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25/12/2000
-
08h14
GABRIELA ATHIAS
da Folha de S.Paulo
A periferia das zonas sul e leste da cidade de São Paulo é citada na mídia como palco de violência, porque ali ocorrem com frequência chacinas, brigas de gangue, tráfico de drogas e ali vivem adolescentes infratores. O que a maioria das pessoas desconhece é que nessa periferia existem bairros que sediam projetos comunitários feitos por gente que tenta construir um dia-a-dia melhor e que muitas vezes trabalha por pouco ou nenhum dinheiro.
Alguns projetos são formalizados como organizações não-governamentais e podem receber recursos de outros países.
No caso da periferia de São Paulo, a maioria usa a estrutura dos centros comunitários, geralmente vinculados à Igreja Católica, e sobrevive basicamente de convênios feitos com o poder público.
A organização da sociedade civil, fenômeno que vem se consolidando há dez anos em todo o país, já está contribuindo efetivamente para melhorar a qualidade de vida na periferia paulistana.
Na zona sul da cidade, por exemplo, os pais se organizaram em associações como a dos "Sem-Vaga" e dos "Pais do Jardim Eliana" para lutar por vagas nas escolas públicas. Aprenderam a usar a mídia para pressionar governos.
Hoje, na zona sul, a principal reclamação dos pais de alunos, de 1ª à 8ª séries, é que a escola é longe de casa e eles não têm condições de pagar transporte. A falta de vagas foi resolvida.
Nas regiões onde há maior organização comunitária, os centros mantêm creches, programas de alfabetização, de reforço escolar, de recuperação de adolescentes infratores, de profissionalização e até de atendimento à população da terceira idade.
Nem sempre as estatísticas sobre as ONGs associadas à Abong (Associação Brasileira de Organizações Não Governamentais) refletem a realidade dos projetos da periferia. Mas dão uma pista sobre as tendências do setor.
Uma pesquisa feita pelo Iser (Instituto de Estudos da Religião, no Rio) em conjunto com a Universidade Johns Hopkins, em Baltimore, mostra que, em 24 países pesquisados, incluindo o Brasil, as ONGs que mais empregam pessoas são as da área social.
Segundo a pesquisa, o aumento da mão-de-obra empregada por ONGs no país, entre 91 e 95, chegou a 46,16%. No mesmo período, o aumento de pessoal na iniciativa privada ficou em 27,09%.
Independentemente das diferenças, as instituições do terceiro setor enfrentam o mesmo desafio: ver seu projeto virar modelo de política pública.
Por exemplo: o objetivo é que o projeto que atende, com sucesso, cem adolescentes carentes da favela Santa Madalena, na zona leste, seja copiado e adaptado pelo poder público para os garotos de toda a região.
Alguns projetos chegaram lá, como a Pastoral da Criança, ligada à CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil).
O trabalho das agentes de saúde, que pesam e acompanham o desenvolvimento das crianças de 0 a 1 ano de idade, reduziu em mais de 50% a mortalidade infantil no sertão nordestino.
Há alguns anos, o trabalho passou a ser financiado pelo Ministério da Saúde. O modelo das agentes foi incorporado no Programa de Saúde da Família, implantada pelo governo em regiões pobres.
A Folha selecionou três projetos sociais da capital, em bairros cuja principal marca são os indicadores de violência: Parque Santo Antônio e Jardim Ângela (zona sul) e Ermelino Matarazzo (zona leste).
Periferia se organiza e cria projetos sociais
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da Folha de S.Paulo
A periferia das zonas sul e leste da cidade de São Paulo é citada na mídia como palco de violência, porque ali ocorrem com frequência chacinas, brigas de gangue, tráfico de drogas e ali vivem adolescentes infratores. O que a maioria das pessoas desconhece é que nessa periferia existem bairros que sediam projetos comunitários feitos por gente que tenta construir um dia-a-dia melhor e que muitas vezes trabalha por pouco ou nenhum dinheiro.
Alguns projetos são formalizados como organizações não-governamentais e podem receber recursos de outros países.
No caso da periferia de São Paulo, a maioria usa a estrutura dos centros comunitários, geralmente vinculados à Igreja Católica, e sobrevive basicamente de convênios feitos com o poder público.
A organização da sociedade civil, fenômeno que vem se consolidando há dez anos em todo o país, já está contribuindo efetivamente para melhorar a qualidade de vida na periferia paulistana.
Na zona sul da cidade, por exemplo, os pais se organizaram em associações como a dos "Sem-Vaga" e dos "Pais do Jardim Eliana" para lutar por vagas nas escolas públicas. Aprenderam a usar a mídia para pressionar governos.
Hoje, na zona sul, a principal reclamação dos pais de alunos, de 1ª à 8ª séries, é que a escola é longe de casa e eles não têm condições de pagar transporte. A falta de vagas foi resolvida.
Nas regiões onde há maior organização comunitária, os centros mantêm creches, programas de alfabetização, de reforço escolar, de recuperação de adolescentes infratores, de profissionalização e até de atendimento à população da terceira idade.
Nem sempre as estatísticas sobre as ONGs associadas à Abong (Associação Brasileira de Organizações Não Governamentais) refletem a realidade dos projetos da periferia. Mas dão uma pista sobre as tendências do setor.
Uma pesquisa feita pelo Iser (Instituto de Estudos da Religião, no Rio) em conjunto com a Universidade Johns Hopkins, em Baltimore, mostra que, em 24 países pesquisados, incluindo o Brasil, as ONGs que mais empregam pessoas são as da área social.
Segundo a pesquisa, o aumento da mão-de-obra empregada por ONGs no país, entre 91 e 95, chegou a 46,16%. No mesmo período, o aumento de pessoal na iniciativa privada ficou em 27,09%.
Independentemente das diferenças, as instituições do terceiro setor enfrentam o mesmo desafio: ver seu projeto virar modelo de política pública.
Por exemplo: o objetivo é que o projeto que atende, com sucesso, cem adolescentes carentes da favela Santa Madalena, na zona leste, seja copiado e adaptado pelo poder público para os garotos de toda a região.
Alguns projetos chegaram lá, como a Pastoral da Criança, ligada à CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil).
O trabalho das agentes de saúde, que pesam e acompanham o desenvolvimento das crianças de 0 a 1 ano de idade, reduziu em mais de 50% a mortalidade infantil no sertão nordestino.
Há alguns anos, o trabalho passou a ser financiado pelo Ministério da Saúde. O modelo das agentes foi incorporado no Programa de Saúde da Família, implantada pelo governo em regiões pobres.
A Folha selecionou três projetos sociais da capital, em bairros cuja principal marca são os indicadores de violência: Parque Santo Antônio e Jardim Ângela (zona sul) e Ermelino Matarazzo (zona leste).
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