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14/01/2001 - 04h12

"Maníaco do parque" diz que será absolvido

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RITA MAGALHÃES, do Agora São Paulo

Chico, como faz questão de ser chamado o preso Francisco de Assis Pereira, ficou conhecido como "maníaco do parque" por ter estuprado e estrangulado mulheres no parque do Estado (zona sudoeste de SP). Ele disse que matou 15 mulheres em 1997 e que só não fez outras dezenas de vítimas porque elas não caíram no "conto do vigário".

Ele concedeu entrevista na tarde da última quarta-feira em sua cela solitária no Centro de Detenção Provisória, onde está preso temporariamente. Chico foi transferido da Casa de Custódia de Taubaté, no último dia 17, após uma rebelião de 36 horas que resultou na morte de nove detentos jurados de morte e na destruição parcial da casa de segurança máxima.

No primeiro dia do motim, a Secretaria da Segurança Pública chegou a anunciar sua morte à imprensa. Leia a seguir os principais trechos da entrevista.

Pergunta - Como foi a rebelião na Casa de Custódia em Taubaté?
Francisco de Assis Pereira -
Tudo que sei dizer é que estava jejuando e orando quando a rebelião estourou do lado de fora. Eu estava ajoelhado ao lado da minha cama, quando os presos arrebentaram os cadeados e invadiram a minha cela, que ficava de frente para o pátio das visitas. Eles me renderam e me obrigaram a desfilar no meio dos presos. Quando eles iam começar a me espancar, o líder da rebelião gritou: "Não ponham a mão nele. Não relem no Chico".

Pergunta - E qual foi a reação do grupo?
Pereira -
Eles me levaram de volta para a cela, juntamente com os outros nove jurados de morte. Estávamos reunidos ali, prontos para morrer. Fiquei mais de dois dias (36 horas) no meio deles falando do amor de Jesus e do que Deus tinha feito na minha vida, como tinha me resgatado das mãos do diabo.

Pergunta - Nesse período houve uma ciranda da morte. Como ela aconteceu?
Pereira -
As mortes aconteceram porque aqueles nove jurados de morte tinham pisado na bola com os presos da casa (líderes do PCC, Primeiro Comando da Capital). Nos momentos de tensão e pavor, os ameaçados, em vez de se calarem, retrucavam aumentando a fúria dos presos.

Pergunta - Você ficou no meio dos presos rebelados e ninguém tentou nada contra você?
Pereira -
Não. Enquanto os outros eram maltratados, o líder me abraçou e disse que nada aconteceria comigo. Ele falava para os amigos me deixarem em paz porque o problema deles não era comigo. Me deram alimento e conversaram comigo educadamente.

Pergunta - Quem era o líder? Nome ou apelido.
Pereira -
Eu não sei. Não o conhecia nem procurei saber quem ele era. Agradeço pelo que fez por mim.

Pergunta - O que os rebelados falavam para os jurados de morte?
Pereira -
Diziam que iam pensar em quem deixariam escapar dali com vida. As ameaças não eram blefes, eram reais e criava um clima de horror dentro da cela.

Pergunta - Você conseguiu que alguém ouvisse sua pregação?
Pereira -
Sim. O mais ameaçado de todos estava apavorado, mas me ouvia atentamente.

Pergunta - Quando você se converteu?
Pereira -
Me converti assim que cheguei à Casa de Custódia em meados de 98. Recebi um arsenal bíblico e comecei a ler aquilo com desconfiança, sem querer me entregar. Até que encontrei o "velho" Chico na palavra de Deus.

Pergunta - O que você sentia?
Pereira -
Quando via uma mulher bela e atraente, eu só pensava em comê-la. Não só sexualmente. Eu tinha vontade de comê-la viva, comer a carne. Me aproximava das meninas como um leão se aproxima da presa. Eu era um canibal. Jogava tudo o que eu podia para conquistá-la e levá-la para o parque, onde eu acabava matando e quase comendo a carne. Eu tinha uma necessidade louca de mulher, de comê-la, de fazê-la sentir dor. Eu pensava em mulher 24 horas por dia.

Pergunta - Você nunca usou a força para que elas fossem até lá?
Pereira -
Jamais. Todas que chegaram lá foram porque quiseram.

Pergunta - Todas as suas investidas deram resultado?
Pereira -
Não. Tentei convencer outras dezenas que não me deram bola, recusaram mesmo, foram resistentes. A essas meninas, eu agradecia mentalmente por não me deixar matá-las. Era uma briga interior muito grande. Um lado meu queria matar e o outro, bem mais fraco, não.

Pergunta - Você será julgado pelas mortes. Qual a pena que você espera para seus crimes?
Pereira -
Mais nenhuma. Eu fui lapidado, purificado. Na madrugada do dia 14 de abril de 99, tive uma visão celestial. Era Deus em forma de vento forte me dando prova viva que nasci de novo. Por isso tenho fé, certeza absoluta de que vou ser absolvido. Eu me arrependi verdadeiramente dos meus pecados, que foram pagos por Jesus Cristo, quando morreu na cruz. Eu tenho convicção de que nenhum juiz ou jurado vai me condenar. O poder sobrenatural de Deus vai fazê-los enxergar que aquele Chico criminoso morreu e que o que está aqui é alguém que quer distribuir amor.

Pergunta - Quais são seus planos fora da prisão?
Pereira -
Constituir uma família. Me casar, ter uma mulher e uma filha. Sempre adorei crianças e as tratei muito bem enquanto era instrutor de patins.

Pergunta - Você crê que os pais das suas vítimas possam te perdoar?
Pereira -
Se eles seguirem os mandamentos de Deus, sim.
 

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