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24/09/2006 - 13h13

Querem acobertar culpado, diz namorada do coronel Ubiratan

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GILMAR PENTEADO
ANDRÉ CARAMANTE
da Folha de S.Paulo

Prestes a ser indiciada pelo assassinato de seu namorado, o coronel da reserva e deputado estadual Ubiratan Guimarães, 63, a advogada Carla Cepollina, 40, afirma que é bode expiatório de quem quer "acobertar o verdadeiro culpado". Em entrevista ontem à Folha, disse que a polícia não tem provas para indiciá-la. "As pessoas querem precisão de horários, de quantidade de roupa que lavei, de batatas que comi." Carla afirmou também que a morte de Ubiratan pode estar ligada a uma "questão patrimonial". Segundo ela, o coronel passou os bens para os filhos por causa de uma dívida trabalhista. "Se tinha algum tipo de vantagem financeira com a morte dele, não era minha." Leia trechos da entrevista:

FOLHA - A polícia pretende indiciá-la pela morte do coronel nesta segunda. A sra. matou Ubiratan?
CARLA CEPOLLINA - Não. Eu não tinha motivos para matá-lo.

FOLHA - E por que a sra. é apontada pela polícia como principal suspeita?
CARLA - Ser alvo de investigação é normal, era namorada dele. Agora, acho que estão me indiciando para acobertar o verdadeiro culpado. E para responder a esse afã popular de que tem de achar culpado rápido. Não tem prova contra mim. Não terá prova pericial. O que eles têm é: a altura [da pessoa que atirou] é mais ou menos a minha, eu saí e cumprimentei o porteiro [do prédio de Ubiratan]. Em todos os meus depoimentos, não tem contradição.

FOLHA - Vão indiciar sem prova?
CARLA - É só porque eles alegam que fui a última pessoa a sair do prédio. Num prédio que não tem segurança, câmera, e os porteiros entraram em contradição nos depoimentos. Um deles falou que eu passei, fui embora. Eu até falei: "Tchau, seu Antonio, não esqueci a sua lembrancinha". Foi aniversário dele no dia 7. Ele falou que fui embora sete e pouco. Depois disse que tinha se enganado e fui embora umas dez e meia. O circuito de televisão daqui [do prédio onde mora] mostra que estava às 21h06 aqui.

FOLHA - A sra. se julga, então, bode expiatório?
CARLA - Eu sou. Para encobrir quem foi e para dar satisfação para esse clamor popular.

FOLHA - A sra. pode detalhar o que aconteceu enquanto estava no apartamento?
CARLA - A Renata [Madi, amiga de Ubiratan] ligou no celular.

FOLHA - A sra. pode falar o horário?
CARLA - É tudo aproximado. Explico por quê. Você está num sábado, com o namorado, normal. Então, você tem tudo uma idéia mais ou menos aproximada. Não é gincana. A que horas você chegou à hípica? A que horas cumprimentou o zezinho? A delegada perguntou quantas batatas comi. Não é assim. Para mim, era só mais um sábado com o Ubiratan. A delegada fez minha empregada chorar porque queria que ela lembrasse exatamente quantos baldes de molho [de roupa] tinha há dez dias. Quem sabe isso? As pessoas querem precisão de horário, de quantidade de roupa que lavei, de batatas que comi.

FOLHA - A que horas a Renata ligou no dia do crime?
CARLA - Por volta das 19h, essa moça ligou no celular. Ubiratan dormia. Falei: "o Ubiratan está dormindo, quer que chame?". Sim. Dei o celular para ele. Ele falou, deu uma cortada, jogo rápido. Desligou. Aí o fixo ligou uma série de vezes. Era ela. Eu falei para ele se iria atender, ele ficou na dele. Acontece que ele tinha bebido, estava de mau humor pois ela tinha ligado. Falei: "Então tchau, vou embora".

FOLHA - Não houve discussão?
CARLA - Não. Que discussão? Se tivesse uma discussão, não tinha dado nem o primeiro telefone para ele.

FOLHA - Quem era a Renata na vida dele?
CARLA - Não sei. Eu a vi uma vez, no julgamento [do massacre do Carandiru]. Parece que eles se conheciam havia muito tempo. Assim como ele conhecia um monte de pessoas havia muito tempo, eu também.

FOLHA - Ele era muito assediado por mulheres?
CARLA - Por muita gente. Tinha muitos fãs, eleitores. Por mulheres também. Uma vez estávamos em um jogo de futebol e uma mulher mandou um guardanapo com um beijo. E você me desculpa: todo mundo vota.

FOLHA - Os filhos do coronel a descrevem como ciumenta, possessiva.
CARLA - Fiquei com o Ubiratan dois anos e quatro meses. Se fosse ciumenta, possessiva, não teria sido tanto tempo. Ele fazia o que queria, na hora em que queria. Não era de meio-termo.

FOLHA - Por que os filhos dele não reconhecem esse relacionamento?
CARLA - Acho que foram instruídos a falar isso. O Fabrício [filho], em 7 de abril, num churrasco, me apresentou à namorada e a centenas de pessoas: "Essa é minha madrasta".

FOLHA - Com que intenção os filhos negam esse relacionamento?
CARLA - Eu acho que foi aventada a possibilidade de ser um problema patrimonial. Acho que eles têm medo que eu peça dinheiro. Se tem uma questão patrimonial a ser suscitada aí, certamente não é da minha parte. O apartamento já estava no nome dos filhos, o carro, a criação de avestruz, a casa do Brooklin. Se tinha algum tipo de vantagem financeira com a morte dele, não era minha.

FOLHA - Essa questão patrimonial pode ser a causa da morte?
CARLA - Acho que sim. Não entendo o comportamento dessas pessoas que mentiram ou denegriram minha imagem. Acho que eles estão armando. Eu estou provando que eles mentiram. Especialmente os filhos.

FOLHA - E por que fariam isso?
CARLA - Não sei. Por que sou o pato da vez? Acho que eles querem desviar a atenção do verdadeiro culpado. Talvez estejam encobrindo alguém. Por exemplo, os filhos falaram que eu não estava com o pai, o que eu já mostrei que era mentira. Depois, falaram que o pai não tinha problemas e rolos. Mentira. Ele está sendo acionado [na Justiça] pelo pessoal da Airon, uma dívida trabalhista enorme.

FOLHA - Empresa de quê?
CARLA - De segurança, dele. Vira-e-mexe tinha oficial lá. Então, tudo que ele tinha já estava em nome dos filhos, de outras pessoas. Então, eles declararam que o pai não tinha problema, rolo. Não é verdade. Se eles querem mostrar que o pai era limpo, peguem os bens que o pai passou para eles por causa da dívida trabalhista e paguem a Airon, já que eles querem tanto ser honestos.

FOLHA - Como era o seu relacionamento com o coronel?
CARLA - Estável, legal, sólido, rico. A gente bolava tudo, fazia a campanha. Tinha planos para depois da eleição. A eleição estava ganha. Por que eu iria matar esse homem? Por causa de um telefonema? Aí eu coloco um plano de vida, uma parceria, e queimo isso por causa de um telefonema? Gente, que sentido faz isso? [Carla se emociona] Eu perdi um parceiro, todos os planos de um futuro, e ainda sou acusada de ter feito uma barbaridade dessas. Eu estou aqui. Emagrecendo, me consumindo, sentindo saudade dele, e sendo acusada.

Especial
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