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08/02/2001 - 05h51

Estudo avalia uso da maconha contra o crack

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AURELIANO BIANCARELLI, da Folha de S.Paulo

Uma pesquisa multicêntrica, que deve incluir pelo menos cinco grandes cidades, vai avaliar a eficácia da maconha na redução da dependência do uso do crack. A intenção é ampliar um estudo piloto feito em 99 pelo Proad, um programa de atenção a dependentes de droga da Universidade
Federal de São Paulo (Unifesp).

O estudo acompanhou 50 dependentes de crack que relatavam maior controle sobre essa droga quando fumavam maconha.

Depois de nove meses, 68% deles tinham deixado o crack e quase todos abandonaram também a maconha. O trabalho, coordenado pelo psiquiatra Eliseu Labigalini Júnior, foi publicado numa das importantes revistas americanas da área, o "Journal of Psychoactive Drugs", em dezembro de 99.

Os estudos estão entre as prioridades da Rede Brasileira de Redução de Danos (Reduc), uma associação que reúne ONGs que trabalham com dependentes de drogas injetáveis. O anúncio das pesquisas será feito na noite de amanhã durante evento no qual a Reduc apresentará para a sociedade civil suas propostas de ação.

"A intenção é mostrar que o princípio da redução de danos vai muito além da troca de seringas", diz a psicóloga Mônica Gorgulho, presidente da Reduc. O evento acontece no Centro de Convenções Rebouças, é aberto ao público e terá a presença de nomes como o jogador Raí, o ator Paulo Gorgulho, além de especialistas e autoridades da área da saúde.

Centros de tratamento universitários em Porto Alegre, Salvador e São Paulo já manifestaram interesse em participar das pesquisas. Como a maconha é uma droga ilícita, as instituições não poderão oferecê-la aos "pacientes". "Serão acompanhados aqueles que já fazem uso espontâneo da maconha", diz Dartiu Xavier da Silveira, coordenador do Proad.

"Estamos lidando com uma questão polêmica, ainda em estágio piloto", diz Xavier. Especialistas que condenam essa tese alegam que o dependente estará apenas trocando uma droga pela outra. "Estarão trocando uma metralhadora por um estilingue", rebate o coordenador do Proad.

O eventual sucesso desses projetos poderá levar a um "uso médico" da maconha, em programas controlados por instituições de saúde e autorizados por uma futura lei, diz Mônica Gorgulho.

O conceito de redução de danos começou ainda nos anos 20, na Inglaterra, quando médicos sugeriram controlar a oferecimento de heroína para dependentes. "Com a chegada da Aids, o conceito de redução de danos passou a ser adotado em muitos países", diz o médico Fábio Mesquita, que coordena o programa municipal de Aids e participa da direção da Associação Internacional de Redução de Danos. Só no Brasil, já existem cerca de 30 programas de troca de seringas para dependentes de droga injetável.

Segundo Mesquita, o conceito de redução foi ampliado. É o que estará sendo explicado no evento de amanhã. Uma das novidades é a redução de danos em dependentes de álcool, que será tratada em encontro internacional que o Brasil deve sediar este ano. Quem bebe corre riscos ao dirigir e ao fazer sexo sem camisinha. "Mulheres de homens que bebem serão incentivadas a se proteger da Aids e da violência", diz Mônica.
 

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