídio; e outro que reverte a idolatria em raiva, e pode terminar no ato de eliminar o outro", afirmou Serafim.

O segundo tipo de perfil apresentado pelo psicólogo tem traços possessivos, obsessivos, com necessidades de controle e autoridade. "Essa pessoa tem dificuldade de dividir a atenção do outro e defende o que é dela de um jeito muito intenso. Pode interpretar que o outro fez uma nova amizade e não dá mais atenção para ela. E quando tem a sensação de perder o objeto de desejo, perde o controle e age com impulsividade."

Segundo Serafim, uma mesma pessoa pode ter traços de um ou outro perfil, ou ainda apresentar um terceiro comportamento. "É quando a pessoa vincula o sentimento que tem ao papel que o outro exerce. Por exemplo, um papel social. O traço patológico é ficar com o outro não porque ele é maravilhoso, mas por que tem um papel social importante. Quando acaba a valia desse papel, o outro se torna desprezível, e a pessoa pode abandonar, denegrir a imagem ou eliminar o outro."

O psicólogo afirma que o comportamento de quem comete um crime passional é impulsivo. "Conheço casos de crimes em que o indivíduo briga com a esposa e mata a esposa, a sogra e a filha", comentou Serafim. Segundo ele, não é possível identificar o possível criminoso. "A hiperemoção pode ocorrer em qualquer pessoa. Claro que algumas são mais propensas, as que têm um limiar de tolerância mais baixo", disse.

Simbiose

Para a psicóloga Henriette Penha Morato, professora do Departamento de Psicologia da Aprendizagem, Desenvolvimento e Personalidade da USP, o livro "O repouso do guerreiro", de Christiane Rochefort, explica a intensidade dos crimes cometidos por paixão.

A obra mostra como a simbiose (interação entre duas espécies que vivem juntas) extrema pode destruir ambas as partes de uma relação. "A relação simbiótica dupla é destrutiva. Se eu acabo com a vida do outro, acabo com a minha também", disse Morato.

De acordo com a Acrimesp (Associação dos Advogados Criminalistas do Estado de São Paulo), não há um levantamento preciso sobre o número de casos de crimes passionais. Segundo a professora, os crimes passionais cometidos por homens são, em sua maioria, crimes ligados a uma espécie de honra ferida.

Morato afirma, ainda, que a mulher está muito mais inclinada a desenvolver uma reação simbiótica de dependência. "Por imposição da sociedade, é comum a mulher esperar que o homem seja o provedor --não apenas material, mas também afetivo."

Mas o fato de não ser correspondido numa relação afetiva transcende o gênero, diz a especialista. "Hoje há uma relação de desamparo da sociedade. O ser humano deposita suas esperanças quando encontra um outro que o tira do desamparo afetivo. Se não é correspondido, reage."

Pimenta Neves

Além da história que envolve o coronel conhecido por ordenar a ação que culminou na morte de 111 presos do Carandiru, ganhou repercussão o assassinato da jornalista Sandra Gomide, 32, em agosto de 2000.

Ex-namorada do também jornalista Antonio Pimenta Neves, ex-diretor de Redação do jornal "O Estado de S.Paulo", Sandra foi atingida com dois tiros --um nas costas e outro no ouvido--, em um haras em Ibiúna.

Pimenta Neves foi condenado em maio último a 19 anos, dois meses e 12 dias de prisão em regime fechado pela morte da ex-namorada. Obteve o direito de recorrer em liberdade. Sua defesa afirmou que ele agiu sob forte emoção.

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