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05/11/2006 - 09h44

Pais e escolas vivem dilema sobre deficiente

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DANIELA TÓFOLI
da Folha de S.Paulo

O drama de Regina Duarte na novela "Páginas da Vida" em busca de um colégio para sua filha portadora de síndrome de Down e a recente decisão da Justiça de São Paulo que deu à uma escola particular o direito de vetar a matrícula de uma criança com a deficiência reacenderam o debate sobre a inclusão de alunos especiais em escolas regulares.

A grande maioria de pais e educadores é a favor da inclusão. Mas há quem discorde e defenda escolas especiais alegando, entre outras coisas, que em colégios regulares os estudantes com deficiência ficam com a auto-estima baixa porque são sempre os últimos da turma (leia nesta página).
De 18 escolas tradicionais de São Paulo questionadas, 12 dizem aceitar alunos com deficiências.

O Colégio Dante Alighieri, na zona sul, por exemplo, tem estudantes com deficiência, mas não fala sobre o assunto por acreditar que não deve tratá-los de forma diferenciada. "É política do colégio não falar sobre inclusão. Os coordenadores acreditam que, tratando como casos especiais, você acaba excluindo um indivíduo que já está incluído no contexto do colégio", afirmou sua assessoria.

Já o Friburgo, também na zona sul, conta com 15 alunos com alguma deficiência. Lá, a regra é aprender a lidar com a diversidade, explica seu diretor, Cyro de Figueiredo. "Há 20 anos aceitamos crianças com síndrome de Down. Mas algumas deficiências, como o autismo grave, são complicadas de trabalhar na escola." Para atender às necessidades dos alunos, professores --e também funcionários-- têm ajuda de especialistas externos. "Também é importante que haja interação dos terapeutas dessas crianças, como fonoaudiólogos e fisioterapeutas, com o corpo docente e é fundamental que a família seja nossa parceira."

Mãe de Susanna, 13, que tem Down e estuda no Friburgo, a arquiteta Carla Bernardi Roselli, 44, acredita que a parceria é a chave do sucesso para a inclusão. "Fico em cima da escola diariamente para que não facilitem a lição, não a tratem como café-com-leite e tem dado certo." Susanna está na 5ª série e, apesar de sentir dificuldades em alguma matérias de exatas, consegue acompanhar a turma.

Carla, que faz parte da ONG Grupo 25 (pró-inclusão), conta que nunca ficou em dúvida entre uma escola regular ou uma especial. "Sei que alguns pais passam por esse dilema, mas sempre acreditei na minha filha. Ela é tratada como uma adolescente normal. Sai com os amigos, viaja com a escola", diz. "Susanna tem noção do seu problema e aprendeu a conviver com quem não é igual a ela."

Para os educadores, não são só as crianças com deficiências que ganham com a inclusão. Além de desenvolverem sua sociabilização, elas ensinam as novas gerações a lidarem com as diferenças e a não praticarem a discriminação. "Todos ganham com a inclusão de verdade, que não rejeita nenhum tipo de deficiência. Esse discurso que algumas escolas usam dizendo que não estão preparadas para receber crianças especiais é falta de argumento", afirma Cláudia Weneck, da ONG Escola de Gente. "Não estamos preparados para uma série de coisas e ainda assim encaramos as dificuldades. Uma escola só vai aprender a lidar com uma criança especial quando tiver vontade e uma delas na sala de aula. É com a prática que se aprende."

O livreiro José Antônio Montes, 53, concorda. Pai de Helena, 6, que também tem síndrome de Down e estuda na Escola Viva, na zona sul, ele diz que sempre quis uma escola regular para sua filha para que ela não fosse criada em uma "bolha".

"A Helena tem o acompanhamento fora do colégio. O que queremos da escola é que a trate como as demais crianças, que ensine os conteúdos, sem diferenciação. E, para isso, não é preciso tanto preparo assim até porque eu e minha mulher também não estávamos preparados para ter um filho com Down e acabamos aprendendo", diz. "Tive um irmão com deficiência que estudou em escola especial e nunca quis esse estigma para minha filha."

Na semana passada, alguns pais e educadores criticaram a cena de "Páginas da Vida" na qual Regina Duarte procurava uma escola especial para a filha, após várias tentativas frustradas de encontrar um colégio regular. O autor da novela, Manoel Carlos, diz que Helena (a personagem de Regina) defende a inclusão e vai lutar por isso, se preciso for, até na Justiça. "Mas eu preciso ter o outro lado também, com seus argumentos pela exclusão. Helena está batalhando para conseguir, mas procura alternativas, escuta os argumentos do lado oposto ao seu", diz. "Ela vai conseguir vencer, já que eu, Manoel Carlos, e a minha novela, somos pela inclusão."

Especial
  • Leia o que já foi publicado sobre a síndrome de Down
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