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07/01/2001 - 08h27

Para geógrafa, favelização "é fato consumado"

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da Folha de S.Paulo

Especialista em geografia urbana e autora do texto sobre a questão urbana no Atlas Nacional do Brasil (IBGE), Fany Davidovich considera favela "um fato consumado nas grandes metrópoles", agravado pela influência da TV.


Folha - Embora São Paulo tenha mais favelas, o Rio ainda é mais associado a elas. Por quê?

Fany Davidovich - É um direito de antiguidade. A favela é mais antiga na paisagem urbana do Rio. E faz parte da poesia, da literatura, da música da cidade de uma forma idealizada, romântica. Em São Paulo, ela é mais recente e sempre ficou muito longe da cidade central. O Rio é uma cidade mais democrática. Há melhor exemplo do que a casa do Roberto Marinho (no Cosme Velho, zona sul), que é o entorno da favela?

Folha - O que explica esse processo de favelização no país?

Fany - É difícil dar uma resposta generalizante. Mas há alguns pontos convergentes desse processo. O abandono do campo e a falta de cidades de porte intermediário. A modernização do campo expulsou a mão-de-obra. Só que, antigamente, ia tudo para RJ e SP, agora eles vão a outras cidades.

Folha - Para muitos, favela é sinônimo de problema...

Fany - A favela é parte da produção da cidade brasileira. Se você tem uma produção de uma cidade que tem elites, classe média, classes operárias e tudo o mais, a favela é parte disso. Ela é uma expressão da sociedade brasileira.

Folha - No passado, para muitos a saída era a remoção. Hoje, parece ser a urbanização.

Fany - Tem que urbanizar. Há condições terríveis de existência dentro de favelas. Mas o que adianta fazer uma bela urbanização na favela e ter gente lá que não vai poder arcar com impostos? Urbanização significa tributos.

Folha - E o nascimento de novas favelas deve ser tolerado?

Fany - Como impedir uma população de sobreviver se essa é a forma de sobrevivência? Todos têm direito à cidade. Favela é um fato consumado nas grande metrópoles. A saída seria oferecer uma alternativa digna. Como não se apresentam alternativas, os governos têm fechado os olhos. Houve um tempo em SP no qual o governo dava passagem para migrantes e os mandavam para Campo Grande. São atitudes fascistas, mas eram alternativas.

Folha - Há favelas que estão se expandido, desmatando. A Rocinha, na zona sul do Rio, por exemplo, está crescendo em cima de encostas e da mata.

Fany - É preciso lembrar que há condomínios de classe média alta que se apropriaram de encostas e vivem na ilegalidade. As invasões não são só de gente pobre. Inúmeras cidades brasileiras foram construídas na base da invasão. A Barra da Tijuca (zona sul do Rio) é um excelente exemplo.

Folha - Quais são os detonadores do processo de favelização?

Fany - A TV é um agente incrível de mobilização da população pelos serviços e bens urbanos. Há essa vontade de viver uma vida que é divulgada pelos meios de comunicação como tendo oportunidades melhores de sobrevivência. É interessante perguntar a um morador de favela se ele quer voltar a seu lugar de origem. É difícil ouvir uma resposta positiva. Por pior que sejam as condições, a cidade oferece um sonho.

 

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