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16/01/2001 - 03h26

Raio mata 2 adolescentes no Villa-Lobos

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da Folha de S.Paulo

Dois adolescentes morreram depois de serem atingidos por descargas de raios dentro do parque Villa-Lobos (zona sudoeste), durante um forte temporal em São Paulo. Uma terceira vítima continuava internada ontem.

Os três estavam entre os cerca de 30 mil paulistanos que passaram anteontem pelo parque -o segundo em tamanho na capital, com 750 mil m2 de área, o equivalente a cem campos de futebol.

Renata Baudívia, 12, e Daniel Souza dos Santos, 15, foram levados ao pronto-socorro da Lapa (zona noroeste), mas não resistiram. Osmann de Melo Ramos, 15, foi internado no Hospital Professor Mário Degni, ficou 15 horas na UTI e apresentou sinais de melhora ontem à tarde.

Outras duas pessoas foram atendidas após a descarga de raios: uma menina que teve paralisia em um braço e uma mulher com crise nervosa.

O Villa-Lobos, repleto de árvores e com poucas construções altas à sua volta, é considerado de risco em dias de temporal, segundo especialistas, assim como outros parques da capital. Na falta de pára-raios, árvores e pontos elevados do terreno são os principais alvos das descargas elétricas.

Sofrimento
Santos e Ramos estavam no parque com outro amigo, José Adauton Euflausino da Fonseca, 14, quando o temporal se formou, por volta das 16h30. Assim que a chuva começou, os três se esconderam embaixo de um quiosque.

Como os relâmpagos pareciam cada vez mais próximos, eles resolveram procurar outro abrigo mais seguro. "Foi como se eu tivesse levado uma paulada na perna; aí desmaiei", disse Fonseca, ao descrever o momento em que eles foram atingidos pela descarga.

O rapaz não sabe quanto tempo ficou desacordado, com os dois companheiros caídos ao lado. Só depois é que ele saiu à procura de ajuda. A PM os socorreu.

Em outro canto do parque, Renata brincava com primos e tios, em um campo de futebol. Na hora da chuva, como não havia lugar para se proteger, segundo disseram seus parentes, ela e outras 30 pessoas correram pelo descampado. A jovem caiu, ainda vida, depois de ser atingida por um raio.

Outro lado
A Secretaria de Estado de Esportes e Turismo, responsável pelo parque, informou que o procedimento padrão é pedir a saída das pessoas do local sempre que há um forte temporal. O primo de Renata, Ademir Matias Maia, 36, no entanto, disse que nenhum funcionário avisou do perigo dos raios ou orientou os frequentadores para que eles saíssem.

Segundo a arquiteta Sílvia Cordeiro, da administração do parque, os quatro adolescentes atingidos pelos raios estariam na área perto do portão principal, onde existem 12 pára-raios. No total, há 22 deles instalados no lugar.

Pela descrição de um dos garotos atingidos, eles estariam perto do 23º Batalhão da Polícia Militar, em um campo cheio de quiosques (alguns em construção), onde não há pára-raios por perto. O mais próximo fica em cima do banheiro e tem a metade da altura dos demais, cerca de dois metros.

Os quiosques estão próximos do campo onde estava Renata.

Risco
Em áreas abertas, como a do parque, as pessoas podem servir de pára-raios. É o "efeito das pontas", diz a física Rosangela Barreto Biasi Gin, 35, do Instituto Astronômico e Geofísico da USP (Universidade de São Paulo).

No momento da descarga do raio, as partículas elétricas das nuvens se chocam com as do solo, gerando a energia que pode ferir, como aconteceu no parque Villa-Lobos. O pára-raio, no caso, ou a vítima atingida, transformam-se em um tipo de ""fio", por meio do qual passam as cargas.

De acordo com Rosangela, também há risco para quem está perto do ponto de incidência do raio. Isso porque o corpo está em contato com o solo, por onde a energia circula, e pode ocorrer o que se chama ""choque".

O pior raio para as pessoas, diz a física, é o que sai do solo em direção à nuvem. É impossível saber onde haverá a descarga, mas já existem aparelhos que identificam o acúmulo de cargas em determinada área cerca de 10 a 15 minutos antes de o raio cair.

Segundo o Contru (Departamento de Controle do Uso de Imóveis), que fiscaliza pára-raios em São Paulo, falta na legislação exigências para parques do tamanho do Villa-Lobos. A lei existente trata apenas das edificações para grandes aglomerações, como estádios ou recintos de exposição.

"A área é muito grande e tecnicamente seria inviável um projeto de instalação de pára-raios em todo o parque", disse o diretor do Contru, Clayton Claro da Costa.

Um pára-raio tipo "Franklin", o mais comum, cobre uma área limitada, correspondente a um cone. Quanto mais alto, maior a área de cobertura contra raios.

No parque, seria mais apropriado haver abrigos com pára-raios desse tipo, além de sensores que identificam o aumento do campo magnético na superfície, segundo o engenheiro eletricista Arnaldo Lambertini Turtelli, 48, que participou das discussões da ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) para rever a norma de segurança sobre raios.
(ALESSANDRO SILVA, ALENCAR IZIDORO, MARIANA VIVEIROS E MELISSA DINIZ)
 

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