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24/01/2007
-
10h41
RAPHAEL GOMIDE
da Folha de S.Paulo, no Rio
O major Carlos Alberto Cardoso Fragoso, até semana passada comandante do Grupamento Especial Tático Móvel, unidade de elite da Polícia Militar do Rio, foi preso terça-feira (23) acusado de comandar um esquema de extorsão a traficantes da favela do Muquiço (zona norte).
Policial há 20 anos, ele foi agraciado com a medalha Tiradentes, maior condecoração da Assembléia Legislativa do Rio.
Ele foi preso em uma operação da Corregedoria da Polícia Militar com a Polícia Federal.
A prisão faz parte da Operação Tingüi, da PF, responsável pela detenção de 76 PMs em dezembro de 2006. Foi a maior captura coletiva de policiais da história da corporação, sob a acusação de haver esquema de extorsão, apoio e negociação com traficantes. Ontem, também foram presos três PMs do 9º Batalhão, sob a mesma acusação contra o major.
Segundo a PF, Fragoso foi apontado por um subordinado já preso e apareceu em gravações telefônicas como o chefe do esquema de proteção a criminosos do Muquiço. Numa gravação, um policial diz a um traficante que "metade da merenda é do major", referindo-se a uma propina.
Ele foi afastado na semana passada do comando do Getam, por motivos administrativos, de acordo com a PM. O Getam, do qual o major havia sido também subcomandante, já tinha dez policiais presos pela Operação Tingüi, acusados de integrar quadrilha com esse fim.
A mulher do oficial, Kelaine, estava ao seu lado no momento da prisão, no quartel. "Ele não negocia com bandido, não é bandido. Pode perguntar a qualquer oficial na PM, até ao comandante. Não há indenização que pague meu marido ser humilhado na frente da tropa por algo que não fez", disse à Folha, chorando ao telefone.
Após ser detido, o major foi levado, sem algemas, para prestar depoimento na sede da PF no Rio. Ele seria mantido preso no Grupamento Especial de Policiamento de Estádios.
O ex-comandante do Getam recebeu em maio de 2006 a medalha Tiradentes. Semana passada, o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, também recebeu a honraria. O deputado Ely Patrício (PSDC) justificou o gesto dizendo que Fragoso é uma "pessoa proba, portadora de um caráter exemplar e possuidora de preciosas virtudes".
Ao ser informado da prisão, ontem, o deputado disse ter conhecido o oficial por meio de um sargento que trabalha com ele e o indicou para receber a medalha. Disse estar "surpreso" e considera até retirar a homenagem feita. "Não seria contra [retirar], não."
Não é a primeira vez que o Getam, grupamento de elite da PM criado em 99, tem oficiais envolvidos em denúncias de corrupção em favelas.
Em 2003, o tenente-coronel José Carlos Dias de Azevedo --então comandante regional do Getam-- foi condenado a três anos de prisão, com o major Fábio Gutman e o capitão Wellington Medeiros --pena de quatro anos-- por extorsão. Eles teriam pedido R$ 120 mil a criminosos da Cidade de Deus para evitar reprimir o tráfico.
Segundo a página da PM na internet, o Getam --unidade operacional de elite-- foi criado em 1999, com o fim de "isolar e extinguir as manchas criminais", com "ações táticas, em áreas onde tenha comprovado aumento de determinado delito, e atuação coordenada e qualificada de um grupo de PMs especialmente treinados".
Como unidade de elite, é diretamente subordinado ao Comando de Policiamento da Capital (CPC), desde 2002, como um batalhão de área.
Outro lado
Chorando muito e indignada com o que considera uma injustiça, Kelaine, mulher do major Carlos Alberto Cardoso Fragoso, afirmou que o marido é "um cara honesto e íntegro que não leva R$ 1 de ninguém".
"Não tem ninguém, nem coronel, com coragem para tentar "negociar" qualquer coisa com ele. Pode perguntar a qualquer um que vão lhe responder quem é o major Fragoso."
Ela estava ao lado do marido na hora da prisão. Atendeu à ligação da Folha chorando e pediu cuidado na reportagem para não prejudicar o marido. Kelaine disse que, como ela e Fragoso, "todos estão de boca aberta" porque o marido "está sendo tratado como bandido".
"O que tem de bandido declarado na PM e pegam um cara honesto, que trabalha e não leva R$ 1 de ninguém? Meu marido já foi humilhado demais. Provarão que ele não tem nada a ver com isso, mas não tem indenização que pague."
A Folha ouviu um oficial PM do alto escalão do governo, que já comandou Fragoso. Ele disse estar surpreso com a prisão e descreveu o major como "íntegro e bom profissional".
"Pode puxar as ligações que quiserem, não vai aparecer nada. Quero que mostrem para ver se meu marido tem alguma coisa. Se tem, é conversa com subordinado, ele autorizando a entrada em favela. Ele não podia saber se estavam negociando com bandido. Se soubesse, estavam presos", disse Kelaine.
Segundo ela, o major nunca exerceu nenhuma atividade extra. "Nem segurança pessoal ele fez, para ninguém dizer nada. São 20 anos de corporação só. É o salário dele que paga nossas contas, só. Ele vai da casa para o trabalho e do trabalho para casa, ou então sai comigo." A Folha não conseguiu localizar o advogado do major.
Especial
Leia o que já foi publicado sobre suspeitas envolvendo policiais
Preso ex-chefe de grupo de elite da PM do RJ
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da Folha de S.Paulo, no Rio
O major Carlos Alberto Cardoso Fragoso, até semana passada comandante do Grupamento Especial Tático Móvel, unidade de elite da Polícia Militar do Rio, foi preso terça-feira (23) acusado de comandar um esquema de extorsão a traficantes da favela do Muquiço (zona norte).
Policial há 20 anos, ele foi agraciado com a medalha Tiradentes, maior condecoração da Assembléia Legislativa do Rio.
Ele foi preso em uma operação da Corregedoria da Polícia Militar com a Polícia Federal.
A prisão faz parte da Operação Tingüi, da PF, responsável pela detenção de 76 PMs em dezembro de 2006. Foi a maior captura coletiva de policiais da história da corporação, sob a acusação de haver esquema de extorsão, apoio e negociação com traficantes. Ontem, também foram presos três PMs do 9º Batalhão, sob a mesma acusação contra o major.
Segundo a PF, Fragoso foi apontado por um subordinado já preso e apareceu em gravações telefônicas como o chefe do esquema de proteção a criminosos do Muquiço. Numa gravação, um policial diz a um traficante que "metade da merenda é do major", referindo-se a uma propina.
Ele foi afastado na semana passada do comando do Getam, por motivos administrativos, de acordo com a PM. O Getam, do qual o major havia sido também subcomandante, já tinha dez policiais presos pela Operação Tingüi, acusados de integrar quadrilha com esse fim.
A mulher do oficial, Kelaine, estava ao seu lado no momento da prisão, no quartel. "Ele não negocia com bandido, não é bandido. Pode perguntar a qualquer oficial na PM, até ao comandante. Não há indenização que pague meu marido ser humilhado na frente da tropa por algo que não fez", disse à Folha, chorando ao telefone.
Após ser detido, o major foi levado, sem algemas, para prestar depoimento na sede da PF no Rio. Ele seria mantido preso no Grupamento Especial de Policiamento de Estádios.
O ex-comandante do Getam recebeu em maio de 2006 a medalha Tiradentes. Semana passada, o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, também recebeu a honraria. O deputado Ely Patrício (PSDC) justificou o gesto dizendo que Fragoso é uma "pessoa proba, portadora de um caráter exemplar e possuidora de preciosas virtudes".
Ao ser informado da prisão, ontem, o deputado disse ter conhecido o oficial por meio de um sargento que trabalha com ele e o indicou para receber a medalha. Disse estar "surpreso" e considera até retirar a homenagem feita. "Não seria contra [retirar], não."
Não é a primeira vez que o Getam, grupamento de elite da PM criado em 99, tem oficiais envolvidos em denúncias de corrupção em favelas.
Em 2003, o tenente-coronel José Carlos Dias de Azevedo --então comandante regional do Getam-- foi condenado a três anos de prisão, com o major Fábio Gutman e o capitão Wellington Medeiros --pena de quatro anos-- por extorsão. Eles teriam pedido R$ 120 mil a criminosos da Cidade de Deus para evitar reprimir o tráfico.
Segundo a página da PM na internet, o Getam --unidade operacional de elite-- foi criado em 1999, com o fim de "isolar e extinguir as manchas criminais", com "ações táticas, em áreas onde tenha comprovado aumento de determinado delito, e atuação coordenada e qualificada de um grupo de PMs especialmente treinados".
Como unidade de elite, é diretamente subordinado ao Comando de Policiamento da Capital (CPC), desde 2002, como um batalhão de área.
Outro lado
Chorando muito e indignada com o que considera uma injustiça, Kelaine, mulher do major Carlos Alberto Cardoso Fragoso, afirmou que o marido é "um cara honesto e íntegro que não leva R$ 1 de ninguém".
"Não tem ninguém, nem coronel, com coragem para tentar "negociar" qualquer coisa com ele. Pode perguntar a qualquer um que vão lhe responder quem é o major Fragoso."
Ela estava ao lado do marido na hora da prisão. Atendeu à ligação da Folha chorando e pediu cuidado na reportagem para não prejudicar o marido. Kelaine disse que, como ela e Fragoso, "todos estão de boca aberta" porque o marido "está sendo tratado como bandido".
"O que tem de bandido declarado na PM e pegam um cara honesto, que trabalha e não leva R$ 1 de ninguém? Meu marido já foi humilhado demais. Provarão que ele não tem nada a ver com isso, mas não tem indenização que pague."
A Folha ouviu um oficial PM do alto escalão do governo, que já comandou Fragoso. Ele disse estar surpreso com a prisão e descreveu o major como "íntegro e bom profissional".
"Pode puxar as ligações que quiserem, não vai aparecer nada. Quero que mostrem para ver se meu marido tem alguma coisa. Se tem, é conversa com subordinado, ele autorizando a entrada em favela. Ele não podia saber se estavam negociando com bandido. Se soubesse, estavam presos", disse Kelaine.
Segundo ela, o major nunca exerceu nenhuma atividade extra. "Nem segurança pessoal ele fez, para ninguém dizer nada. São 20 anos de corporação só. É o salário dele que paga nossas contas, só. Ele vai da casa para o trabalho e do trabalho para casa, ou então sai comigo." A Folha não conseguiu localizar o advogado do major.
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