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31/01/2001
-
17h33
ALESSANDRO SILVA
da Folha de S.Paulo
O mesmo funcionário da Anistia Internacional que se apresentou como vítima de um atentado a bomba no ano passado, em São Paulo, foi indiciado hoje pela polícia como sendo o responsável pela série de pacotes explosivos enviados a entidades de direitos humanos na capital.
Pela caligrafia dos bilhetes que acompanhavam os cilindros com pólvora, peritos concluíram que o professor de educação física José Eduardo Bernardes da Silva, 40, deu início ao ciclo de terror.
Na semana que antecedeu o feriado de 7 de Setembro, a Anistia e a Associação da Parada do Orgulho GLBT (gays, lésbicas, bissexuais e transgêneros) receberam pacotes-bombas pelo correio, supostamente de skinheads.
Foram três as bombas atribuídas ao suposto grupo no intervalo de um ano. Silva recebeu duas e a Associação da Parada do Orgulho GLBT, a outra.
Ninguém se feriu porque o esquadrão antibombas da polícia detonou os artefatos.
As duas últimas bombas apareceram com várias cartas recebidas pela Secretaria da Segurança Pública, órgãos de imprensa e Câmara Municipal e Assembléia, anunciando que haveria uma ofensiva contra homossexuais, negros e nordestinos.
Silva está fora do país, provavelmente na Espanha, desde os atentados. Ele foi retirado do Brasil pela entidade, em razão das ameaças que ajudou a difundir, e hoje vive com ajuda de custo dela.
"O laudo grafotécnico mostra que ele (Silva) fez as ameaças", afirmou hoje o secretário da Segurança Pública do Estado, Marco Vinicio Petrelluzzi.
O professor irá responder a inquérito por tentativa de homicídio, falsa comunicação de crime e pelo envio de explosivos. Ele será convocado a voltar ao Brasil, por meio da Anistia, e pode ter a prisão preventiva decretada.
Em um ano, desde que levou a polícia até a primeira bomba, Silva relatou ter escapado de cercos nas ruas de São Paulo, de grupos de skinheads, e que recebia constantes telefonemas ameaçadores em razão do seu trabalho.
A polícia ainda desconhece os motivos que o acusado teria para planejar os atentados. Um deles, segundo Petrelluzzi, seria o interesse de "subir" dentro da Anistia.
Risco
De acordo com o delegado Marcos Ricardo Parra, a bomba não explodiria com a abertura do pacote. "O material empregado, pólvora, é sensível ao calor e ao atrito. Pela quantidade, poderia ter lesionado ou até mesmo matado funcionários dos Correios."
Peritos do Instituto de Criminalística compararam a letra das cartas das bombas com cheques e documentos da própria Anistia que tinham a caligrafia de Silva.
"A escrita é sua impressão digital", afirmou a perita do Instituto de Criminalística Virgínia Lúcia Camargo Nardy Telles.
Funcionários dos Correios onde as bombas foram despachadas, segundo a polícia, ainda descreveram Silva e sua moto ao lembrar quem havia postado os pacotes.
Um membro da Anistia Internacional esteve com o secretário e outras entidades de direitos humanos antes de o resultado da investigação ser divulgado.
A Folha não conseguiu falar com esse representante, que deixou a secretaria antes do final da reunião. A assessoria da Anistia, em Porto Alegre, informou hoje que não iria se manifestar.
Amanhã, o escritório em Londres deve falar sobre o assunto.
"Não podemos condenar ou desacreditar o trabalho da Anistia por um ato isolado de um mero funcionário", disse Ariel de Castro Alves, coordenador do Movimento Nacional de Direitos Humanos em São Paulo.
"Chegou-se a uma pessoa e ela tem de ser responsabilizada. Isso não retira o risco que os skinheads representam", afirmou Roberto de Jesus, 38, presidente da Associação da Parada do Orgulho GLBT.
Colaborou ANTONIO GOIS, da Folha de S.Paulo
Leia mais:
Representante da Anistia teria enviado bomba para seu endereço
Laudo responsabiliza ex-representante da Anistia por atentados
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da Folha de S.Paulo
O mesmo funcionário da Anistia Internacional que se apresentou como vítima de um atentado a bomba no ano passado, em São Paulo, foi indiciado hoje pela polícia como sendo o responsável pela série de pacotes explosivos enviados a entidades de direitos humanos na capital.
Pela caligrafia dos bilhetes que acompanhavam os cilindros com pólvora, peritos concluíram que o professor de educação física José Eduardo Bernardes da Silva, 40, deu início ao ciclo de terror.
Na semana que antecedeu o feriado de 7 de Setembro, a Anistia e a Associação da Parada do Orgulho GLBT (gays, lésbicas, bissexuais e transgêneros) receberam pacotes-bombas pelo correio, supostamente de skinheads.
Foram três as bombas atribuídas ao suposto grupo no intervalo de um ano. Silva recebeu duas e a Associação da Parada do Orgulho GLBT, a outra.
Ninguém se feriu porque o esquadrão antibombas da polícia detonou os artefatos.
As duas últimas bombas apareceram com várias cartas recebidas pela Secretaria da Segurança Pública, órgãos de imprensa e Câmara Municipal e Assembléia, anunciando que haveria uma ofensiva contra homossexuais, negros e nordestinos.
Silva está fora do país, provavelmente na Espanha, desde os atentados. Ele foi retirado do Brasil pela entidade, em razão das ameaças que ajudou a difundir, e hoje vive com ajuda de custo dela.
"O laudo grafotécnico mostra que ele (Silva) fez as ameaças", afirmou hoje o secretário da Segurança Pública do Estado, Marco Vinicio Petrelluzzi.
O professor irá responder a inquérito por tentativa de homicídio, falsa comunicação de crime e pelo envio de explosivos. Ele será convocado a voltar ao Brasil, por meio da Anistia, e pode ter a prisão preventiva decretada.
Em um ano, desde que levou a polícia até a primeira bomba, Silva relatou ter escapado de cercos nas ruas de São Paulo, de grupos de skinheads, e que recebia constantes telefonemas ameaçadores em razão do seu trabalho.
A polícia ainda desconhece os motivos que o acusado teria para planejar os atentados. Um deles, segundo Petrelluzzi, seria o interesse de "subir" dentro da Anistia.
Risco
De acordo com o delegado Marcos Ricardo Parra, a bomba não explodiria com a abertura do pacote. "O material empregado, pólvora, é sensível ao calor e ao atrito. Pela quantidade, poderia ter lesionado ou até mesmo matado funcionários dos Correios."
Peritos do Instituto de Criminalística compararam a letra das cartas das bombas com cheques e documentos da própria Anistia que tinham a caligrafia de Silva.
"A escrita é sua impressão digital", afirmou a perita do Instituto de Criminalística Virgínia Lúcia Camargo Nardy Telles.
Funcionários dos Correios onde as bombas foram despachadas, segundo a polícia, ainda descreveram Silva e sua moto ao lembrar quem havia postado os pacotes.
Um membro da Anistia Internacional esteve com o secretário e outras entidades de direitos humanos antes de o resultado da investigação ser divulgado.
A Folha não conseguiu falar com esse representante, que deixou a secretaria antes do final da reunião. A assessoria da Anistia, em Porto Alegre, informou hoje que não iria se manifestar.
Amanhã, o escritório em Londres deve falar sobre o assunto.
"Não podemos condenar ou desacreditar o trabalho da Anistia por um ato isolado de um mero funcionário", disse Ariel de Castro Alves, coordenador do Movimento Nacional de Direitos Humanos em São Paulo.
"Chegou-se a uma pessoa e ela tem de ser responsabilizada. Isso não retira o risco que os skinheads representam", afirmou Roberto de Jesus, 38, presidente da Associação da Parada do Orgulho GLBT.
Colaborou ANTONIO GOIS, da Folha de S.Paulo
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