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29/10/2000 - 04h37

Crime cresce menos com PM comunitária

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ALESSANDRO SILVA, da Folha de S.Paulo

O número de homicídios caiu e o de roubos cresceu menos nas regiões do município de São Paulo onde há bases de policiamento comunitário, em comparação com outros locais que não possuem esse tipo de estrutura.

Essa é a constatação de uma pesquisa que está sendo concluída pelo Instituto Fernand Braudel de Economia Mundial, com financiamento da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo). É a primeira vez que se medem os efeitos do policiamento comunitário, modalidade que estimula a criação de vínculos entre policiais e moradores de determinada região.

Apesar dos quase três anos da experiência, o governo ainda não aferiu os resultados do programa, que chegou a ser apontado pelas autoridades como única saída para enfrentar a violência.

Enquanto os distritos policiais da capital sem bases comunitárias viram os casos de roubo aumentar 29% (98) e 49% (99), os locais com bases registraram, juntos, aumentos de 18% (98) e 33% (99), sempre em comparação com 97 -o ano da implantação do programa no Estado.

O resultado foi ainda melhor no caso dos homicídios, o segundo crime analisado pela pesquisa. Os distritos com policiamento comunitário tiveram juntos, em 98 e 99, menos ocorrências que em 97, contrariando a tendência de aumento nas regiões onde o aparato não existe.

Nem todos os locais com bases comunitárias tiveram queda nos homicídios.
No Jardim Ângela, recordista em mortes, os assassinatos crescem há dois anos.

"Inegavelmente houve uma interferência do policiamento comunitário, porque há uma diferença clara onde tem ou não bases", afirma José Vicente da Silva, pesquisador de segurança do Instituto Fernand Braudel.

Considerando o total dos distritos da capital, tanto roubo quanto homicídio atingiram no ano passado as maiores marcas desde 1985, segundo a Secretaria da Segurança Pública.

No período da pesquisa do instituto, que vai só de 95 a 99, os assaltos saltaram de 52,9 mil para 110 mil.

No caso dos assassinatos, houve queda de 95 a 97 e posterior aumento nos anos seguintes, segundo dados oficiais, atingindo 5,4 mil ocorrências no ano passado.

Implantação

A nova filosofia de patrulhamento começou a ser disseminada pelo Estado no final de 97, em meio à crise na Polícia Militar causada pelas imagens de tortura na favela Naval, em Diadema (Grande São Paulo), e pelo aumento da criminalidade. É a PM, com cerca de 82 mil policiais, que faz o patrulhamento ostensivo.

Houve um surto inicial de implantação de policiamento comunitário nos primeiros 18 meses do projeto, desacelerado agora pelo governo do Estado, segundo o cientista político Paulo de Mesquita Neto, 39, membro da Comissão de Implantação do Policiamento Comunitário e pesquisador do Núcleo de Estudos da Violência da USP (Universidade de São Paulo).

No início surgiram cerca de 200 bases, de um total hoje de 243. Sempre houve dúvidas na corporação em relação aos efeitos da inovação. "A comissão está discutindo exatamente como essa medição será feita", diz ele.

A capital concentra hoje metade do efetivo designado para o policiamento comunitário no Estado, cerca de 4 mil homens, espalhados em 48 bases. É menos de 10% da tropa operacional no município de São Paulo.

Segundo a PM, 32 das 93 delegacias da capital têm policiamento comunitário em suas regiões de atuação. Há casos de até cinco bases por distrito, como na área do 7º DP (Lapa), na zona noroeste.

O estudo do instituto Fernand Braudel reconhece que a amostra de dois anos de desempenho é pequena e recomenda uma segunda etapa para tentar descobrir quais foram as experiências das bases que mais deram certo. ""Serve para indicar locais onde o experimento está dando resultados", afirma José Vicente da Silva.

A cidade foi dividida em oito grandes regiões para análise de crimes onde há ou não policiamento comunitário, que correspondem às Delegacias Seccionais da Polícia Civil -o setor que tem os números oficiais de crimes.

A avaliação mostrou que determinadas regiões tiveram resultados significativamente melhores, enquanto em outras o impacto foi pequeno.

Em relação aos roubos, as 1ª e 8ª Seccionais -Centro e São Mateus- sofreram impacto modesto. A área central é a recordista em roubo na cidade, segundo a Secretaria da Segurança Pública.

Os índices de homicídio foram bastante desfavoráveis na 1ª e 7ª
Seccionais -Centro e Itaquera (zona leste da capital).

Na 7ª Seccional, por exemplo, o conjunto de DPs com bases comunitárias registrou, em 98, crescimento de homicídios equivalente a três vezes o das áreas sem bases, segundo a pesquisa.

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