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09/01/2001 - 04h24

Sem-teto vai ganhar banheiro em viaduto

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ESTANISLAU MARIA, da Folha de S.Paulo

Como não tem pessoal, dinheiro nem estrutura para tirar já as pessoas que moram debaixo dos viadutos de São Paulo, a prefeitura pretende instalar banheiros públicos nesses locais, para dar condições mínimas aos sem-teto.

A informação foi dada ontem pelo titular da Secretaria de Assistência Social (SAS), Evilásio Farias, que disse ser impossível, com a situação financeira da secretaria, cumprir antes de seis meses o primeiro decreto assinado pela prefeita Marta Suplicy.

No último dia 2, Marta regulamentou uma lei que amplia programas e serviços para atendimento a moradores de rua.

Farias disse que descarta a colocação de banheiros móveis -usados no Carnaval- porque o aluguel é caro. "Procuramos construções pré-fabricadas." Ele disse não ter ainda um levantamento de onde seriam instalados nem o número de banheiros.

"Estamos negociando com as Secretarias do Meio Ambiente e de Obras a instalação de banheiros nos locais de maior concentração", disse o secretário. O orçamento da secretaria, que ainda mantém as creches da cidade, para obras e reformas é de R$ 1,8 milhão. "Dá para fazer duas creches para 150 crianças", disse Farias. Cerca de 104 mil crianças de até 3 anos esperam uma vaga.

"As pessoas expulsas (dos viadutos) estão voltando", disse Farias, referindo-se às ações do deputado Arnaldo Faria de Sá, que, como secretário de Governo do ex-prefeito Celso Pitta, no ano passado, ordenou a retirada dos moradores dos viadutos.

Segundo dados da prefeitura, 8.704 pessoas vivem nas ruas, sendo 5.000 na região central.

No viaduto Alcântara Machado, por exemplo, que foi esvaziado depois de um incêndio que matou uma pessoa e destruiu 75 barracos, em outubro de 1999, 18 famílias já estão morando novamente. "Não temos escolha", disse o catador de papel José Pedro dos Santos, 25, que voltou com a mulher, Tamara, 20, grávida de três meses, e a filha, de 1 ano e meio.

Santos disse que passou por outros viadutos, mas enfrentou brigas, foi roubado e até ameaçado de morte. Ele era jardineiro, mas foi morar na rua depois de perder o emprego em 1999. Nas idas e vindas, ele e a mulher ainda perderam os documentos.

Os viadutos Pedroso, Mofarrej, José Maria Whitaker e Vereador José Diniz também já voltaram a ser abrigo de moradores de rua.

"Algumas ações simples, como um serviço de emissão de documentos, vacinação dos idosos e adaptação de uma casa-abrigo (são dez na cidade, que oferecem banho e até 1.260 refeições por dia) para receber pessoas em tratamento médico, nós podemos fazer logo", disse o secretário, que descarta a criação de um conjunto habitacional para os sem-teto.

"Não vamos criar um gueto. Queremos uma política de inclusão, com geração de emprego e renda e cadastramento dessas pessoas nos programas de habitação já existentes", disse Farias.

Nesta semana, representantes dos sem-teto se reúnem com a administradora regional da Sé, Clara Ant, para pedir a desapropriação de prédios que estão virando estacionamento. "Bons espaços guardam carro, enquanto as pessoas vão para debaixo dos viadutos", disse Luiz Gonzaga da Silva, 51, um dos coordenadores da Central de Movimentos Populares.

"Vou indicar um arquiteto, com contato com as Secretarias da Habitação e da Assistência Social para cuidar exclusivamente dos moradores de rua", disse Clara Ant.
 

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