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01/01/2007 - 03h42

Leia a íntegra da entrevista com o prefeito Gilberto Kassab

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da Folha de S.Paulo

Duas das principais bandeiras políticas da administração Marta Suplicy (PT) estão mudando de mãos. Há nove meses no comando da Prefeitura de São Paulo, Gilberto Kassab (PFL) tornou-se um entusiasta inesperado dos Centros Educacionais Unificados, os CEUs, e do programa Renda Mínima.

Se à época da eleição a chapa José Serra-Kassab (o primeiro candidato a prefeito, o segundo a vice) referia-se pejorativamente aos 24 CEUs feitos por Marta, acusando-os de perdulários --"os CEUs têm 5% dos alunos e consomem 40% da verba da educação", criticava o tucano--, hoje Kassab contabiliza entre os melhores feitos de seu governo a construção de 15 novos CEUs, oito em obras, sendo que quatro começarão a funcionar já neste ano.

Quanto ao programa de transferência de renda da prefeitura, o Renda Mínima, vitrine da administração Marta, esta semana foi vitaminado por iniciativa de Kassab. O tíquete médio pago por família foi de R$ 128 para R$ 160 e a prefeitura já anunciou a crescimento no número de famílias atendidas: das 110 mil atuais passará para 130 mil em 2007.

Aliados identificam na adoção de projetos da gestão Marta um esforço sistemático para solapar as bases petistas da cidade, conquistando-as para a aliança PSDB-PFL sob a liderança de Serra, a quem Kassab jura lealdade: "A aliança está mais forte do que nunca, agora com Serra no governo".

O pefelista não gosta de falar sobre uma eventual candidatura a prefeito em 2008, para suceder a si mesmo. Ele não descarta a hipótese, mas acha que não é o momento de discuti-la. "Na hora certa, vamos identificar qual é o melhor caminho para a cidade, avaliar a gestão, daí ver [o que fazer]", diz.

Olhos azuis, engenheiro e economista formado pela USP, sócio do tradicional Clube Pinheiros, Kassab, 46, saiu definitivamente da obscuridade quando autorizou aumento de 15% na tarifa dos ônibus no início de dezembro.

Seu nome então foi gritado por todo o centro da cidade em passeatas estudantis que o acusavam de defender os interesses das viações. "Por que em outras cidades a tarifa também custa R$ 2,30 e só aqui tem protestos?", indaga o prefeito.

Ele também enfrentou oposição renhida quando tentou aumentar o IPTU --teve de recuar, mas leva numa boa: "A gente debateu, discutiu, e houve alterações. Se estou sendo acusado de ter debatido democraticamente, então aceito essa acusação de bom grado", diz.

Na quinta-feira passada, Kassab recebeu a Folha em almoço no Edifício Matarazzo, no centro, sede do governo municipal. Entre garfadas de filé com purê de abóbora, concedeu a entrevista a seguir:

FOLHA - Como o sr. avalia os seus primeiros nove meses?
GILBERTO KASSAB - Passou aquela fase de especulação em relação a mudanças no rumo da prefeitura. Existia muita expectativa quando o Serra deixou sobre a marca Kassab, que iam haver mudanças na prefeitura. Depois quando houve o resultado das eleições, agora quando vai tomar posse, junto com o anúncio dos secretários, os últimos, as poucas mudanças que tivemos, fica claro que tivemos uma linha desde o primeiro dia, há dois anos atrás, com a eleição do Serra prefeito e eu vice, e essa linha não foi mudada em relação a plano de governo, em relação a linha de ação e conduta política, em relação a relacionamento com os outros poderes, seja o Estado seja o governo federal, e seja em relação à manutenção da aliança. Essa não é uma administração do PFL, continua sendo uma administração do PSDB com o PFL, com os mesmos bons quadros e com o mesmo programa. E vai ser assim até o último dia e hoje eu vejo que não há nenhuma especulação, nenhuma dúvida na cidade de que essa é a efetiva realidade. É uma nova fase, com o Serra agora governador empossado. Talvez seja, nas últimas décadas, o governador que assume o cargo com o maior conhecimento da cidade de São Paulo, conhece em detalhes todos os seus problemas, todo o seu potencial, e essa parceria é de fundamental importância. Não é que ele vá discriminar o interior. Ele vai saber, como em todos os cargos que ele ocupou, ele vai ser um grande governador e vai tirar proveito do conhecimento que ele tem da cidade de São Paulo. E vai fazer bons projetos, seja pelo governo do Estado, seja em parceria. Como, aliás, tem havido bons projetos em parceria também com o governo federal.

FOLHA - Como o Renda Mínima?
KASSAB - O Renda Mínima é um projeto com orçamento municipal, mas é um projeto que complementa ações do governo federal. Tem três iniciativas muito importantes do governo federal aqui na cidade de São Paulo. Uma são os entendimentos muito avançados para você fazer a modernização, a ampliação, quase que um novo pavilhão de exposições no Anhembi. Preservando o Campo de Marte, sua pista, suas instalações, com alterações, é evidente, nós vamos ter a oportunidade de ganhar para a cidade de São Paulo o maior centro de exposições da América Latina. Isso tem penalizado muito a cidade. Diversos eventos internacionais deixam de procurar a cidade porque não temos condições adequadas ou alguns procuram e chegam à conclusão que não temos condições adequadas. Portanto, com o novo Anhembi, nós vamos ter essa possibilidade. O presidente Lula quer esse projeto, seus ministros também, a prefeitura está participando também, e é um projeto do governo federal porque para ampliação é fundamental essa participação do governo federal com apoio da prefeitura.

FOLHA - Quanto vai custar?
KASSAB
- Os entendimentos são preliminares, mas todos eles muito positivos.

Você tem o segundo projeto, também em parceria com o governo federal, e esse também com o governo estadual, que é a Jacu-Pêssego, a sua continuidade. As obras estão num ritmo bastante satisfatório. É uma maneira de você compensar a falta do início da conclusão do Rodoanel leste, o trecho leste do Rodoanel, você podendo fazer a ligação do ABC com a Dutra e a Trabalhadores. Em breve a gente vai ter inauguração desse trecho que está em obras, até o final de março eu espero. Temos também a participação do governo federal no Expresso Cidade Tiradentes. Todos sabem, o Expresso será o maior corredor da cidade de São Paulo e o apoio do presidente Lula e do governo federal tem sido muito importante, assim como o apoio do governo do Estado. São obras, portanto, que mostram que são parcerias importantes. O Serra vai continuar essas parcerias e vamos ter oportunidade aí, pelo conhecimento que ele tem da cidade, de desenvolver outras em diversos campos. Eu tenho muita expectativa em relação à área da saúde, porque todos sabem do conhecimento que o Serra tem da área da saúde, a presença do Estado na cidade de São Paulo na área da saúde, e temos muita expectativa em função até da visão competente que ele tem do problema e da dimensão do Estado que ele possa fazer muito pelo Estado inteiro, e também pela cidade de São Paulo. E evidentemente a prefeitura ajudá-lo em todos esses campos.

Na área da educação é uma área em que o Serra tem uma prioridade desde o início, e nós estamos dando continuidade a essa prioridade, e são resultados bem concretos que a gente já pode hoje apresentar. Tem a sempre famosa história das escolas de lata, que nos últimos anos vários prefeitos apresentando a idéia de acabar com elas e definitivamente, por uma prioridade zero do Serra que a gente finalizou, nós não temos hoje mais nenhuma escola de lata, eram 54. Temos agora um outro projeto importante que é acabar com o terceiro turno nas escolas da rede pública municipal de educação. São 1.100 escolas, 1,1 milhão alunos. Isso significa uma responsabilidade muito grande e ter o terceiro turno significa você dar às crianças, aos estudantes, uma condição totalmente inadequada de estudo. O terceiro turno significa a criança ficar bem menos de quatro horas. Não tem como ter quatro horas, a criança entra às 7h e sai às 11h se as 11h já está entrando outra turma. E nós estamos num programa de construção de escolas muito intensa e também construção de CEUs. E vamos possibilitar, construindo esses CEUs e essas escolas, o mais rápido possível acabar com o terceiro turno. Sem falar no reajuste aos professores e parte do funcionalismo da educação que, inquestionavelmente, foi o mais expressivo das últimas décadas. Chega a 54% de aumento, infelizmente em forma de gratificação. Não foi possível estender a quem está fora da escola, aos inativos, mas se o tempo nos permitir nós queremos sim transformá-lo em aumento, porque é justo que seja estendido aos inativos. Os inativos hoje são aqueles que nos educaram, educaram nossos pais, e os professores de hoje são os inativos de amanhã. Então, não perdemos a esperança de transformar essa gratificação em aumento em algum momento.

FOLHA - São quantos CEUs em obras?
KASSAB - Nós temos a meta de fazer, já estão identificadas, 15 áreas muito importantes para que sejam construídos CEUs. Ainda recentemente eu autorizei o secretário da Educação a preparar um projeto, já está pronto, lá no Heliópolis, uma escola que será transformada em CEU. A mesma coisa em Paraisópolis e, mais recentemente, aí já foi uma decisão conjunta com o governador Serra, um CEU dentro da unidade do Tatuapé da Febem que foi desativada e portanto em parte dela nós teremos um CEU, aí em parceria da prefeitura e do Estado. Tem cinco que já estão concluídos ou quase concluídos, estarão em condição de uso no ano letivo de 2007, e mais 12 ou 13 que têm condições de receber ordens de serviço. Alguns já receberam, outros por detalhe burocrático ainda não receberam. Na educação acho que tem bastante avanço. Voltando à área da saúde, no que diz respeito à atuação municipal, relembrar que é uma das áreas mais problemáticas, mas também uma das áreas que mais tiveram avanço na cidade de São Paulo. Nós tivemos a oportunidade de criar as AMAs. O que são as AMAs? São as oportunidades das UBSs prestarem melhor serviço. Nós temos, em São Paulo, 403 UBSs. É uma UBS turbinada, com melhores condições de atendimento, a maior parte delas em parceria, parcerias essas que nos trazem a oportunidade de ter mais médicos, ter mais profissionais, um atendimento de melhor qualidade que desafoguem os prontos-socorros e os hospitais. Nós esperamos até o começo do ano, nas primeiras semanas, chegar perto de 50 AMAs. 50 AMAs significa 10% de nossa rede de UBSs. Dois hospitais importantes estão em fase final, um em fase final de construção, já acabou a construção, a obra civil, está em fase final de instalação de equipamentos.

FOLHA - Onde?
KASSAB - No Tiradentes. Esse hospital, como nós queríamos fazê-lo funcionar o mais rápido possível, num primeiro momento a maneira de fazê-lo funcionar rapidamente era através de convênio com o Estado. Como tivemos alguns problemas no andamento na fase final das obras e da instalação dos equipamentos e não foi possível com celeridade fazê-lo funcionar ele vai voltar para a prefeitura, que era o projeto original, e com isso no começo do ano ele estará em funcionamento. E o hospital M'Boi Mirim a previsão é que ele seja no segundo semestre de 2007. Os dois são hospitais de ponta, com grande capacidade de internação. A capacidade é acima de mil internações/ mês. É muito alto.

Na área da saúde, destacar que com essas parcerias a gente pode, sempre procurando valorizar o profissional e o profissionalismo da prefeitura, reequipar com recursos humanos o nosso quadro da saúde, que é o nosso maior problema. Na educação nós não temos problema em encontrar professores que trabalham em regiões distantes do centro de São Paulo. Os professores nasceram e moram lá e sempre trabalharam lá. Agora, na saúde, como a maior parte das escolas de medicina da cidade de São Paulo são no centro, e como geralmente o profissional de medicina, o médico, fica 10, 15 anos com atividade na faculdade, seja residência médica, seja com especializações, ele tem dificuldade de trabalhar longe a semana inteira. E nós só vamos resolver isso com as parcerias e mudando a nossa sistemática de contratação para que o médico, ao invés de trabalhar a semana inteira, ele trabalhe um ou dois dias só longe, podendo reservar os dias finais da semana para que se dedique às atividades das faculdades. São todas, Paulista, Santa Casa, Pinheiros, a própria Santo Amaro, são no centro expandido da cidade. Também é algo que não foi equacionado definitivamente, mas nós vamos...

A saúde e a educação são as prioridades da cidade de São Paulo. A gente tem muito o que apresentar, mas os problemas são apresentados também com transparência. Não deu para resolver todos, nem dará para resolver nessa gestão.

FOLHA - O sr. tem projeto para 15 CEUs e ampliou renda mínima. O sr. está querendo avançar sobre as bandeiras da Marta?
KASSAB - O administrador tem de ser responsável. Passou a época do sensacionalismo de dizer que está tudo errado. Existem programas na cidade, temos de dar seqüência a eles, existem investimentos. A obra mais cara é a obra não terminada. O programa mais caro é o programa que a gente não procura aperfeiçoar. Seria uma demagogia muito grande hoje, graças a Deus o brasileiro amadureceu, a democracia está consolidada, e ele enxerga, os eleitores, os cidadãos, a postura do administrador. Então, cabe a nós dar seqüência ao que existe na cidade. Evidentemente existem situações novas. A cidade tem novas preocupações, novos problemas, e a gente vai enfrentando e procura eliminar coisas que não estão sendo feitas adequadamente. Eu sempre digo que existe por exemplo essa questão da poluição. O combate à poluição foi no início dessa gestão, com o Serra. Um combate muito intenso. Foi dele a iniciativa de realizar as primeiras fiscalizações mais rigorosas em relação à poluição visual. Mas foi na fase desse governo quando eu estava na prefeitura como prefeito que chegamos à conclusão de que não existe respeito na cidade. A poluição visual é agressiva, é acintosa, desrespeitosa. Isso não quer dizer que num segundo momento a gente não possa definir áreas para ter publicidade. Ninguém está dizendo que a cidade de São Paulo não terá mais publicidade. Mas nesse primeiro momento a convicção nossa, e tem unanimidade dentro da prefeitura, de todos os secretários que participaram desse grupo de trabalho, que precisaria sem ter uma solução radical para mostrar que a cidade tem comando, tem autoridade, precisávamos limpar a cidade. Então eu não tenho essa preocupação. As administrações se sucedem, eleição é um processo e administração é outro, e estamos deixando muito claro que a nossa postura é de respeito com a cidade.

FOLHA - O seu partido e o PSDB, nessa campanha, foram muito críticos em relação ao Bolsa Família, criticavam o Bolsa Família por achá-lo assistencialista, uma esmola. Por que o Bolsa Família era uma esmola, assistencialista, e o Renda Mínima é um programa tão bom que precisa ser ampliado e o tamanho do tíquete se aumenta e a parcela da população atendida é maior ainda?
KASSAB - Em primeiro lugar, a crítica que fizemos, PSDB e PFL, era em relação ao uso do Bolsa Família. Tínhamos várias denúncias do uso político do Bolsa Família. Eu posso afirmar que aqui na prefeitura, nessa gestão, não há esse uso. E encerraria por aí as minhas observações. Até porque o Bolsa Família, no bom sentido da palavra, foi iniciado no governo Fernando Henrique Cardoso. Então, não tinham críticas ao Bolsa Família e sim ao uso político do Bolsa Família em alguns Estados, e por isso eu ratifico aqui a posição do PSDB e do PFL. E se eu souber que o Renda Mínima em São Paulo tem aqui o uso político, pode ter certeza, é um compromisso, que será punido exemplarmente quem fizer desse programa um uso político.

FOLHA - O sr. tem falado com alguma empolgação dos teus projetos na prefeitura. O sr. não pensa mesmo em ser candidato à reeleição em 2008?
KASSAB - Não. Acho que a democracia amadureceu muito. O cidadão, o eleitor, não está pensando em eleição. Se o eleitor não está pensando em eleição, o administrador que tem sensibilidade também não está pensando. Então, eu não estou pensando nem em ser e nem em não ser. Essa preocupação não está na pauta, e na hora certa estará na pauta. Tenho como única preocupação ser um bom prefeito e corresponder às expectativas de quem votou na chapa Serra e Kassab e que tinha, ao votar nessa chapa, a expectativa de realização na cidade de importantes obras, investimentos e programas.

FOLHA - O sr. é secretário-geral do PFL. O PFL pensa em eleição. Um partido político tem de pensar. O sr. nunca participou de discussões sobre isso no PFL?
KASSAB - Não, eu não participei de nenhuma conversa. Até admito que tenha pessoas que achem que eu deva ser candidato, ou que ache que eu não deva, é natural.

FOLHA - O governador Lembo declarou à Folha que acha que o sr. tem de ser candidato.
KASSAB - Eu vi. Ele deu essa declaração, mas se entende que ele fez com sinceridade. É uma posição dele. Na hora certa nós vamos identificar qual é o melhor caminho para a cidade, avaliar a gestão, daí ver... Evidentemente que é um grupo de trabalho que existe aqui, é uma aliança entre PSDB e PFL, e o que eu vou defender é a manutenção da aliança PSDB/PFL. Essa aliança em São Paulo tem um líder, uma figura maior, que é o governador José Serra, que vai ter um papel muito importante nesse processo. Eu tenho certeza absoluta de que na hora certa nós vamos identificar o melhor caminho para a cidade de São Paulo e a minha única preocupação é ser um bom prefeito.

FOLHA - O que o sr. achou da definição do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso de que o novo PFL é o partido dos pagadores de impostos e das pessoas que defendem reduções substanciais da carga tributária?
KASSAB - O Fernando Henrique é um entusiasta da aliança PSDB/ PFL. A aliança com o Fernando Henrique viveu bons momentos. Tanto é que nos oito anos de seu mandato dirigiram o país o PSDB e o PFL, Fernando Henrique presidente e Marco Maciel vice-presidente. E hoje, assim como eu e outras tantas lideranças do PSDB e PFL, ele vê novamente fortalecida a aliança PSDB/PFL. Hoje, os dois partidos estão com uma aliança muito sólida na maior cidade do país, muito sólida no maior Estado do país e muito sólida no Brasil, onde os dois partidos juntos fazem oposição ao Lula. Então, a manifestação dele é uma manifestação de quem sabe fazer a leitura do processo político, sabe analisar os partidos e seus líderes e ela é muito simpática ao PFL.

FOLHA - O sr. concorda, então, com a definição que ele fez do PFL? É essa a base de sustentação do PFL?
KASSAB - Eu acho que esse tem sido um importante traço social e uma importante base de apoio do PFL e do PSDB. O partido, em todos os momentos, tem se manifestado de uma maneira muito veemente contra o aumento dos tributos e isso tem dado essa identidade ao PFL e ao PSDB também. E o Fernando Henrique, acertadamente, apontou isso.

FOLHA - O sr. foi acusado de ser um aumentador de impostos. IPTU, ISS, os sapateiros estão reclamando que o sr. está querendo tributá-los.
KASSAB - Essa avaliação é um equívoco de quem não acompanha proximamente o processo aqui na cidade de São Paulo. Em relação ao ISS, essas atividades, é uma imposição constitucional. A cidade de São Paulo lutou muito para que não houvessem os falsos incentivos. A Constituição Federal impõe que não haja nenhum incentivo em relação ao ISS, isso em relação a qualquer atividade. O que nós fizemos? No mesmo momento em que deixa claro esse patamar em que a Constituição Federal nos obriga, nós estamos dando para todas as atividades uma contrapartida superior a esse pagamento do tributo. Em algumas atividades já identificamos a contrapartida, em outras está sendo desenvolvido um projeto de lei para ser enviado à Câmara identificando com clareza essa contrapartida. Então, nenhuma atividade terá nenhuma sobrecarga adicional de tributos. Então, estou muito tranqüilo porque não houve aumento nenhum de tributo. Nós não vamos diminuir tributos, nós vamos criar contrapartidas.

FOLHA - O sr. defendeu bastante esse projeto, desde a discussão do IPTU, que haveria aumento em algumas áreas da cidade e redução em outras, defendeu as mudanças no ISS e sempre falou em justiça fiscal. O sr. acha que foi mal-compreendido isso pela cidade?
KASSAB - Não, eu estou muito tranqüilo. Pela primeira na cidade foi uma total transparência nessa questão tributária em relação à valorização de algumas atividades em relação aos tributos ou a promoção de uma justiça de uma determinada maneira, uma justiça fiscal. A transparência que foi dada pela prefeitura nos deu a tranqüilidade de em determinados momentos efetivar acordos. Eu, pra ser sincero, lamento que administrações anteriores tenham aumentado e não tenham discutido. Eu fico até orgulhoso. A gente debateu, discutir, fizemos algumas alterações fruto do debate, ainda ontem algumas alterações. Acho que governar é fazer com transparência. Eu diria que estranho são outras administrações, seja no âmbito estadual, municipal ou federal, que aumentam e não negociam. Se eu estou sendo acusado de ter debatido democraticamente e em alguns pontos a negociação me mostrou que a cidade queria outros caminhos, então eu aceito essa acusação de muito bom grado.

FOLHA - O sr. não acha que houve erro na condução do processo, por exemplo?
KASSAB - De maneira alguma. Eu acho que o projeto foi apresentado na hora certa, de maneira adequada. Eu deixei claro quando do encaminhamento que eles estavam sujeitos a debate, foram debatidos com a sociedade civil, com entidades. Um ajuste num primeiro momento para a sociedade civil, depois um ajuste na Câmara, e fruto do debate, esse debate que proporcionou a todos nós hoje, a cidade está tranqüila sabendo o que foi feito, o que não foi feito. Vários avanços foram conquistados, a questão da ITBI, por exemplo. Eu acho que é justa a ponderação que foi feita por várias lideranças da sociedade civil. Vamos fazer a justiça fiscal na venda do imóvel e não na ampliação do imóvel, porque quando a pessoa amplia o seu imóvel é algum resultado de uma economia para que ela possa ter um filho, ou trazer sua mãe para morar com o casal. Então ficamos sensibilizados, argumentações importantes. Vamos fazer a justiça, então, em vez de fazer nesse momento vamos fazer na venda do imóvel que foi valorizado com essas obras. Essa foi uma discussão que todos acompanharam com portas abertas. Eu critico quem não tenha feito essa discussão no passado, que tenha sido de uma maneira taxativa até o fim aumentando taxas, impostos de uma maneira até descabida. Eu me orgulho e vou continuar tendo essa postura. Vou sempre discutir e numa discussão, se você não vai abrir mão de nada, então é melhor não ter discussão.

FOLHA - Quando o sr. assumiu, muita gente não sabia quem seria o prefeito nem sabia o que esperar. Passado esse tempo, muita gente conhece o sr., muita gente que não conhecia passou a conhecer e muita gente que não conhecia passou a não gostar do sr.. Por exemplo, teve as manifestações dos estudantes contra as tarifas de ônibus. Como o sr. está lidando com essa situação nova?
KASSAB - A cidade de São Paulo é uma cidade com 11 milhões de habitantes. Quem nunca teve presença numa eleição majoritária não pode ser conhecido de 11 milhões de habitantes, seja no primeiro dia que assumiu, seja hoje. Então, é um processo que não me incomoda porque eu vejo com muita naturalidade. As pesquisas dizem hoje, elas são feitas em caráter informal, as pessoas comentam, que 50% dos eleitores não sabem quem é o prefeito. Eu vejo com naturalidade isso. Sempre insisto que o importante é que eu fique sempre com a consciência tranqüila de estar fazendo um bom trabalho. E importante é que essas pessoas que conhecem o prefeito, que acompanhem o seu trabalho, que participem da administração, evidentemente que façam a sua avaliação. Quem não conhece o prefeito e não sabe ainda quem é o prefeito, e é natural, tem mais dificuldade de avaliar. E é uma situação atípica, que não me incomoda, mas continuo com uma motivação muito grande de, através do meu trabalho, no final da gestão, quando tiver a oportunidade de apresentar os resultados da gestão, ser reconhecido como um bom prefeito da cidade. Quando à questão das manifestações, não há administrador que goste de dar tarifa. Eu gostaria que a tarifa fosse zero nos transportes. O que é estranho é que na cidade de São Paulo as pessoas que andavam de metrô e de ônibus elas pagavam a tarifa do metrô e a tarifa do ônibus. Para andar de trem e ônibus, a tarifa do trem e a tarifa do ônibus. E hoje elas pagam uma tarifa só. O prefeito José Serra, desde o primeiro dia, deu prioridade para a integração do bilhete único dos trens e metrô e a prefeitura paga metade dessa conta. E hoje nós temos uma tarifa que infelizmente é o mínimo possível, porque nós temos o nosso limite, uma tarifa de R$ 2,30, que é a mesma tarifa de grandes cidades do Estado de São Paulo, próximas a isso ou igual, e que não tem nenhuma manifestação. Então, eu tenho o maior respeito por todas as manifestações. Acho que devem ser intensificadas as ações, as discussões, para que a gente identifique junto ao governo federal, ao governo do Estado, à própria prefeitura, outras iniciativas que possam baixar a tarifa. Mas nessa legislação hoje, a cidade de São Paulo tem uma tarifa de R$ 2,30. Diversas outras cidades têm sem os mesmos benefícios. E eu só estou vendo manifestações na cidade de São Paulo. Então, me estranha muito essas manifestações. Estranha porque são legítimas, mas falta uma avaliação sensata do por quê. São pessoas esclarecidas e elas vão identificar que a situação é similar, pelo menos no Estado de São Paulo, nas grandes cidades, com tarifas iguais sem o mesmo benefício. E aqui na cidade de São Paulo nós baixamos a tarifa. É uma das poucas cidades do Brasil em que a tarifa foi baixada. Nessa gestão ainda. Eu estou citando casos de que a maioria daqueles que usam o transporte público usam ônibus e metrô e elas pagam uma tarifa só.

FOLHA - O sr. não acha que o aumento muito alto?
KASSAB - Acabei de dizer dos benefícios e da questão da integração com o metrô e com os trens. Posso dizer a vocês que quando chegou aqui um pedido da Secretaria dos Transportes de reajuste da tarifa para equilíbrio do sistema, que é esse valor da tarifa hoje, era de R$ 2,67. A prefeitura está pagando esse valor. Quando chegou esse número ao gabinete do prefeito, imediatamente eu pedi a manifestação dos secretários de Finanças e do Planejamento para que fizessem todos os esforços possíveis para diminuir ao máximo a tarifa para os usuários. E todos conhecem a competência do secretário Luna e do secretário Mauro Ricardo. Pessoas com espírito público que sabem o quanto é difícil para o secretário pagar a passagem. Depois de alguns dias eles vieram, foi encaminhado ao gabinete do prefeito esse número que a prefeitura podia comportar com subsídios, a cidade tem outras prioridades, a área da saúde, a área da educação, imediatamente o prefeito acabou sancionando esse valor.

FOLHA - E dá para garantir que não teremos novos reajustes de tarifa nos próximos dois anos?
KASSAB - Eu não gostaria de dar outros aumentos, mas eu não seria leviano de afirmar isso. Seria uma leviandade muito grande. Mas eu espero não precisar dar novos aumentos, novos reajustes. Espero, mas não seria leviano de afirmar isso.

FOLHA - O sr. foi incógnita recentemente andar no transporte coletivo. O que o sr. achou?
KASSAB - Eu tenho feito isso com muita freqüência, em especial nas áreas de transporte, de saúde e de educação. Eu não aviso, vou na escola, entro no banheiro e na cozinha sem avisar, converso com as professoras, e isso é muito positivo. Eu acho que a qualidade do serviço público está compatível com as nossas expectativas. São Paulo é uma cidade com muito problemas, muitas dificuldades, devagarzinho estamos superando parte delas e deixando claro aquelas que a gente não está conseguindo superar.

FOLHA - E o que o sr. não está conseguindo superar?
KASSAB - A maior frustração é a falta de verbas para resolver de uma vez por todas, em curtíssimo prazo, os problemas da saúde e da educação.

FOLHA - Na área da habitação há muitos problemas também.
KASSAB - Na área da habitação nós temos feito todos os investimentos possíveis do ponto de vista orçamentário, na questão da área dos mananciais, na área de risco, há várias iniciativas na área de risco, e na urbanização de favelas há um trabalho intenso em Paraisópolis, Heliópolis, e comparativamente eu acho que, em relação aos últimos dez anos, o nível do que se fez acho que acima até da média desses últimos dez anos. A cidade tem muitos problemas, talvez milhões de pessoas, passa de um milhão de pessoas vivendo em condições que precisam ser melhoradas.

FOLHA - Os principais projetos na área da habitação depende de verbas do governo do Estado. Um dos projetos de mais visibilidade dos próximos anos vai ser a reforma das marginais, que o sr. quer entregar para o governo do Estado. Em grandes projetos o sr. vai depender um pouco do governo federal, mas muito do governo do Estado. O sr. não se sente um pouco "amarrado" com o governador Serra?
KASSAB - Na área da habitação, nós estamos fazendo uma parceria e assinando nos primeiros dez dias de janeiro, prefeitura, governo do Estado e governo federal, a prefeitura através da Cohab, o governo do Estado através da CDHU, o governo federal através da Caixa Federal, estamos somando subsídios, somando as ações, com isso barateando o preço para aquele que vai adquirir o seu imóvel e com isso agilizar e procurar aumentar o volume de oferta na cidade de São Paulo. Temos a oportunidade de, nas próximas semanas, apresentar a assinatura dos primeiros convênios.

FOLHA - O sr. não acha que os grandes projetos da prefeitura vão ficar amarrados ao governo do Estado?
KASSAB - São Paulo tem um Orçamento de R$ 21,5 bilhões, que foi aprovado ontem. O Orçamento estadual chega a quase R$ 90 bilhões. E o Orçamento federal, centenas de bilhões. Portanto, é evidente que nós temos, todos os municípios brasileiros, que trabalhar em parceria com os Estados e com o governo federal, que têm orçamentos maiores e cuja vocação é justamente fazer trabalho em conjunto, projetos em conjunto com os municípios. É natural que seja assim.

FOLHA - Outro dia o Painel, da Folha, publicou que o governador Serra está sendo chamado de "prego", uma mistura de prefeito com governador. Na Câmara, o pessoal chama o sr. de secretário para assuntos de São Paulo do Serra. O sr. administra mesmo São Paulo?
KASSAB - A relação com o governador Serra é a melhor possível, pessoal, política e partidária. Ele foi eleito prefeito de São Paulo, esse é o programa de governo que ele construiu, programa dele que ele construiu com o meu apoio também, como vice-prefeito, e é uma satisfação muito grande tê-lo junto ainda pensando a cidade de São Paulo. Seria de estranhar se ele não estivesse pensando a cidade de São Paulo, e ele está, e para nós todos é motivo de satisfação, mostra seu compromisso com a cidade e eu gostaria muito que ele continuasse presente na cidade de São Paulo, é muito importante para a cidade e isso traz muita satisfação para todos nós.

FOLHA - A cidade parece que está mais suja.
KASSAB - Eu discordo. Eu acho que está mais limpa. E as últimas manifestações de entidades, pessoas que fazem pesquisa em bairros, têm nos dito que um dos principais itens da avaliação da cidade é em relação à qualidade de seu serviço, sua manutenção, sua limpeza. A cidade pode não estar no ideal, mas muito mais limpa do que em anos anteriores.

FOLHA - Então, por que aumentou o número de reclamações em relação à limpeza pública?
KASSAB - Olha, eu não sei em relação às gestões anteriores, mas nessa tem transparência total. As manifestações são abertas ao público, nosso sistema é totalmente franqueado à imprensa e eu posso afirmar a você que a cidade está mais limpa.

FOLHA - O sr. tem feito as coisas que o sr. fazia anteriormente? Tem ido ao Pinheiros, por exemplo?
KASSAB - Menos que antes. Não dá tempo.

FOLHA - Prefeito, e a elite branca do governador Cláudio Lembo?
KASSAB - O Cláudio Lembo está acabando, praticamente encerrando seu mandato, mostrou sua capacidade, sua inteligência, sua cultura, mostrou que estava preparado para o cargo, enfrentou adversidades muito agudas e soube se sair muito bem. Tem hoje o respeito de todos os paulistas, de todos os brasileiros. Foi um grande governador nesse período.

FOLHA - Ele fez uma das críticas sociais mais ácidas que a gente ouviu no último período. Como o sr., que é um homem da elite branca, olhos azuis, estudantes da Poli, pretende ajudar a corrigir essas distorções citadas pelo governador Lembo?
KASSAB - Investindo muito em educação. O caminho para o Brasil reencontrar um crescimento expressivo é investir em educação. A prefeitura tem feito isso, medidas que nunca foram realizadas aqui na cidade, e os resultados demoram a aparecer, mas o investimento em educação é o único caminho para a gente sonhar com um país melhor.

FOLHA - O sr. acha que o projeto de combate à poluição visual é o seu projeto de mais visibilidade? O sr. acha que ele pega?
KASSAB - Eu vejo muita aceitação a esse projeto na cidade de São Paulo. A Justiça está avaliando e eu tenho certeza absoluta que ela vai chegar às suas conclusões pela legalidade do projeto, é um projeto que foi aprovado pela Câmara Municipal, e é um projeto que vai mudar a fachada de São Paulo, vai torná-la mais humana, nós vamos poder conhecer a nossa cidade, vamos poder conhecer a nossa arquitetura, vamos conhecer os nossos prédios, os modernos, os velhos, os bonitos, os feios, as nossas avenidas, os nossos bairros. Eu tenho certeza absoluta de que em poucos dias nós vamos estar iniciando as ações para fazer do Cidade Limpa um importante projeto para a cidade de São Paulo. Não para o prefeito, para a cidade de São Paulo.

FOLHA - Mas o prefeito vai ficar conhecido por isso? O prefeito terá essa marca?
KASSAB - Eu tenho feito tudo que eu acho correto fazer. Eu tenho feito todo o possível no sentido de ter os programas corretos, os aperfeiçoamentos corretos, e essa é uma decisão que eu acho correta da prefeitura, de combater a poluição visual. E com essa lei. É com radicalismo na fiscalização, na legislação, que nós vamos tornar a cidade limpa e, até num segundo momento, de analisar a hipótese de você ter a publicidade de uma maneira mais organizada na cidade de São Paulo. Isso vai ficar para as próximas gestões, para os próximos prefeitos, mas o melhor caminho hoje é a tolerância zero, é o projeto Cidade Limpa.

FOLHA - Em sua gestão o sr. deve fazer a publicidade do mobiliário urbano?
KASSAB - Eu não estou convencido. Eu tenho dito sempre que se encaminharmos um projeto de publicidade no mobiliário urbano, por coerência, porque ele envolve um aspecto visual, nós usaríamos as suas receitas para continuar combatendo a poluição visual. E aí veio a idéia, muito bem aceita, de usar essas receitas para enterrar fios e cabos.

FOLHA - Aí inclui enterrar fios e cabos dos trólebus, o que significaria acabar com os trólebus?
KASSAB - Não. São coisas distintas. Os trólebus são um importante meio de transporte. Os fios que eu mencionei são aqueles da rede elétrica que trazem energia para as residências. São coisas distintas.

FOLHA - É transformar São Paulo numa grande Oscar Freire?
KASSAB - O ideal é essa cidade dos sonhos, a cidade inteira daquela maneira. A cidade tem suas limitações de orçamento. Então, portanto, você precisa ter criatividade, tem de ter firmeza, autoridade. O projeto Cidade Limpa tem um custo reduzido. Mas a prefeitura precisa ter firmeza, autoridade.

FOLHA - Na Nova Luz, a região da Cracolândia, estamos ainda batendo cabeça, não é?
KASSAB - O projeto está indo muito bem. A primeira etapa envolve as desapropriações, que é a parte mais lenta. Mas enquanto não se conclui a primeira etapa você já está avançado para a segunda, a terceira, a quarta e a quinta. Estamos no ponto de partida. Concluído o processo de desapropriação imediatamente nós vamos estar com o projeto pronto, com os investidores preparados, com os projetos preparados, e nós vamos ter a oportunidade de mostrar um dos mais importantes programas mundiais de recuperação de uma área.

FOLHA - E isso vai ser ainda no seu governo?
KASSAB - Espero que sim. Acredito que sim.

FOLHA - Hoje a gente anda lá e não tem nada.
KASSAB - Não pode, porque ainda não concluiu a desapropriação. Está na fase final de desapropriação.

FOLHA - O sr. conversa com seu pai sobre os projetos de educação?
KASSAB - Evidente que eu tenho nele um importante interlocutor, é um educador. Como o Cláudio Lembo é um educador, Serra é um educador. Tenho nesses três referências sim, assim como outras pessoas importantes. Jorge Borhausen foi ministro da Educação, Marco Maciel foi ministro da Educação. Então, meu pai, Borhausen, Marco Maciel, Cláudio Lembo, Serra, são educadores que estão nesse projeto juntos aqui na prefeitura, de uma maneira ou outra, e são interlocutores próximos sim.

FOLHA - Nesse projeto de usar os clubes municipais para fazer o pós-escola o sr. conversou com seu pai?
KASSAB - Essa foi uma idéia do secretário Pinotti, de trazer os clubes municipais para o programa do pós-escola. Isso foi aperfeiçoado, o pós-escola cresceu. Hoje nós estamos estendendo o pós-escola para todas as escolas do município e estamos integrando ele a todos os clubes esportivos do município. Nós vamos ter uma grande reformulação na Secretaria de Esportes, ela vai ganhar espaço na administração. O secretário Walter Feldman, que eu anunciei hoje o seu convite e a aceitação, já está com a missão de desenvolver um dos programas mais ambiciosos de esporte para os alunos da rede pública da história da cidade.

FOLHA - Aliás, o Feldman assume uma secretaria que o PPS se gaba de ter.
KASSAB - Os secretários têm sua militância, ou não têm, e todos os partidos são muito unidos em todas as secretarias. O PPS participa de todas as secretarias, assim como o PFL e o PSDB. É um governo dos partidos e da sociedade.

FOLHA - Na Câmara, o governo tem construído uma maioria, o Centrão tem vindo mais para o lado do governo.
KASSAB - Isso tudo tem sido coordenado pelo secretário Aloysio. Temos de respeitar o papel do Legislativo, sua autonomia. Tem sido um interlocutor muito ativo. A Câmara, nesses dois anos, teve uma boa produção, bons projetos para a cidade, seja os encaminhados pelo Executivo, seja os apresentados por vereadores, e eu, se fosse avaliar a Câmara, diria que ela teve dois anos de bons resultados para a cidade de São Paulo.

FOLHA - E o sr. foi vereador, conhece tudo lá dentro.
KASSAB - Fui vereador de 1992 a 94, 14 anos atrás. Fui vereador dois anos, conheço a tramitação. Os vereadores são diferentes, praticamente não tem mais nenhum da minha época, a grande maioria lá. Talvez com uns dois ou três eu tenha convivido.

FOLHA - E quem conviveu com o sr. diz que o sr. era bom na articulação.
KASSAB - Eu sempre procurei me esforçar ao máximo, seja como vereador, deputado federal, deputado estadual, como parlamentar.

FOLHA - Dizem que o sr. sempre foi um bom articulador. O sr. se considera bom articulador?
KASSAB - Eu procurei ser um bom parlamentar. Cada um faz uma avaliação de acordo com sua visão, mas eu sempre me esforcei para estar presente, discutir os projetos, não fugir das discussões. Presidi, no Congresso Nacional, importantes comissões. Presidi duas comissões. A Comissão de Minas e Energia, uma comissão importante. Fui presidente da comissão, inclusive, quando teve o apagão. Depois presidi a Comissão de Ciência, Tecnologia e Comunicação, também importantíssima, na era das privatizações, e sempre procurei fazer um bom trabalho.

FOLHA - O sr. conversa com outras pessoas sobre a prefeitura fora daqui?
KASSAB - Converso. Centenas de pessoas. O cargo de prefeito de São Paulo impõe uma interlocução com a sociedade. Com todas as entidades, lideranças, sociedade civil, sindicalistas, trabalhadores, estudantes, e eu tenho feito isso, é uma rotina. Você cobre a minha agenda, sabe disso, então isso é uma rotina.

FOLHA - Inclusive nessa situação de cobrir sua agenda apareceu uma coisa curiosa: o sr. é vice-presidente da Associação Comercial e um de seus principais projetos é o Cidade Limpa, e a Associação Comercial conseguiu uma liminar contra o Cidade Limpa.
KASSAB - Eu vejo com muita naturalidade. Eu sou vice-presidente da Casa, tem um grupo de empresários lá que questiona a legalidade da lei. Eles fazem parte da entidade como eu faço e eles têm todo o direito, legítimo, de reivindicar que a entidade argumente a legalidade da lei. Eu tenho certeza que a lei é legal e vejo com muita naturalidade essa ação da associação, atendendo a alguns de seus associados. Confio na Justiça, na lei, não tenho o que temer. Eu acho que meu comportamento seria inadequado se eu fosse impedir a entidade de corresponder ao desejo de parte de seus associados.

FOLHA - Como o sr. está vendo essa transição de governos em Brasília e em São Paulo? Como o sr. acha que ficarão as composições políticas daqui para a frente?
KASSAB - Eu acho que hoje você tem bem identificado dois núcleos políticos no Brasil. Você tem de um lado o PT com o PMDB e alguns outros partidos. É muito claro isso. O PT conseguindo trazer o PMDB e o PMDB indo ao projeto do PT. E tem do outro lado PSDB, PFL e alguns outros partidos. Talvez, com muita clareza, o PPS, e sem muita clareza os outros partidos. E, do outro lado, PT, PMDB e vários outros partidos. Isso há anos você não tinha no Brasil, essa clareza. O PMDB, por exemplo, tinha uma situação dúbia, se estava no governo, se não estava. Agora, o PMDB está no governo, quer estar no governo, unido. Então, eu vejo essa grande diferença dos anos anteriores, eu vejo esse quadro muito claro de quem é situação e de quem é oposição. Não tem mais aqueles partidos que você não sabe se é situação ou se é oposição.

FOLHA - O sr. acha que esse quadro vai se refletir nas eleições daqui a dois anos?
KASSAB - Eleições municipais são diferentes. O que prevalece é o quadro local, as peculiaridades do quadro local, os problemas locais.

FOLHA - O sr. acha que essa eleição, diferente da anterior, não será uma eleição federalizada?
KASSAB - Acho que ela pode até ser federalizada, mas preponderantemente ela é local. Como foi aqui também.

FOLHA - Aqui era Serra e Marta, era PT e PSDB.
KASSAB - Tinha dois candidatos, era Serra e Marta. Isso mesmo, era local. Era Marta, que era prefeita, com suas propostas, com seus erros, seus acertos, e o Serra, com seu histórico, seus compromissos.

FOLHA - Hoje, vendo daqui a um ano e oito meses, como o sr. acha que vai ser a eleição municipal, quais serão as principais forças? O PT, com a Marta, que hoje é tida como imbatível por algumas pesquisas. O governador Serra não é mais candidato. O sr. é uma força que, sendo ou não candidato, estará no xadrez político.
KASSAB - Acho que é muito prematuro. O quadro político em qualquer cidade, qualquer Estado, qualquer país, ele é muito dinâmico. E com tanto tempo de antecedência você levantar uma hipótese de como vai ser o quadro em dois anos você não faria uma análise perfeita. Por isso, o importante agora é concentrar os esforços no Poder Executivo, nas metas.

FOLHA - O sr. não acha que existe uma fraqueza dos partidos, desse bloco que o sr. está dizendo? A gente está vendo um avanço na discussão que está sendo encaminhada pelo outro bloco, do PT e seus aliados, que são problemas sociais. O sr. não acha que o PFL e PSDB estão faltando entrar um pouco? Quais são as propostas desses partidos, por exemplo, para a questão do aborto, para a questão da eutanásia, tem agora anencefalia. Está suscitando a maior discussão. O que as forças políticas conservadoras do país têm a dizer? Não existe um buraco de posições desse outro bloco que faz oposição ao PT?
KASSAB - Não. É um bloco que faz oposição e que durante dez anos governou o país com propostas, com ações, que melhoraram muito o país. Hoje, a oposição, como em qualquer lugar do mundo, tem como prioridade fiscalizar. Fiscalizar as ações do governo, fiscalizar os seus compromissos assumidos com o país. Portanto, a oposição tem tido esse papel, e eu acho que tem feito com muita competência. Em relação a questões que são visões de mundo, cabe aos líderes se posicionarem, todos aqueles que têm atuação na vida pública, a cada momento que demandado se manifestar, emitir suas opiniões, que nem sempre são partidárias.

FOLHA - O sr., por exemplo, existe uma discussão sobre o aborto de feto anencéfalo.
KASSAB - Eu sou contra o aborto, salvo casos previstos em lei.

FOLHA - Nesse caso?
KASSAB - Salvo casos previstos em lei, que são casos de cunho médico. Minha posição é muito clara. Você pode flexibilizar os casos previstos em lei. Sou contra o aborto, sou pelo direito à vida, mas respeito e endosso e apóio os casos previstos em lei.

FOLHA - Como é sua vida religiosa?
KASSAB - Sou católico. Não sou praticante. Mas eu respeito todas as religiões. Agora, no final do ano, por exemplo, estive em cultos de diversas religiões, não apenas à missa da Igreja Católica. Fui convidado de diversas religiões. Evangélicos, todos eles me convidaram e eu fui ao culto de Natal, culto de fim de ano, tenho respeito por todas, mas sou católico.

FOLHA - Qual é o título que o sr. gostaria de ter nessa matéria que estamos fazendo agora?
KASSAB - (pausa) A meta de Kassab é ser um bom prefeito.

Especial
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