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07/01/2001 - 09h28

EUA testam nova droga contra o câncer

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CÉLIA CHAIM
da Folha de S.Paulo

A agência americana FDA (Food and Drug Administration) aprovou recentemente a utilização de um novo fotossensibilizador (produto químico sensível à luz) capaz de matar células malignas do corpo humano.

A chamada terapia fotodinâmica (PDT do inglês) é uma nova modalidade terapêutica e soma-se à radioterapia e/ou quimioterapia na luta contra o câncer.

A PDT envolve a interação simultânea de um fotossensibilizador, luz (em geral proveniente de um laser) e oxigênio molecular (já existente nas células).

O fotossensibilizador, uma vez injetado no paciente, tem a capacidade de ficar retido mais tempo nas células malignas do que nas células normais ao seu redor.

Esse intervalo de tempo, que depende das características do próprio fotossensibilizador e do tecido a ser tratado, gira em torno de 48 horas.
A região é então iluminada com um laser, e sua energia é absorvida pelo fotossensibilizador e transferida para o oxigênio molecular presente nas "células alvo", desencadeando uma cascata de eventos, como produção de oxigênio num estado "excitado" (chamado oxigênio singlete), que induzem a morte celular.

É uma técnica interdisciplinar que promove estreito envolvimento da área médica, áreas básicas da ciência (física, química e biologia) e áreas tecnológicas.

O tratamento funciona assim: o paciente recebe na veia o químico, que se espalha por todas as células de seu corpo. Em seguida, as células sadias começam a expelir o medicamento.

O paciente, então, volta para casa com a recomendação de não expor nem os dedos dos pés ao sol durante uma semana, sob pena de enfrentar sofrimento semelhante ao provocado por queimaduras de segundo e terceiro graus.

Após 36-48 horas, o momento em que a maior quantidade do medicamento se encontra preferencialmente nas células tumorais, ele retorna ao hospital.
Demarcada a área-alvo, aplica-se um laser de cor vermelha (cor no espectro visível de maior penetração no tecido humano).

O tratamento luminoso pode variar entre 10 e 60 minutos, é indolor e não requer internação. Após a aplicação do laser, o paciente volta para casa ainda com a proibição de se expor ao sol -que pode durar até um mês.
A vantagem da técnica é que não possui os efeitos colaterais inerentes à radiação ionizante e/ou à quimioterapia, e pode ser repetida tanto quanto necessário.

Com a aprovação do Photofrin (primeira geração de fotossensibilizadores) para o câncer de esôfago (1995) e para o câncer de pulmão (1998), houve um grande interesse por parte de várias universidades e companhias químicas de todo o mundo para pesquisar novos agentes fotodinâmicos.

O objetivo é obter produtos mais puros, com maior poder de retenção no tecido maligno e absorção luminosa máxima. Além disso, busca-se uma eliminação mais rápida no tecido normal, diminuindo a sensibilidade do paciente à luz solar (a grande desvantagem dos fotossensibilizadores de primeira geração, que exigem proteção total do sol por um mês, em geral).

O Pc 4 (Silicon Phthacyanine 4) é uma arma promissora nesse novo conceito de tratamento médico. Essa segunda geração de fotossensibilizadores vem sendo testada em sistemas celulares e em animais há alguns anos.

Foi inteiramente desenvolvida na Case Western Reserve University (CWRU), em Cleveland, que é responsável pela avaliação da droga e promove com exclusividade os estudos pré-clínicos.

Seus resultados promissores levaram o National Cancer Institute (NCI) americano a aprovar os testes clínicos em seres humanos no University Hospitals of Cleveland, que faz a avaliação e o recrutamento dos pacientes. Os testes começam neste mês com vários voluntários.

É uma conquista assinada por um trabalho de equipe envolvendo pesquisadores e clínicos, inclusive o físico brasileiro Valdir Carlos Colussi, de uma família de Santa Rita do Passa Quatro, no interior de São Paulo, um dos principais estudiosos dessa segunda geração de fotossensibilizadores.

"Os resultados são significativos no sentido de dar um enorme passo rumo à cura do câncer", diz Colussi. Ele mora nos EUA há quatro anos, é Ph.D em ciências médicas pela Unicamp e trabalha no University Hospitals of Cleveland como fisico-médico.

Colussi conta que a pesquisa em animais ocorreu até 1999. Foi o chamado período pré-clínico, iniciado em 1994. A liberação do Pc 4 para testes em seres humanos foi obtida em novembro. O prazo de experimentação vai até 2004.

A partir de agora, os cientistas do hospital americano aplicarão o Pc 4 aprovado em câncer metastático de pele (aquele que é recorrente de outros locais).

De 2004 em diante, se os testes forem bem sucedidos, a droga será testada em outras regiões do corpo humano, como esôfago, pulmão, cérebro e próstata.


 

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